25 de Abril

Almodóvar responde ao Vox: “Sou dos que recebe subsídios e depois faz filmes muito maus que não interessam a ninguém”

Pedro Almodóvar durante o discurso nos Goyas 2024 Pedro Almodóvar durante o discurso nos Goyas 2024
Pedro Almodóvar durante o discurso (Foto Chema Moya / EFE)

Durante a cerimónia de entrega dos mais importantes prémios cinematográficos de Espanha, os Goya, o cineasta Pedro Almodóvar respondeu com ironia ao comentário do Vox sob um forte aplauso, naquela que foi a primeira vez que os Goya contaram com a presença do partido de extrema-direita.

García Gallardo, vice-presidente do Vox em Castela e Leão, afirmou no dia anterior à cerimónia dos Goya 2024 (11 de fevereiro) que “os senhores não são os agricultores ou pecuários, são aqueles que querem ganhar a vida a produzir obras cinematográficas que ninguém vê depois, à custa de milhões e milhões de euros que os contribuintes espanhóis pagam com grande esforço”. O Ministro da Cultura, Ernest Urtasun, respondeu antes da gala, sustentando que os trabalhadores do cinema são “uma fonte de orgulho” para o país, segundo avançou o El Diario.

A meio da cerimónia da 38.ª edição dos Prémios Goya, o realizador espanhol Pedro Almodóvar aproveitou o momento para responder ao Vox, presente na sala, dizendo que “há umas horas, um político presente nesta sala falou de nós como os cavalheiros que recebem subsídios”. Almodóvar ironizou e apresentou-se como “um daqueles cavalheiros que recebem subsídios e depois fazem filmes muito maus que não interessam a ninguém (…) vou dizer a este homem o óbvio: o dinheiro que nós, cineastas, recebemos como adiantamento, devolvemos ao Estado mais do que o suficiente através dos nossos impostos e da Segurança Social. Para além de criar milhares de empregos.”, disse Almodóvar, sob fortes aplausos dos presentes.

Segundo El País, Gallardo respondeu na manhã de domingo, via X, atacando o “consenso progressista” e afirmando que “a cultura não é de esquerda”.

Para além das múltiplas críticas à presença do Vox, os artistas condenaram violência de género e apoiaram a Palestina.

A 38.ª edição dos Prémios Goya, atribuídos pela Academia das Artes e das Ciências Cinematográficas de Espanha, ficou ainda marcada por outras reivindicações, como discurso de abertura por parte da atriz e cantora Ana Belén, que condenou a violência sexual contra as mulheres.

“Como ser mulher e não morrer a tentar. As mulheres do cinema, como todas as mulheres, não querem tentar viver. É urgente que todas nós exijamos certezas de igualdade e isso significa condenar todos os abusos e abusos sexuais. E rever profundamente as estruturas que o permitem”. Ao seu lado, os outros dois apresentadores, Javier Calvo e Javier Ambrossi, acrescentaram: “Isto diz-nos respeito a todos. A partir daqui, queremos dizer às vítimas que não estão sozinhas, que o vosso testemunho é muito corajoso, que as vossas palavras se tornarão atos”. E Ana Belén voltou a usar da palavra para terminar o argumento: “Aqui no cinema também acabou”.

A atriz Alba Flores usou durante a cerimónia um pin a dizer “Gaza”, num claro sinal de apoio à causa palestiniana. Alba levou esse símbolo porque são temos sombrios estes, “porque já foram mortas 30.000 pessoas em Gaza, por vezes é difícil vir celebrar alguma coisa. É muito difícil. É muito contraditório. De alguma forma, trazer uma pequena recordação, porque sabemos que isto é um altifalante, que as pessoas podem ouvir e as autoridades podem vir… Espero que pensem de novo e que o governo deste país possa fazer coisas”, explicou Alba Flores.

“A Sociedade da Neve”, de Juan Antonio Bayona, foi o grande vencedor da 38.ª edição dos Prémios Goya. O drama da Netflix inspirado no desastre aéreo da seleção uruguaia de rugby, em 1972 nos Andes, arrecadou 12 Goyas, incluindo o de Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Ator Revelação (Matías Recalt), Melhor Música Original e Melhor Fotografia. O filme encontra-se ainda nomeado para dois Óscares.

Portugal tinha uma nomeação para a categoria de Melhor Filme Ibero-Americano com o filme “Alma Viva”, de Cristèle Alves Meira, mas o vencedor foi o Chile, com o documentário sobre a doença de Alzheimer, “La memoria infinita”.

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