Macacos me mordam! Perdi a conta dos dias em que os meus ouvidos não captavam tal alegre som! Uma multidão em plena convivência, num inicio da noite nas margens de um rio, esplendorosa imagem diga-se de passagem. Do outro lado, no horizonte, a “outra banda” iluminada e, sobretudo, encantada por luzes de cores várias … um festim de eletricidade. Mesmo assim, fechei os olhos. O som desta mistela, o falatório indecifrável em conjunto com o batimento de águas do rio Yangtzé no porto de Wuhan [China], levaram a este vosso escriba quase às lágrimas, espoletando uma saudade imensa pela tal “normalidade” que nunca mais chega (e pelos vistos que nunca virá na forma como sempre fomos acostumados).
Mas sejamos sinceros (deixando para trás a maravilha quase proustiana), existem problemas neste dito formalismo, o da contemplação da paisagem como um exercício de paciência e de sensorialidade. O cineasta norte-americano James Benning (“13 Lakes”, “L. Cohen”) executa estes rasgos na perfeição, já numa ritualidade o qual já encaramos como gesto autoral, mas nem isso torna este modus operandi … como descreveria … ah sim! … Entusiasmante. Aliás, existe um certo apelo à preguiça, um atalho ao facilitismo, e como português já vimos isto, demasiadas vezes, associados a falsos-autores do nosso “mundinho” português.
Dito isto, percebemos na perfeição o que a realizadora Shengze Zhu pretendia com este “A River Runs, Turns, Erases, Replaces”. O de prosseguir nas correntes do rio (literalmente e metaforicamente), observando e captando as suas transformações, a intervenção humana e o abrigo citadino que aí floresce. É um ode à modernidade, essa mesma que alavancou a grande mudança dos nossos dias (nem vamos aprofundar a temática das pandemias para não deprimirmos ainda mais).
Por entre as imagens estáticas, paisagistas, amontoadas, existe momentos fatiados onde uma correspondência é lida silenciosamente (legendas que nos remetem a uma espécie de narrativa paralela e nada interventiva). Através dessas palavras, um neto explica à sua avó essas mudanças sociais e quotidianas de Wuhan, relembrando que a cidade que esta acostumara desapareceu com o vento (brisas, essas, denominadas de progresso). “A River Runs, Turns, Erases, Replaces” relaciona-nos com o seu devido espaço e tempo, mas fiquemos então pelas ideias banhadas no Yangtzé. Um exercício e tanto esquecível perante uma tendência sem arrojos.