Atualmente, assiste-se a uma era em que a intelectualidade das produções artísticas – neste caso em concreto, mais centrada nas cinematográficas – está mais virada para os lucros (materiais) do que propriamente para o que delas podemos extrair (nós, sociedade, pessoas, humanidade), enquanto seres pensantes e partes de um todo, que se quer, sempre, coeso.
A esse respeito, Francis Coppola, realizador de “Apocalypse Now” e da saga “O Padrinho”, a respeito dos filmes da Marvel, e concordando com as declarações recentes de Martin Scorsese, em que o emblemático realizador de “Taxi Driver” (1976) e “Goodfellas” (1990) afirmou que estes não constituíam cinema, disse: “esperamos aprender alguma coisa do cinema, ganhar algo, algum esclarecimento, algum conhecimento, alguma inspiração”, em declarações ao jornal inglês The Independent.
Numa era de blockbusters, a verdade é que, numa altura em que os filmes de super-heróis proliferam, vemos, por exemplo, e em contraste com aquela que é, na minha opinião, uma tendência atual, uma abordagem diferente em “Joker”, uma gradação mais dramática e pessoal do filme como um todo, uma exploração mais virada para uma experiência enriquecedora, humana, intelectual – que é assim que o cinema deve ser visto, sentido e criado, como arte (a sétima) que é.
Num outro sentido, Woody Allen, a respeito do seu novo filme, “Um Dia de Chuva em Nova Iorque”, confessou-se, recentemente, “ansioso e vulnerável” com o extremismo político cada vez mais vincado na sociedade e na essência das produções cinematográficas. Até porque, e de acordo com um estudo recente publicado pela revista Human Resources, se concluiu que a chamada “televisão-lixo”, e aplicada por extensão ao cinema mais supérfluo e vazio, reduz, de facto o QI. Isto porque, pode ver-se que hoje em dia assistimos a uma enchente de filmes “empacotados”, “alugados” e pré-preparados, onde a liberdade dos intervenientes é substituída pela mensagem da qual não podem sair: os chamados filmes intencionais, que são criados não pelo “delírio” artístico dos protagonistas, mas porque é necessário. E cinema necessário deixa de ser Arte. Porque foi pedido, foi pensado antes de sentido.
Toda a arte nasce da necessidade de crescer e de contar uma história. Sem essa vontade, intrínseca, não há nada a dizer, senão inventar o sentimento. E, desta forma, auto-mutilar a alma dos filmes.
Há bons blockbusters: há, sem dúvida, coisas boas a extrair dos filmes que são pensados e criados com produções e agências com os olhos nos lucros e não na essência, na intervenção, no carácter humano adjacente à Arte. Temos alguns exemplos de sucessos com valor intrínseco e estima-se que vá crescer a olhos vistos. Enquanto que se pensa haver um problema de identidade das grandes produções, há uma preocupação cada vez maior de não confundir clássicos – na acepção mais ampla do termo – com obras-primas. E, se tudo correr bem, conseguir conciliar esta dualidade com a era, a dominância ascendente das exigências de um espectador que é cada vez mais difícil de ser reconfortado.
Porque uma coisa é pensar previamente no impacto daquilo que se cria. Outra bem diferente é descorar o conteúdo.
Aceitemos o contexto atual do cinema, e estejamos juntos para conseguir abrilhantar as coisas, limando as arestas e sonhando com mais e melhor.
Porque o sonho comanda a vida.