17 filmes contra a LGBTI+fobia

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Hoje, 17 de maio, assinala-se o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e Transfobia. Celebra-se o dia em que a Organização Mundial da Saúde deixou de classificar a homossexualidade como um distúrbio mental da “Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde”, em 1990. Uma data que se celebra por mais de 130 países em todo o mundo, incluindo 37 dos quais o casamento entre pessoas do mesmo sexo é ilegal.

É também um dia de luta pelo direito à identidade, pela liberdade no amor, pela autodeterminação de género e contra todo o tipo de fobias, preconceitos e crimes de ódio a pessoas LGBTI+.

Em Portugal, a data é assinalada todos os anos com a Marcha LGBTI+ de Coimbra, organizada pela PATH – Plataforma AntiTransfobia e Homofobia, que costuma ser por tradição a primeira marcha do ano. No entanto, este ano, devido à pendemia, esta foi cancelada, assim como em outras cidades.

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Para assinalar a data e a luta pelos direitos LGBTI+, o Cinema Sétima Arte sugere 17 filmes contra todo o tipo de fobias LGBTI+. Uma lista versátil com clássicos e filmes independentes em que o cinema retratou com histórias reais as conquistas dos direitos LGBTI+, o sangrento combate contra a SIDA com testemunhos de quem sofreu na pele o preconceito e o ódio, mas conta também com histórias ficcionais que refletem os verdadeiros desafios do coming out, do primeiro amor, e da mudança de sexo. São filmes que refletem situações de desigualdade e descriminação no dia a dia das pessoas LGBTI+, apesar de já haver muita legislação que as defenda, em alguns países. O 17 de maio é, por isso, um dia de celebração pela conquista de direitos LGBTI+ e contra o preconceito a favor da identidade e/ou expressão de género, da orientação sexual, ou características sexuais. Eis 17 filmes (por ordem cronológica) que podem ajudar a combater a LGBTI+ fobia:

“Um Cântico de Amor” (1950), de Jean Genet
Um Cântico de Amor”, o único filme realizado por Jean Genet, é um ensaio poético sobre a homossexualidade. A história do relacionamento entre dois presos e do guarda que os observa, refletida num “erotismo lírico e desesperado”, foi censurada durante anos até ao final da década de setenta.

“Le F.A.H.R.” (1971), de Carole Roussopoulos
Em 1971, a Frente Homossexual de Ação Revolucionária (FHAR) participa na manifestação do 1.º de Maio. As imagens filmadas durante a manifestação pontuam os extratos de uma reunião pública em que se discutem as questões levantadas pelo movimento. Sendo a heterossexualidade normativa o reflexo da sociedade burguesa, a homossexualidade consciente representa uma força revolucionária. Mas, para além do conteúdo do discurso, o próprio facto de se exprimir publicamente é já um ato de libertação. Cada um fala de si próprio inscrevendo a sua história nos objetivos coletivos, o pessoal é político.

“Um Dia Inesquecível” (1977), de Ettore Scola
Nesta obra juntam-se Ettore Scola, Sophia Loren e Marcello Mastroianni num dos filmes mais íntimos do cinema italiano. Ambientado num bloco de apartamentos num bairro de Roma, no dia 6 de maio de 1938, dia em que Mussolini e Hitler se encontram pela primeira vez, todo o filme acompanha esse dia através de Antonietta (uma mulher doméstica que aguarda o regresso do marido, um fascista fanático) e do seu vizinho Gabriele (um locutor de rádio que foi despedido por ser homossexual e antifascista). Este é um filme que retrata os reprimidos da sociedade daquela época, as mulheres vítimas de uma sociedade machista e opressora e os homossexuais, vítimas, no fundo, do mesmo.

“Os Tempos de Harvey Milk” (1984), de Rob Epstein
Vencedor do Óscar para Melhor Documentário, este é um filme notável sobre a dramática e comovente história de Harvey Milk, o primeiro homossexual eleito para um cargo político na Califórnia. Recorrendo a imagens de arquivo, é um filme de esperança que relembra o tumultuoso clima social e político de São Francisco nos anos 70 e que presta homenagem aos corajosos que lutaram lado a lado com Harvey Milk e que marcaram fortemente a luta dos direitos LGBTI+ nos EUA. A título de curiosidade, deixamos ainda a sugestão de “Milk” (2008), de Gus Van Sant, que recria a vida política e a campanha do ativista Harvey Milk, e que valeu a Sean Penn o Óscar de Melhor Ator.

