Neste domingo (6), a rainha Elizabeth II (Isabel II) está inserindo mais uma conquista ao seu invejável reinado recorde, tornando-se a primeira monarca britânica da história a celebrar um Jubileu de Platina.
Isso mesmo, sete décadas se passaram desde que ela subiu ao trono aos 25 anos, após a morte de seu pai, George VI. Hoje, a soberana de 95 anos se torna a primeira monarca britânica a alcançar 70 anos de reinado, agora à frente de 15 países da Commonwealth, depois que Barbados se declarou república em novembro.
Ao longo dos 70 anos de reinado, ela aconselhou 14 primeiros-ministros, reuniu-se com 13 presidentes dos EUA, conheceu mais de 7 papas, durante seu reinado o Brasil teve 19 presidentes e Portugal 10 presidentes, assistiu a quase 20 Olimpíadas, visitou 116 países e atuou como uma figura central inabalável enquanto o país enfrentava inúmeras crises.
Ela ainda presenciou fatos como: o nascimento e fim dos Beatles, a clonagem da ovelha Dolly, o genocídio de Ruanda, o fim do holocausto, a Guerra do Golfo, a Guerra do Iraque, a Guerra do Afeganistão, a Guerra das Maldivas, a Reunificação da Alemanha, a assinatura do Tratado de paz entre Israel e Jordânia, Portugal devolver Macau à China, fim da Guerra Civil de Moçambique, Ações militares na Somália, o fim da União Soviética e da Iugoslávia, o começo e o fim da ditadura militar no Brasil, o fim do Salazarismo em Portugal, a Guerra do Vietnã, o fim do Apartheid, a queda do muro de Berlim, além de vários outros acontecimentos que estamos acostumados a ver em livros de história.
O Jubileu de Platina da Rainha é notável porque será o primeiro Jubileu Real a celebrar os 70 anos de um monarca britânico no trono – um feito que é improvável que se repita dentro de uma vida ou duas. A rainha de 95 anos é a monarca mais longeva da história britânica – um título que ocupa desde 2015. A recordista anterior, a Rainha Vitória – que morreu aos 81 anos – era monarca há quase 64 anos.
Além disto, o Jubileu de Platina também será o primeiro de Elizabeth II sem seu marido, príncipe Philip, ao seu lado. O casal Real se casou em novembro de 1947 e foi inseparável por 73 anos. O Duque de Edimburgo morreu em 9 de abril de 2021.
Para marcar este feito sem precedentes, uma série de eventos serão organizados ao longo do ano, culminando em um fim de semana de quatro dias em junho. Entretanto, a CNN informou que neste domingo (6), a monarca estará em sua casa em Sandringham, interior da Inglaterra, respeitando o aniversário da morte de seu pai, o rei George VI. Como aconteceu nos anos anteriores, não se prevê nenhum compromisso público no dia.
A CNN destaca que o máximo que acontecerá é a divulgação de uma nova fotografia, pintura ou ainda uma mensagem para lembrar o significado desse marco específico. Tradicionalmente, as saudações militares formais estão agendadas para o dia seguinte (segunda-feira).
Nessa perspectiva, para ajudar a entender a jornada da família real britânica, curiosidades, rotina, intrigas e histórias, o Cinema Sétima Arte separou alguns filmes. Verá que alguns filmes desta lista são embasados em informações verídicas, outros são mais romantizados, contudo, todos explicam quem é quem nessa inebriante trama da vida real.
Confira a lista:
A Jovem Vitória (2009), de Jean-Marc Vallée ( cineasta recém falecido em dezembro de 2021):
Muito antes do longevo reinado de Elizabeth II, polêmicas já eram comuns na realeza. Sua tataravó, a Rainha Victoria (1819-1901), assumiu o trono muito jovem, e até ser de fato coroada, viveu uma série de conflitos com sua família.
Interpretada por Emily Blunt, cuja atuação foi muito elogiada, Vitória é blindada de cortejos por sua mãe. Porém, a motivação não é apenas protegê-la, e sim um jogo de interesses e poder. Enquanto Victoria busca lidar com paixões e dúvidas no auge dos seus 18 anos, conhecemos parte da história de uma das monarcas mais importantes de todos os tempos.
O longa foi nomeado a três Óscares na 82.ª edição de entrega dos Prêmios da Academia. Respectivamente, Melhor Direção de Arte (Patrice Vermette e Maggie Gray), Maquilhagem e Penteados (Jon Henry Gordon e Jenny Shircore), ganhando o de melhor Guarda-roupa (Sandy Powell).
