“Albert Nobbs”, realizado por Rodrigo García e com uma produção independente (sem qualquer dinheiro de Hollywood), é um filme que demorou quinze anos a escrever, não se justificando tal lentidão. O argumento, escrito por John Banville, Gabriella Prekop e pela própria Glenn Close, é adaptado de uma peça de teatro, que era por sua vez baseada no conto “The Singular Life of Albert Nobbs”, de George Moore.
A história é bastante simples e percebe-se de imediato pela sua sinopse. Passado em Dublin, durante o século XIX, num hotel onde uma mulher se faz passar por homem, Albert Nobbs (Glenn Close), tentando assim ganhar a vida, para um dia abrir o seu próprio negocio, uma tabacaria. Até que um dia o seu segredo é descoberto pelo senhor Hubert Page (Janet McTeer).
O argumento, que poderia ser um dos pontos fortes deste filme, é talvez o mais fraco, cheio de clichés, com personagens distantes, com alguns “buracos” na história e principalmente com um final abrupto e descabido. Apesar de tudo não é totalmente previsível.
O filme fala claramente sobre “sobrevivência”. Como era para muitas mulheres do século XIX viver numa sociedade machista e injusta. Infelizmente ainda hoje é assim. Estas mulheres tentam disfarçar-se de homens para que possam subir na vida, ter empregos melhores e mais bem pagos. Mas para isso têm que esconder a sua verdadeira identidade. O tema da homossexualidade é claro neste filme, no entanto não o explora como deve ser. Caso o argumento tivesse explorado as questões de género, identidade e homossexualidade, seria potencialmente melhor e mais complexo. Ainda assim, podemos perceber de forma subtil algumas passagens destes temas. É curioso que durante todo o filme olhamos para Albert e Mr.Page como duas mulheres vestidas de homem, excepto na cena da praia em que estas se vestem de mulher correndo com vestidos, parecendo homens vestidos de mulher.
No entanto, tem uma razoável realização e excelentes interpretações de um bom elenco principal e secundário. Com um ritmo calmo e sem grandes momentos de melodrama, o filme consegue ainda assim concentrar a atenção do espectador em Albert e Mr.Page.
Glenn Close tem aqui um filme mediano, escrito e produzido pela mesma, para outras mulheres que se sintam inferiorizadas, que ganhem alguma inspiração.
Tal como “A Dama de Ferro” é um filme em que a interpretação do protagonista feminino conta tudo, é a grande força do filme. Glenn, que tem aqui uma das suas melhores interpretações, poderia perfeitamente ter ganho o Óscar de Melhor Atriz. O filme foi ainda nomeado para dois Óscares: Melhor Atriz Secundária (Janet McTeer) e Melhor Maquilhagem.
Não há muito mais a dizer sobre “Albert Nobbs”, excepto que, vale a pena pelas boas interpretações e pela história em si (não pelo argumento), para se conhecer o sofrimento e sobrevivência de muitas mulheres daquela época.
Realização: Rodrigo García
Argumento: John Banville, Gabriella Prekop, Glenn Close
Elenco: Glenn Close, Janet McTeer, Mia Wasikowska
Reino Unido/2011 – Drama
Sinopse: Baseado no conto “The Singular Life of Albert Nobbs”, de George Moore, Glenn Close faz o papel de uma mulher que se disfarça de homem durante vinte anos, para poder trabalhar como mordomo no hotel mais chique de Dublin e assim sobreviver na sociedade machista da Irlanda do século XIX.