A bem da verdade, poderíamos apelidar o Porto como uma cidade das imagens. Do “Porto e os seus fotógrafos” (a imagem fixa), para o cinema (a imagem em movimento), o “Porto merece, assim, o estatuto de Capital da imagem (em película) (…)” (1). Desempenhou portanto, uma papel crucial para o desenvolvimento das artes cinematográficas em Portugal, mantendo-se sempre na linha da frente dos progressos tecnológicos.
Apenas um ano depois dos irmãos Lumière terem apresentado o cinematógrafo em Paris (12 de dezembro de 1895), nascia na cidade do Porto o cinema português. Na noite de 12 de novembro de 1896, no então Teatro do Príncipe Real (atual Sá da Bandeira), foi apresentado ao público o kinematógrafo português, pelas mãos de Aurélio Paz dos Reis. A “Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança”, foi o tema desse registo, que veio a tornar-se no primeiro filme português. Nessa noite foram ainda apresentados os seguintes filmes: “Feira de Gado na Corujeira”, “Chegada de um comboio americano a Cadouços”, “O Zé Pereira na romaria de Santo Tirso”, “Azenhas no rio Ave”, entre outros. Este foi o primeiro momento histórico em que o Porto esteve a par do resto da Europa, no pioneirismo do cinema. No entanto, o kinematógrafo português de Paz dos Reis veio a fracassar, tendo caído um pouco no esquecimento, ao contrário do que aconteceu no resto do mundo, onde realizadores como Georges Méliès (em França), Edwin S. Porter e David W. Griffith (nos E.U.A) prosperavam e transformavam o cinema num entretenimento e indústria.
Em Lisboa, surgiram duas importantes empresas na área do cinema, a Portugália Film e a Lusitania Film, mas que rapidamente abriram falência. Foi preciso esperar mais de uma década para que o cinema português vivesse um novo momento de glória. Mais uma vez, o Porto ocuparia o local de destaque neste renascimento, que ocorreu no ano de 1912. Foi então que o empresário Alfredo Nunes de Matos registou uma empresa produtora com a designação de Nunes de Matos & Cia. – (Invicta Film) com a qual dava os primeiros passos na criação de pequenos filmes portugueses. Todavia, só em 1917 Nunes de Matos arrisca em dar uma nova vida à empresa, passando a chamar-se apenas Invicta Film, Lda. Nesse histórico ano, foram construídos no Carvalhido os estúdios da Invicta Film, que se tornariam num dos maiores e mais bem equipados estúdios de cinema da Europa. O referido estúdio tinha como ambição colocar Portugal nas lides da cinematografia europeia. Nos anos vinte a indústria cinematográfica portuguesa cresceu muito, graças aos estúdios da Invicta, uma vez que atraíram técnicos e realizadores estrangeiros de toda a Europa, como Rino Lupo e George Pallu. “Esta ‘fábrica de sonhos’ teve uma existência relativamente breve, mas vivida com grande intensidade.” (2).
Notas:
1) “O Porto na História do Cinema”, de Sérgio C. Andrade, Porto Editora, 2001
2) REAL, Manuel Luís, [e tal.], eds. – Filmes na Invicta: A Militância do Cineclube do Porto. Porto: produzido pela Câmara Municipal do Porto e Pelouro da Cultura, Turismo e Lazer – DMC, coordenado por Manuel Luís Real e Maria Helena Gil Braga, dezembro 2008.