Willem Dafoe é um dos grandes atores de Hollywood, conhecido por sua versatilidade em trabalhar em diversos géneros cinematográficos, desde blockbusters até longas independentes.
Com uma carreira que abrange mais de 40 anos e 152 créditos, o wisconsiniano teve a oportunidade de colaborar com realizadores consagrados e novos talentos, como Wes Anderson, Hector Babenco, Sean Baker, Anthony Minghella, Oliver Stone, Lars von Trier, Martin Scorsese e Sam Raimi.
Por esse ângulo, embora Dafoe tenha começado a construir sua trajetória cênica com papéis menores e secundários em produções independentes, ele sempre desfrutou de sucesso consistente no topo da indústria cinematográfica hollywoodiana.
Logo, sua notável versatilidade pode ser percebida em suas quatro nomeações aos Óscares, três vezes como Melhor Ator Secundário – por “Platoon” (1987), de Oliver Stone, “A Sombra do Vampiro” (2001), de E. Elias Merhige, e “Projeto Florida” (2018), de Sean Baker e uma vez como Melhor Ator Principal – por “No Portal da Eternidade” (2019), de Julian Schnabel, respectivamente.
Nessa acepção, Dafoe é reconhecido e celebrado por sua capacidade de incorporar uma ampla gama de personagens e personas. Sim, sua capacidade enérgica de desenvolver uma ligação essencial e objetiva entre persona e personagem, o torna um ator de excelência. Desse modo, sua habilidade em interpretar personagens tão diversos pode ser uma das razões pelas quais ele é frequentemente escolhido para grandes projetos tanto no cinema independente quanto no comercial.
Mais recentemente, Dafoe participou do blockbuster da Marvel “Homem-Aranha: Sem Volta a Casa”, de Sam Raimi como o icónico Duende Verde, reprisando seu papel amado pelos fãs. Ele também esteve em outros filmes de destaque, como no drama que lhe garantiu sua primeira nomeação ao Óscar de Melhor Ator, “No Portal da Eternidade”, de Julian Schnabel; a comédia celebrativa “Crónicas de França”; de Wes Anderson; o drama policial “The Card Counter”, de Paul Schrader; o thriller noir “Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas”, de Guilhermo del Toro; o épico “O Homem do Norte” de Robert Eggers; o western “Dead for a Dollar”, de Walter Hill e o suspense psicológico “Inside”, filme de estreia de Vasilis Katsoupis.
Porém, sem embargo, Dafoe considera o papel mais exigente de sua carreira, o do carpinteiro, pregador e líder judeu Jesus de Nazaré (7–2 a.C. – 30–33 d.C.) em “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese. Enfrentando as lutas humanas antes de sua crucificação, Dafoe afirmou que nem mesmo se preocupou em interpretar o papel, o que reflete a profundidade de sua entrega e transformação em cada papel que assume. Ele elogiou a habilidade de Scorsese como diretor, afirmando que ele sabia exatamente o que estava fazendo.
No livro “Jesus de Nazaré: História de Deus, Deus da História: ensaio de uma cristologia como história”, o teólogo italiano Bruno Forte detalha que Jesus nasceu judeu de uma filha de Israel, em Belém, durante o tempo do rei Herodes Magno e do imperador César Augusto (63 a.C – 14 d.C.) . Ele era natural de Nazaré, uma cidade na Galileia, que era vista como semipagã e desprezada pelos israelitas mais puros. Sua família era hebreia e a língua falada em sua região era o aramaico galileu. É provável que Jesus também conhecesse o antigo hebraico, uma vez que era necessário para a leitura das Sagradas Escrituras.
Sobre a questão, em seu magnum opus “Suma Teológica”, São Tomás de Aquino apresenta duas razões para o nascimento de Jesus em Belém, e não por mera coincidência histórica. A primeira delas está ligada à promessa feita a Davi de que o Messias viria de sua descendência, e Jesus nasceu na mesma cidade que Davi. Já o segundo motivo está relacionado ao significado do nome da localidade, que significa “casa do pão”. Aquino explica que Jesus afirmou ser o pão da vida que desceu do céu, tornando a escolha de Belém ainda mais simbólica.
A questão de quem é Jesus tem sido debatida há séculos, mas a verdade é que muitas pessoas ainda não entendem sua verdadeira identidade. Como registrado no Evangelho de Mateus, Jesus perguntou a seus discípulos quem as pessoas diziam que ele era. A resposta deles foi decepcionante, pois simplesmente afirmaram que ele era um homem notável como João Batista, Elias ou Jeremias. Isso indica que as pessoas consideravam Jesus apenas um ser humano comum, sem perceber sua natureza divina.
No entanto, a resposta correta foi dada pelo apóstolo Pedro, que afirmou que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo. Essa resposta foi uma revelação divina e mostrou que Jesus não era simplesmente um homem, mas o próprio filho de Deus. Infelizmente, muitas pessoas ainda não reconhecem a verdadeira identidade de Jesus e o consideram apenas um líder religioso notável do passado.
É importante que as pessoas compreendam a verdadeira natureza de Jesus, especialmente em um mundo em constante mudança e em que os valores religiosos estão em constante declínio. A verdade é que Jesus é muito mais do que um líder religioso ou um homem notável do passado – Ele é o Filho de Deus e o salvador da humanidade. Portanto, é crucial que as pessoas se esforcem para entender sua verdadeira identidade e sejam fiéis a Ele.
Nesse cenário, em comparação com a visão tradicional dos Evangelhos, o filme de Scorsese oferece uma releitura dos últimos anos da vida de Jesus, baseada no livro homónimo de Nikos Kazantzakis. Tanto que, o argumento adaptado por Paul Schrader toma liberdades em relação ao caráter dos personagens, o que, na época, gerou discussões complexas e irritou os fundamentalistas cristãos. Sob essa ótica, a dualidade de Jesus, como ser humano e filho de Deus, é explorada, questionando como conciliar essas duas naturezas tão contraditórias em um único corpo.
Por esta razão, ao interpretar Cristo, Willem Dafoe apresenta sua melhor performance no grande ecrã, retratando um personagem que reluta em seguir seu destino e até constrói cruzes para os romanos, com a intenção de levar Deus a odiá-lo. No entanto, ao perceber que sua crise espiritual desafia não apenas sua própria natureza, mas também a Deus, ele assume sua condição de Messias e arrebata seguidores. A fragilidade do lado humano de Jesus é o que torna o filme tão fascinante, já que é um retrato mais realista e complexo do homem por trás do “mito”.
Durante as filmagens de “A Última Tentação de Cristo”, Scorsese criou um ambiente completo e perfeito, o que fez com que Dafoe se sentisse livre para atuar. Mesmo com um cenário hostil e um assunto pesado, o ator afirma que o filme foi uma alegria para ele.
Em suma, em várias entrevistas concedidas ao longo de 35 anos, Dafoe afirmou que “A Última Tentação de Cristo” foi a melhor experiência cinematográfica de sua vida e um sonho para qualquer ator. Ele ainda teve a oportunidade de colaborar novamente com Scorsese em “O Aviador” em 2004, e se sentiu privilegiado por fazer parte da filmografia do realizador, que o transformou e inspirou.