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«A Paixão de Van Gogh» – Visual deslumbrante sobrepõe-se à narrativa

Extraordinariamente belo este apaixonante trabalho realizado pela polaca Dorota Kobiela e pelo britânico Hugh Welchman (produtor da animação “Pedro e o Lobo”, vencedora do Óscar de Melhor Curta- Metragem em 2006). Formalmente, “A Paixão de Van Gogh” é por si só um triunfo na história do cinema.

Centrando-se nos quase 120 quadros de Van Gogh recriados em movimento e pintados inteiramente a óleo, à mão, por mais de cem artistas, o filme seduz o olhar. A obra do mestre pós-impressionista ganha uma nova vida para além da pequena tela, das tintas e do pastel e passa, assim, a viver na grande tela do cinema. O traço e a textura das suas obras são recriados tal e qual neste filme que explora a possibilidade do pintor holandês ter sido assassinado, alimentando-se do mistério em torno do seu suicídio. 

Esta reflexão sobre a sua controversa morte assume a forma de thriller policial, centra-se na investigação de Armand Roulin, filho do carteiro de Van Gogh, que tenta entregar a última carta de Van Gogh ao seu irmão Theo. Ao longo de todo este processo, Armand começa a questionar a natureza e as circunstâncias da morte do pintor.

No entanto, é na narrativa que o filme perde força criativa por não conseguir encontrar um equilíbrio entre forma e enredo. A força da imagem, que vagueia entre a cor (presente) e o preto e branco (o passado recriado) não acrescentam muito ao que já se sabe da vida do pintor e os diálogos entre Armand e as personagens com que se cruza não surpreendem em relação aos quadros de Van Gogh: forma e narrativa parecem estar sempre numa luta constante de forças. O retrato de Van Gogh que os cineastas pintam revelam-no como uma figura enigmática com tendência para alucinações e depressão, mas tudo isto poderia ter sido explorado de outra forma, aliando melhor a vida do pintor e o mistério em torno da sua morte.

Van Gogh continua como um dos artistas mais crípticos, apesar do seu espírito dilacerado. Muito ficou por contar neste filmo, pelo que são os seus quadros que contam a história. No entanto, a sua forma, que sem dúvida é possuidora de uma beleza hipnótica, parece superar a narrativa no que toca a manifestar o génio e o mistério de Van Gogh.

36RealizaçãoDorota KobielaHugh Welchman
ArgumentoDorota KobielaHugh Welchman
Elenco: Douglas Booth, Jerome Flynn, Robert Gulaczyk
Reino Unido/ EUA/ Polónia, 2017, Animação
Sinopse
: A história do filme constrói-se através de entrevistas às pessoas mais próximas do pintor e através de reconstruções dramáticas dos eventos que levaram à sua morte. São apresentadas 120 das melhores pinturas de Van Gogh, que escreveu numa das suas últimas cartas “a verdade é que não nos conseguimos expressar a não ser através da pintura.” É isto que se faz aqui ao permitir que os seus quadros contem a sua história.

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