Vitória & Abdul (2017), de Stephen Frears:
Conhecida como a segunda governante a ficar mais tempo no poder, perdendo apenas para a longeva Elizabeth II, Victoria manteve uma relação inspiradora, porém quase apagada da história. O longa é estrelado por Ali Fazal, Judi Dench, Michael Gambon, Eddie Izzard, Tim Pigott-Smith (em seu último papel no cinema) e Adeel Akhtar, estreou no Festival Internacional de Cinema de Veneza em 3 de setembro de 2017.
Em Victoria & Abdul, Judi Dench interpreta a monarca na última fase de sua vida. A trama foca na sua relação com Abdul Karim (Ali Fazal), um jovem criado indiano que passa a servir a família real. Com roteiro baseado em diários da própria rainha e de Abdul, compilados no livro da autora Shrabani Basu, o filme mostra como a amizade da dupla foi construída, mesmo depois de tantos boatos e tentativas de apagamento desses fatos.
O filme foi indicado para Melhor Guarda-roupa (Consolata Boyle) e Melhor Maquilhagem e Penteados (Daniel Phillips e Lou Sheppard) na 90ª. edição do Óscar, e Melhor Atriz em Filme – Musical ou Comédia (para Dench) no 75º Globo de Ouro.
No site do agregador de resenhas Rotten Tomatoes, o filme, realizado por Stephen Frears, tem uma taxa de aprovação de 68% com base em 199 resenhas. O consenso crítico do site diz: “Victoria & Abdul reúne Dame Judi Dench com o papel da Rainha Vitória – que é tudo o que o drama de época precisa para superar sua narrativa desequilibrada.” No Metacritic, o filme tem uma pontuação média ponderada de 58 de 100, com base em 35 críticos, indicando “críticas mistas ou médias”.
Downton Abbey (2019), de Michael Engler:
Como um grande episódio especial de fim de ano, a família Crawley recebe o rei George V (neto da Rainha Vitória, filho do Rei Edward VII, pai dos rei Edward VIII e George VI e avô da Rainha Elizabeth II) e a rainha Maria de Teck, e terá de se preparar para a visita real do jeito que sempre lidou com questões menores: preparativos grandiosos, muita agitação nos andares debaixo e costuras políticas na superfície.
Na produção cinematográfica, os residentes de Downton recebem a notícia de uma visita real, e enquanto os moradores dos andares de cima se apressam para organizar os preparativos, os criados dos andares debaixo tentam encontrar um jeito de não serem substituídos pelos funcionários da Coroa. Fique despreocupado, o filme se passa depois dos acontecimentos da série, mas apesenta uma história central independente. Além disso, ele não toca em questões muito pessoais de cada personagem que precisem de conhecimento prévio.
Nesse contexto, a trama é básica, mas complementada por romances paralelos e questões políticas, tudo que se passa em duas horas de longa poderia preencher uma temporada inteira. Felizmente, Fellowes e Engler acertaram no equilíbrio, fazendo com que o longa não soe nem como uma trama apressada de oito capítulos nem um longo episódio arrastado.
O longa homônimo tem tudo que você espera de um retrato das intrigas da aristocracia, com carisma o suficiente para poder deixar de ser arrogante demais. Nesse sentido, não está preocupado com os detalhes específicos ou meandros diversos de trama, mas sim em seus reflexos, nas pequenas e grandes mudanças que provocam através das diferentes castas.
O elenco inclui talentos como: Hugh Bonneville, Elizabeth McGovern, Michelle Dockery, Laura Carmichael, Maggie Smith, Penelope Wilton, Allen Leech, Jim Carter, Robert James-Collier, Phyllis Logan, Brendan Coyle, Joanne Froggatt, Lesley Nicol, Kevin Doyle, Sophie McShera, Raquel Cassidy, Michael C. Fox, Matthew Goode, Harry Hadden-Paton, Douglas Reith, Geraldine James, Simon Jones e Imelda Staunton.
O Discurso do Rei (2010), de Tom Hooper:
O Discurso do Rei é um filme que retrata a trajetória do rei George VI, que se viu obrigado a assumir o trono inglês no início da segunda guerra mundial. Mas esse não era seu maior problema. George era portador de gagueira severa, fobia social e timidez — a ponto de não conseguir falar em público. Nada bom para um rei. Em linhas gerais, o tema gagueira é destaque no longa-metragem, Tom Hooper traz à tona os desafios de quem tem gagueira.
