“A Filha Perdida” conta a história de uma mulher de quarenta e oito anos, Leda, professora de Linguagens Comparadas, que passa férias na Grécia durante o verão. Durante este período, Leda vai interagindo com uma família numerosa com quem partilha o local, fazendo-a revisitar o passado, exaltando as memórias que a assombram.
O filme não começa muito bem. Contudo, passado esse primeiro impacto não muito positivo, a obra vai em crescendo, atingindo algum tempo depois, uma estabilidade que perdura até à última cena. Maggie Gyllenhaal estreia-se na realização e no argumento com nota bastante positiva. Um texto muito bem escrito, com uma personagem central muito rica e toda uma envolvente muito bem construída. O constante recuo ao passado, por parte de Leda, uma mulher, como a própria diz ser, egoísta, torna o filme mais denso, não se tornando leve de mais ao ponto de perder interesse. A realização é igualmente competente. Muito eficaz, apesar de não inovar, concede sobriedade ao filme, não deixando que algumas cenas caíssem no erro do exagero.

A banda sonora é também ela muito competente. Leve, quase irrepreensível, adequada em praticamente todos os momentos, ajuda a conduzir o filme. Aparece e desaparece quando deve guiando quem vê, levando o espectador a viajar juntamente com as personagens pelo filme fora.
“A Filha Perdida” está pautado por alguns momentos, ainda que muito curtos, de genialidade por parte de Olivia Colman, e que enriquecem bastante a personagem. A atriz, também ela de quarenta e oito anos, consegue, a cada filme que faz, superar-se e mostrar sempre algo mais. É provavelmente uma concorrente forte ao Oscar de melhor atriz na próxima cerimónia da Academia.
Por fim, a montagem e a fotografia são igualmente competentes. A primeira é muito eficaz, sobretudo pela alternância, sempre muito bem feita e adequada, entre o presente e o passado. Já a segunda, ajudada pelas paisagens do país situado no mediterrâneo, fica a sensação de que podia ser mais bem aproveitada, sobretudo pelos pequenos momentos que a realização nos vai mostrando em planos mais distantes. Contudo, esses planos não são distantes o suficiente para que essa mesma sensação deixe de ser tal como é, uma sensação, e passasse sim a ser uma certeza.

Em suma, “A Filha Perdida” é um filme sóbrio, pertinente e muito bem executado em todas as suas vertentes. Revela uma história muito bem construída, com uma personagem central muito rica e interpretada de forma muito eficiente, tanto por parte de Jessie Buckley, como, e sobretudo, por parte de Olivia Colman.
