“A Flor da Felicidade” (“Little Joe”), da austríaca Jessica Hausner, está na selecção oficial em competição do 19º Lisbon & Sintra Film Festival. A sexta longa-metragem (mas a primeira em língua inglesa) da realizadora e roteirista é uma mistura de suspense, ficção científica e terror psicológico.
A actriz britânica Emily Beecham, que venceu o prémio de Interpretação Feminina em Cannes com este filme, faz o papel de Alice, uma cientista workaholic. Ela trabalha na empresa Planthouse Biotechnologies, um laboratório de plantas na Inglaterra que usa a engenharia genética para criar novas espécies lucrativas.
Com seus cabelos super ruivos, Alice acaba por criar uma flor que é de um vermelho bem vivo e um tanto bizarra, um monstro à la Frankenstein de Mary Shelley. No entanto, se essa planta for bem cuidada pelo seu dono, que deverá não só regá-la, mas conversar e tratá-la especialmente bem, ela soltará ocitocina (hormona responsável pela sensação de prazer). Seria uma crítica à sociedade actual em que algumas pessoas são viciadas no bem-estar causado por elementos artificiais, como os likes das redes sociais?
Acontece que Alice também é divorciada e tem um filho adolescente chamado Joe (Kit Connor). A culpa que sente em passar tanto tempo no trabalho faz com que Alice tome duas atitudes sem sentido: ela leva a flor que ainda está a ser testada para casa, às escondidas, e dá o nome a ela de Little Joe.
Desenhada por Alice para ser infértil, a planta começa a desabrochar (lembrando a Audrey II de “A Lojinha dos Horrores”, filme de 1986 com Rick Moranis), e a soltar um pólen aparentemente hipnotizante. Alguns dos colegas de Alice e seu filho são contaminados pela planta e se transformam em uma outra versão de si mesmos. São quase zumbis, distantes da realidade e obcecados pela flor. Numa sequência que não fica clara, Joe, que era muito ligado à mãe, de repente aparece com uma namorada e decide morar com o pai.
A premissa aterrorizante do filme não se cumpre totalmente. Ao querer questionar o papel da ciência, mais especificamente os riscos da engenharia genética, e o sentimento de culpa da maternidade para a mulher moderna, Hausner não aprofunda em nenhum dos temas. Esse paralelo da planta com o filho fica um bocado esquisito.
Alguns personagens, como a terapeuta de Alice, não tem uma função muito definida e outros não convencem muito como cientistas. Há também esse medo premonitório ao longo do filme todo, que leva a uma pequena decepção. Afinal, essa contaminação aconteceu ou não? Hausner deixa em aberto.