“A Caminho de Idaho” (1991), de Gus Van Sant
O terceiro filme de Gus van Sant é um dos seus melhores, um belíssimo poema visual e narrativo que conta com o excelente desempenho de Keanu Reeves e, claro, de River Phoenix. Uma história sobre dois jovens sem-abrigo e homossexuais que partem à procura da mãe de River. Um reflexo de uma geração marginalizada, num filme comovente e poético.

“Tudo sobre Minha Mãe” (1999), de Pedro Almodóvar
Um dos mais belos filmes de Almodóvar, conhecido por ter sempre personagens femininas fortes e que constrói o feminino a partir do olhar de um homossexual. Este filme sensível, dedicado às mulheres, que explora sobretudo o corpo, o desejo, o travestismo, a sida e a identidade sexual. O filme segue Manuela, uma mãe solteira que viu o seu filho morrer aos 17 anos. Com profunda dor, decide viajar para Barcelona à procura do pai do seu filho e descobre que este é um travesti e acaba por reencontrar Agrado, outro travesti que se prostitui na cidade e tenta recomeçar a vida sem o filho.

“Uivo” (2010), de Rob Epstein, Jeffrey Friedman
“Uivo” é um filme biográfico sobre o escritor Allen Ginsberg (James Franco), falecido em 1997, que foi uma das mais importantes vozes da comunidade gay norte-americana. O filme passa-se em 1957, em São Francisco, sobre a escrita do livro “Howl and Other Poems”, que após o seu lançamento, a polícia o apreendeu, argumentando que o livro continha palavras obscenas, iniciando um julgamento no tribunal contra o editor que publicou o livro. O lançamento do livro foi como uma bomba que caiu em cima dos conservadores. Foi de difícil aceitação, mas marcou um inicio, uma nova geração, uma nova sociedade, abriu portas a novas formas de se fazer arte, com mais liberdade de expressão. “Uivo” é um lamento de uma geração e um retrato da vida do poeta.

“Um Homem Singular” (2009), de Tom Ford
Esta é a primeira longa-metragem realizada pelo estilista Tom Ford e é um filme singular, que acompanha a história de George Falconer (Colin Firth), um professor universitário de literatura, de meia-idade e angustiado. Todo o filme é passado num único dia e nele vemos inúmeros flashbacks do passado de George. O filme é uma celebração da vida e do amor.

“Maria-Rapaz” (2011), de Céline Sciamma
Realizado pela francesa Céline Sciamma, conta a história de uma menina de dez anos, Laurie, que tem comportamentos tipicamente relacionadas ao género masculino. Com dificuldades em socializar, acaba por criar laços de amizade com Lisa, mas esta apaixona-se por Laurie, o que acaba por criar uma crise de identidade. Subtil e simples, faz uma boa reflexão sobre a distinção entre orientação sexual e identidade de género.

“Laurence Para Sempre” (2012), de Xavier Dolan
Esteve em competição no Festival de Cannes 2012, tendo arrecadado o prémio de interpretação feminina (Suzanne Clément) e é um dos melhores trabalhos do jovem cineasta canadiano Xavier Dolan. O filme, com uma boa banda sonora, acompanha Laurence, um professor de literatura, que tinha uma relação perfeita com a sua namorada, mas ao 30.º aniversário decide anunciar que se quer tornar mulher, “acolhendo uma nova perigosa vida em que o estigma social e o impacto familiar acabará por minar toda a sua vida.”

“Os Invisíveis” (2012), de Sébastien Lifshitz
Realizado por Sébastien Lifshitz, este é um filme delicado e emocionante sobre homens e mulheres nascidos no período entre as guerras, que optaram por viver sem esconderem a sua orientação sexual, numa sociedade francesa que os desprezava. Através deste retrato documental entre entrevistas (bastante intimas) e imagens de arquivo (pessoais e familiares), Sébastien Lifshitz tenta perceber como é que os homossexuais e bissexuais daquela geração conseguiram amar e viver em liberdade numa sociedade que os considerava portadores de uma anomalia e que os punha de lado.