O esforço do Rei George VI em vencer a gagueira tinha por objetivo um pronunciamento na rádio BBC, informando aos súditos sobre o começo da Segunda Guerra Mundial e preparando a nação para tempos difíceis, já que são nesses momentos que os grandes líderes usam o carisma, a credibilidade e a segurança para transmitir a realidade ao povo, mas sem deixar seus liderados sem esperança.
Naquela época, o Rei George VI, Winston Churchill, Charles de Gaulle e Franklin Roosevelt não conseguiam unanimidade entre seus seguidores, mas conseguiam transmitir mensagens duras, que exigiam enormes sacrifícios, unindo seus liderados em torno de um objetivo comum, mantendo viva a esperança de que dias melhores chegariam: “nas horas difíceis, a união faz a força”.
Tom Hooper em sua direção fez questão de evidenciar o fardo que é se tornar rei. Ao contrário do que muitos pensavam, não existe glamour o suficiente que apague as responsabilidades de carregar uma nação nas costas. Apesar do rei em si não possuir de fato o poder de ação do primeiro-ministro, é ele quem precisa manter as aparências. Hooper empregou diversas técnicas de filmagem a fim de evocar os sentimentos de constrição do rei.
Colin Firth, merecidamente levou o Óscar de Melhor Ator por seu papel como rei George VI, teve muito química (flui de maneira espontânea e natural) ao contracenar com Geoffrey Rush, que dá a vida ao fonoaudiólogo Lionel Logue, e Helena Bonham Carter que interpreta Elizabeth, esposa do rei (e que bom vê-la em um papel sóbrio e dramático), o desemprenho do trio é o trunfo do longa. Hooper conseguiu desenvolver bem a dinâmica do elenco e humanizar as figuras quase fabulares que compõe a nobreza, o clero e a plebe. O elenco é composto por Guy Pearce, Timothy Spall, Derek Jacobi, Jennifer Ehle, Anthony Andrews, Claire Bloom, Eve Best e Michael Gambon (o eterno professor Dumbledore de Harry Potter).
O Discurso do Rei ganhou sete prêmios BAFTA e quatro Óscares, sendo eles Melhor Filme (Iain Canning, Emile Sherman e Gareth Unwin), Melhor Realizador (Tom Hooper), Melhor Ator (Colin Firth) e Melhor Argumento Original (David Seidler), o longa também foi nomeado ao Óscar de Melhor Ator Secundário (Geoffrey Rush), Melhor Atriz Secundária (Helena Bonham Carter), Melhor Banda Sonora (Alexandre Desplat), Melhor Som (Paul Hamblin, Martin Jensen e John Midgley), Melhor Direção de Arte (Eve Stewart e Judy Farr), Melhor Cinematografia (Danny Cohen), Melhor Guarda-roupa (Jenny Beavan) e Melhor Montagem (Tariq Anwar).
Diana (2013), de Oliver Hirschbiegel:
No ano de 2013, Naomi Watts recebeu a missão de interpretar Diana no cinema. Neste filme biográfico que leva o nome da princesa, conferimos os momentos em que a jovem está prestes a se divorciar do Príncipe Charles, enfrentando a solidão de sua vida sozinha no palácio em meio aos compromissos beneficentes.
A sua história ganha uma reviravolta quando ela conhece o médico Hasnat Khan (Naveen Andrews) e fica encantada por ele a tratar como uma pessoa sem títulos reais. Darlano Didimo, em crítica publicada no site Cinema com Rapadura, enfatiza que a trama exibe basicamente o envolvimento dela com o médico paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews), iniciado ainda antes do divórcio oficial com Charles.
Dentre idas a trabalho ou não ao hospital em que o médico atua, Diana acaba se envolvendo com ele, começando um namoro secreto, longe das câmeras fotográficas dos tabloides ingleses. Mas a rotina confusa do relacionamento, possível apenas por meio de disfarces e encontros escondidos, prejudica o grande amor que um sente pelo outro.
O argumento do filme é baseado no livro de Kate Snell de 2001, “Diana: Her Last Love”, e foi escrito por Stephen Jeffreys.
