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115 anos da morte de Machado de Assis: 7 filmes baseados em suas obras

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Sem dúvida alguma, Machado de Assis perdura como um dos mais maiores escritores da literatura brasileira, assim como um dos grandes nomes da literatura lusófona, ao lado de Eça de Queirós, Camões, Fernando Pessoa, José Saramago, Pepetela, Mia Couto e outros, mesmo passados 115 anos desde o seu falecimento em 1908.

Entre suas obras de maior renome, encontram-se títulos como “Dom Casmurro”, “Quincas Borba”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, além de contos célebres, a exemplo de “O Alienista”.

Descendente de pessoas escravizadas que foram alforriadas, Joaquim Maria Machado de Assis cresceu em um ambiente de modéstia financeira e não teve acesso a uma educação formal. No entanto, movido por sua paixão pela literatura, ele conseguiu adquirir conhecimento de forma autodidata.

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No ano de 1860, iniciou sua colaboração com o “Diário do Rio de Janeiro”, e é dessa mesma década que provêm quase todas as suas comédias teatrais, bem como o livro de poemas “Crisálidas”. Posteriormente, Machado de Assis teve a oportunidade de explorar as obras da literatura portuguesa e inglesa. Na década subsequente, ele lançou uma série de romances que rapidamente conquistaram o reconhecimento tanto do público quanto da crítica.

Até aquele momento, a produção literária do autor era notavelmente marcada pelo romantismo. Contudo, na década subsequente, ele experimentou uma mudança em seu estilo e temas, dando início ao movimento realista no Brasil com a publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), seguida por obras como “Quincas Borba” (1891) e “Dom Casmurro” (1899), sendo este último amplamente reconhecido como sua obra-prima.

Nesse período, a ironia, o pessimismo, a crítica social e uma profunda reflexão sobre a sociedade emergiram como as características predominantes de sua escrita, que abrangia não apenas romances, mas também poemas, contos, traduções e peças teatrais.

No começo do século XX, depois de ter sido um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e de enfrentar a perda de sua esposa, Carolina, com quem se uniu em matrimônio em 1869, Machado de Assis começou a se isolar e sua saúde começou a declinar. Foi durante esse período que ele escreveu seus dois últimos romances, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”.

Machado de Assis faleceu em sua residência no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1908, e seu funeral foi acompanhado por uma grande multidão. Mesmo após um século, o escritor continua a ser admirado não apenas pelos brasileiros, com edições de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” publicadas em alemão, espanhol e inglês, o que destaca sua influência e alcance internacional.

 

Para homenagear seu legado, selecionei sete produções inspiradas em suas obras clássicas.

 

“A Cartomante” (2004), de Wagner de Assis

A adaptação de “A Cartomante”, realizada por Wagner de Assis, embora inicialmente indique ser baseada no conto de Machado de Assis nos créditos iniciais, apresenta diferenças em relação ao texto original. Estas incluem a introdução de novos personagens, modificações nas cenas e até mesmo uma alteração no desfecho da trama em comparação com a obra original. Contudo, a mudança que certamente se destaca aos olhos do espectador é a ambientação da história, que, originalmente publicada no final do século XIX, foi ajustada e adaptada para ocorrer nos dias atuais.

 

“Quincas Borba” (1988), de Roberto Santos

Baseado na obra homônima de Machado de Assis, o filme de Roberto Santos acompanha os passos de Rubião. O filósofo Quincas Borba, antes de morrer, deixa toda sua fortuna para seu amigo e discípulo Rubião. Nada habituado a tão alto nível de vida, o novo rico vai logo se apaixonando pela bela e desconhecida Sofia. O que ele nem desconfia é que ela é casada com o dominador Cristiano Palha. Juntos, marido e mulher fazem o possível para atrapalhar os negócios do despreparado Rubião. Quando descobre que Sofia nunca o amou, ele larga tudo e volta para sua pequena cidade. Acompanhado apenas por suas fantasias e por Quincas Borba, seu cachorro de estimação. “Quincas Borba” foi o último filme de Santos, que morreu em 1987.