“Orgulho” (2014), de Matthew Warchus
Decorre no ano de 1984, durante o período de Margaret Tatcher no poder, quando um grupo de mineiros galeses decidem entrar em greve. Quem se juntou à causa deles e os apoiou foi um grupo de ativistas LGBTI+, que conseguiu arrecadar mais dinheiro para a família desses trabalhadores. A luta dos mineiros e a luta LGBTI+ unem-se, levando a que a União Nacional dos Mineiros passe a participar todos os anos na Marcha do Orgulho Gay de Londres. “Orgulho” é uma comédia ligeira que se inspira numa história real e que recria aquilo que foi um dos momentos mais importantes da história dos direitos LGBTI+ no Reino Unido.

“Moonlight” (2016), de Barry Jenkins
Vencedor de três Óscares (Melhor Filme, Melhor Ator Secundário e Melhor Argumento Adaptado), “Moonlight” é um filme comovente que envolve o espectador na descoberta de identidade. Aqui são abordados três temas: a homossexualidade, a toxicodependência e o bullying. Sem tabus, mistérios, ou preconceitos estes temas são abordados de uma forma muito natural e universal. Sem diálogos longos, quase exclusivamente através do olhar das personagens e do silêncio entre elas, sentimos o sofrimento e identificamo-nos com elas. É um dos filmes mais honestos a explorar os temas do racismo e da orientação sexual. Um filme independente de uma subtileza rara no cinema americano.

“Corações de Pedra” (2016), de Guðmundur Arnar Guðmundsson
Notável filme sobre o coming-of-age LGBT, o bullying e a turbulenta fase da adolescência, fugindo aos estereótipos destas temáticas. Vencedor do prémio Queer no Festival de Cinema de Veneza, é uma sublime obra da cinematografia islandesa, que retrata o amor na adolescência, de forma ternurenta e crua, no interior da Islândia. Consegue ir para além dos estereótipos do cinema queer ou temáticas LGBT, explorando muito o período da juventude. São muitos os filmes sobre o coming-of-age, mas poucos têm a força e a frieza de “Corações de Pedra”.

Chama-me Pelo Teu Nome” (2017), de Luca Guadagnino
Uma das histórias de amor mais badaladas dos últimos anos, mais acarinhada pelo público e pela crítica. “Chama-me Pelo teu Nome” é muito mais do que um filme sobre a homossexualidade. É sobre o primeiro amor, o desejo sexual e a nostalgia daquela que fora uma memória feliz, perdida no tempo. Luca Guadagnino capta na perfeição essas memórias e vivências únicas do verão, onde as longas tardes solarengas dão azo a novas experiências e a descobertas. Uma experiência visual e sonora encantadora que ilustra a descoberta da orientação sexual através do primeiro amor. Refrescante obra cinematográfica, com uma realização moderna, carregada de pormenores, com um elenco secundário que brilha, mas claramente o destaque vai para a interpretação de Timothée Chalamet. São as lágrimas de Elio que nos ficam na memória.

“Chavela” (2017), de Catherine Gund, Daresha Kyi
Este é um documentário sobre Chavela Vargas, uma das maiores figuras da canção mexicana do século XX, mas também um retrato impressionante de uma mulher que ousou vestir, falar, cantar e sonhar a sua singular experiência de vida. Um documento fundamental, através de imagens de arquivo e de entrevistas, para compreender o percurso profissional e pessoal de Vargas, que desconstruiu tabus e preconceitos na época, pelo facto de ser mulher, que vestia calças, e ser lésbica.

“120 Batimentos por Minuto” (2017), de Robin Campillo
O filme-sensação da 70.ª edição do Festival de Cannes, onde recebeu o Grande Prémio do Júri, esta obra de Campillo é uma celebração da vida, onde as ruas são ocupadas por “soldados” que combateram a sida, tendo o seu sangue sido derramado e ignorado. O filme demonstra muito bem os bastidores da epidemia, da luta da Act Up ao ataque das indústrias farmacêuticas, ao seu papel fundamental na sensibilização da população, como por exemplo nas escolas. É por isso, também, um filme pedagógico. Como, a certa altura, alguém diz que a ignorância é uma ameaça e que o conhecimento é uma arma. Um documento histórico que discute uma doença, que não se limita a recriar o passado, tornando-o numa obra intemporal e obrigatória. Estas personagens são reais, elas existiram e infelizmente milhares não se encontram hoje entre nós. É assumidamente um cinema militante.

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