“Ainda Temos o Amanhã (C’è ancora domani)” é o filme de inauguração da 12.ª edição da Festa do Cinema Italiano e marca a estreia na realização da atriz e apresentadora italiana Paola Cortellesi. O filme foi um sucesso absoluto em Itália, tornando-se o nono filme italiano mais visto de sempre, tendo superado em 2023 o blockbuster “Barbie” nas salas de cinema.
Ambientado em Roma no pós-guerra, o filme explora a narrativa de mulheres em busca de autoafirmação, com seu estilo neorrealista pop e commedia all’italiana, reflete sobre desafios sociais e pessoais, focando na resiliência feminina. Através de histórias inspiradas nas antepassadas de Cortellesi, explora-se a complexidade das relações humanas e a luta contra convenções opressivas, encorajando uma reflexão sobre a evolução dos direitos e do papel da mulher na sociedade.
O espectador segue esta narrativa envolvente e profundamente humana, através dos olhos de Delia. Uma mulher que mal acorda é agredida, em resposta a um simples bom dia. Delia dedica-se incansavelmente à sua família, enfrentando, contudo, uma realidade marcada por atos recorrentes de violência doméstica. A chegada inesperada de uma carta empurra-a a desafiar o destino. É através da sua firme autodeterminação que ela consegue romper com um ciclo prolongado de violência e opressão.

Esta dinâmica complexa entre a protagonista, o seu marido e o casamento da sua filha, explora como essas relações pessoais refletem uma opressão sistémica, o comportamento masculino é desculpado, seja pelo contexto pós-guerra italiano ou pela aceitação tácita de atitudes misóginas. A relação com o marido revela tensões entre tradições e o desejo de autoafirmação, enquanto o casamento da filha poderia simbolizar a esperança de um novo começo ou a continuação dos desafios intergeracionais.
É um filme importante, tanto pela narrativa que desdobra quanto pelo modo como essa narrativa espelha as experiências de inúmeras mulheres que, distantes dos olhares públicos, padeceram em silêncio para satisfazer as exigências dos seus maridos, filhos e sogros. O filme permite-nos testemunhar uma batalha silenciosa, tanto pessoal quanto coletiva, pela reivindicação de direitos e por uma sociedade na qual as vozes das mulheres sejam ouvidas.
Trata-se de um filme de resistência e sororidade, evidenciando que, embora nada esteja assegurado, vale sempre a pena lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva.