Spencer (2022), de Pablo Larraín:
O longa está longe de ser uma biografia como “Jackie”, trabalho anterior de Larraín que traz um recorte de eventos fartamente documentados, os dias de Jacqueline Kennedy imediatamente após o assassinato de seu marido, o presidente John Kennedy, Spencer é a investigação de um mito, humanizando-o ao mesmo tempo em que se rende à mais pura fantasia.
O longa é estrelado por Kristen Stewart e Jack Farthing, ao lado de Timothy Spall (“Franquia Harry Potter”), Sean Harris (“Missão Impossível”), Sally Hawkins (“A Forma da Água”) entre outro elenco.
O roteiro de Steven Knight concentra-se no fim de semana do Natal de 1991, quando Diana já tomara a decisão de encerrar seu casamento com Charles. Antes, porém, ela precisa cumprir este último protocolo, encarar mais uma vez a indiferença de uma família que demonstra, com uma crueldade passivo agressiva sufocante, que ela nunca pertenceu àquele mundo.
Em Spencer, um dos diferenciais é o uso de elementos de suspense e até de terror para contar a história. O outro (e mais importante) é a incrível interpretação de Kristen Stewart como a Princesa de Gales. Spencer pode causar estranheza para quem espera ver mais uma cinebiografia simples e burocrática como várias que são lançadas a cada ano, ou mesmo uma versão das séries como “The Crown” (que a própria Kristen Stewart confessou ter visto para se preparar sua atuação) – mas irá agradar aos que buscam por algo mais original sobre uma personagem tão emblemática quanto Lady Diana Spencer.
A Rainha (2007), de Stephen Frears:
No intervalo de uma semana, entre o final de agosto e o começo de setembro de 1997, um mundo de mudanças se abateu sobre a realeza da Inglaterra. O que era secular se modernizou, o que era dogmático se flexibilizou e o que era particular se tornou público. Depois daquela semana, em que morreu a ex-princesa Diana e Tony Blair (Michael Sheen) elegeu-se Primeiro-ministro, a Rainha Elizabeth II talvez nunca mais tenha sido a mesma.
O formidável A Rainha, de Stephen Frears, repassa a semana dia a dia. Começa com a eleição de Blair, representante do Partido Trabalhista, reerguido ao poder – depois de 18 anos de hegemonia do Partido Conservador – com discurso de reciclagem das relações de trabalho, incentivando o livre mercado sem deixar de lado a assistência social. É a famosa Terceira Via que fez de Blair um ‘superstar’ do neoliberalismo durante a segunda metade da década.
Vista publicamente desde 1997 como uma rancorosa opositora à imagem santa de Diana, Elizabeth II ganha no filme – e na figura estupenda da atriz Helen Mirren (indicada ao Óscar pelo papel) – um pouco de justiça histórica. Seu entendimento do que são os deveres e os limites de um soberano, sua visão de mundo no que se refere a privacidade e símbolos públicos, são bem mostrados em A Rainha.
No longa, a monarca é retratada como uma mulher que tem a consciência do dever de aconselhar, de representar um país coeso e unido, de manter a privacidade, os dogmas e tradições, mas que sabe avaliar o risco de não ser amada por seu povo. Em seu elogiado argumento, Peter Morgan foi capaz de dar ao filme uma dimensão profunda do lado humano, dos bastidores do Palácio de Buckingham, das relações que permeiam a vida e os sentimentos de sua alteza, a austera Rainha Elizabeth II.
O filme, indicado a seis Óscares, incluindo Melhor filme (Andy Harries, Christine Langan e Tracey Seaward), Argumento Original (Peter Morgan – criador de “The Crown”), Realização (Stephen Frears), Guarda-roupa (Consolata Boyle) e Banda Sonora (Alexandre Desplat).
Helen Mirren ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis pelo desempenho, entre eles: Óscar, BAFTA, Globo de Ouro, Volpi Cup, Critics Choice Award, SAG, National Board of Review, New York Film Critics Circle Award, National Society of Film Critics Award, Los Angeles Film Critics Association Award, Satellite Award de Melhor Atriz em Filme de Drama, Chicago Film Critics Association Award, Las Vegas Film Critics Society Award, Toronto Film Critics Association Award, Boston Society of Film Critics Award, Dallas-Fort Worth Film Critics Association Award, Kansas City Film Critics Circle Award, Central Ohio Film Critics Association Award, Online Film Critics Society Award, Florida Film Critics Circle Award, Washington D.C. Area Film Critics Association Award e Phoenix Film Critics Society Award.