 

“Azyllo Muito Louco” (1971), de Nelson Pereira dos Santos

Nesta adaptação livre do conto “O Alienista” de Machado de Assis, Nelson Pereira dos Santos mantém o tom da obra original, ao mesmo tempo que desconstrói a ambientação e os personagens. O filme retrata a construção de um sanatório em uma pequena cidade no século XIX e foi filmado em Paraty, com um elenco composto por Leila Diniz, Ana Maria Magalhães, Irene Stefânia, Nildo Parente (em sua estreia nos filmes de NPS) e Arduíno Colasanti. Os figurinos lisérgicos e alegóricos contribuem para evocar uma época marcada pelos anos mais sombrios do regime militar, que teve início em 1964, destacando internações e prisões sem sentido impostas por indivíduos obcecados pelo controle e poder, bem como as tentativas de resistência.

 

“Missa do Galo” (1982), de Nelson Pereira dos Santos

No curta-metragem “Missa do Galo” (1982), outra adaptação de um conto de Machado de Assis, a personagem feminina, interpretada por Isabel Ribeiro, se destaca por sua maior força em comparação com a representação no conto original de Machado. Ela está muito distante da figura quase “santa” que é apresentada de forma ambígua na obra de Machado. Isso ocorre porque, no conto original, ela parece resignada com o fato de seu marido a trair frequentemente. No filme dirigido por NPS, a personagem exibe uma ousadia muito mais evidente, que é retratada de maneira explícita. Em certos momentos, cheguei a pensar que ela e o jovem poderiam ter uma intimidade física mais intensa.

 

Memórias Póstumas de Brás Cuba” (2001), de André Klotzel

O filme “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, lançado em 2001, é uma adaptação do livro homônimo de Machado de Assis. Ele conquistou prémios no Festival de Gramado, incluindo o de melhor filme, melhor realização, melhor argumento e melhor atriz secundária. Além disso, recebeu três indicações para o Grande Prémio Festival de Cinema nas categorias de melhor argumento, melhor direção de arte e melhor fotografia. O filme mantém o mesmo estilo do livro, empregando um narrador em primeira pessoa. Reginaldo Faria encarna o papel do “defunto autor” de forma crível, incorporando à sua interpretação a ironia e o humor presentes na escrita de Machado. Uma agradável surpresa do filme é que uma grande parte do texto de Reginaldo Faria consiste em citações literais da obra do “Bruxo do Cosme Velho”.

 

“Capitu e o Capítulo” (2021), de Júlio Bressane

O filme, realizado por Júlio Bressane, é levemente inspirado na obra “Dom Casmurro”. Sua cadência tranquila permite aos espectadores adentrar nas cenas e apreciar as múltiplas formas de arte presentes na produção. Pinturas, músicas, sons e os próprios textos de Machado de Assis convergem para criar uma experiência cinematográfica que vai além da simples “dúvida” acerca da traição de Capitu. As diferenças temporais e de ritmo são incorporadas à essência do filme, e isso também está intrinsecamente ligado ao próprio texto de “Dom Casmurro”. Não é a primeira vez que essa obra é adaptada para o audiovisual brasileiro. Em 2003, o livro foi levado às telas no filme ‘Dom’, sob a direção de Moacyr Góes. Em 2008, a Rede Globo transmitiu os cinco episódios da minissérie ‘Capitu’, uma produção dirigida por Luiz Fernando Carvalho, lançada no centenário da morte do autor, que imortalizou Maria Fernanda Cândido no papel de Capitu.

 

“A Causa Secreta” (1994), de Sergio Bianchi

O filme “A Causa Secreta”, baseado no conto de Machado de Assis com o mesmo nome, narra uma pesquisa de campo realizada por atores que se preparam para sua próxima peça teatral. Sob a orientação do diretor da produção, o elenco se empenha em um estudo aprofundado sobre a dor, a miséria e a violência que permeiam o país. Enquanto exploram os corredores do Serviço Nacional de Saúde, hospitais públicos e as próprias ruas, eles deparam com indivíduos enfrentando inúmeras dificuldades. As reações dos atores variam, desde empatia até raiva, enquanto percebem um crescente sentimento de indiferença em relação ao sofrimento e à humilhação dos marginalizados.