A renomada realizadora e argumentista Greta Gerwig, conhecida por seus trabalhos em filmes como “Lady Bird” e “Mulherzinhas”, bem como pelo recente lançamento “Barbie”, concedeu uma entrevista extensa à Alex Barasch do New Yorker, na qual confirmou sua participação como realizadora e argumentista em “pelo menos dois filmes” do reboot da aclamada série literária “As Crónicas de Nárnia” do icónico C.S. Lewis.
O reboot será produzido pela Netflix, que adquiriu os direitos da obra em 2018, anteriormente da Walden Media – a maioria dos filmes produzidos pela produtora são adaptações de livros infanto-juvenis, biografias, acontecimentos históricos ou documentários, além de alguns argumentos originais.
Antes da Netflix
Em 2018, a empresa de streaming anunciou a aquisição dos direitos da história, representando um movimento estratégico para expandir seu catálogo de conteúdo. No ano seguinte, em um anúncio subsequente, foi revelado que o renomado argumentista Matthew Aldrich, conhecido por seu trabalho em “Coco”, assumiria a responsabilidade de desenvolver a nova versão do magnus opus de Lewis.
Todavia, antes da aquisição pela Netflix, a Tri-Star, uma divisão da Sony, tinha planos para um quarto filme. O filme “As Crónicas de Nárnia: A Cadeira de Prata” estava em andamento, com o argumento sendo desenvolvido pelo escritor David Magee. Em 2016, Magee anunciou a conclusão da adaptação do livro. No ano seguinte, o realizador Joe Johnston foi escolhido para liderar o projeto, em preparação para a produção.
Porém, esse projeto nunca saiu do papel. A Mark Gordon Company, empresa liderada pelo produtor Mark Gordon, que também estava envolvida no projeto, aproveitou a oportunidade quando sua companhia foi adquirida pela produtora canadense eOne, para interromper a produção do filme.
A estratégia da Mark Gordon Company era colocar o projeto no mercado, buscando potencializar uma nova franquia de filmes e séries em plataformas de streaming. Nesse cenário, a Netflix entrou em cena e adquiriu os direitos da obra.
Gerwig no páreo
Embora ainda não tenha sido feito um anúncio oficial por parte da Netflix, especulações sobre a participação de Gerwig no reboot já circulavam na mídia norte-americana. A quantidade exata de filmes que serão produzidos para a série ainda não foi divulgada, mas é esperado que ela traga um retrato inédito dos sete livros da saga que já vendeu mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo.
A obra
As Crónicas de Nárnia é uma série de sete livros de fantasia escrita pelo professor universitário, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e teólogo irlandês Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis. A obra é considerada um clássico da literatura infantil mundial e é amplamente reconhecida como o trabalho mais famoso do autor. Com mais de 120 milhões de cópias vendidas em todo o mundo e traduzida para 41 idiomas, a série alcançou um sucesso notável e tornou-se uma das obras literárias mais conhecidas de todos os tempos.

Publicados entre 1949 e 1954, os livros que compõem as Crónicas de Nárnia foram adaptados para diferentes formas de mídia, como rádio, televisão, teatro e cinema. Além dos temas cristãos tradicionais, a série incorpora elementos da mitologia grega e nórdica, bem como elementos dos contos de fadas clássicos.
A série literária segue a jornada dos irmãos Lúcia, Susana, Edmundo e Pedro, crianças inglesas que descobrem um reino encantado chamado Nárnia e se tornam corajosos guerreiros, enfrentando os esforços da Feiticeira Branca para tomar o controle do lugar. Seu maior aliado é o poderoso leão Aslam, que simboliza a bondade, a coragem e o altruísmo.

Além dos protagonistas, a história também apresenta outros personagens-chave, como o Professor Kirke, Polly Plummer, Eustáquio, Jill Pole, Shasta, Caspian X, Miraz, Rilian, Tirian e André. As fábulas das Crônicas de Nárnia abordam temas que fazem alusão ao cristianismo, proporcionando uma perspectiva moral e espiritual aos leitores.
Adaptações
Como comentado acima, essa não é a primeira vez que “As Crónicas de Nárnia” são adaptadas para o cinema e a televisão. Ao longo dos anos, várias adaptações foram realizadas.
Na transição dos anos 80 para os anos 90, a BBC apresentou a primeira adaptação de quatro livros da série: “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, “Príncipe Caspian”, “A Viagem do Peregrino da Alvorada” e “A Cadeira de Prata”. A série foi exibida no período de 13 de novembro de 1988 a 23 de dezembro de 1990.
Posteriormente, a obra ganhou um público ainda maior com a série de filmes lançados pela Disney entre 2005 e 2010.
Disney e Fox
Os dois primeiros filmes foram realizados por Andrew Adamson, conhecido por também realizar os primeiros filmes da animação “Shrek” da DreamWorks, enquanto o terceiro filme foi realizado por Michael Apted, que recebeu reconhecimento por sua cinebiografia “Gorilas na Bruma”, que rendeu à atriz Sigourney Weaver sua segunda nomeação ao Óscar de Melhor Atriz em 1989.
Os três filmes lançados arrecadaram quase US$ 1,6 bilhão em bilheteria mundial. O primeiro filme recebeu três nomeações aos Óscares nas categorias de Melhor Maquiagem, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Mixagem de Som, vencendo na primeira categoria. Os dois primeiros filmes foram distribuídos pela Disney, enquanto o terceiro foi lançado pela Fox, recebendo uma recepção menos favorável tanto da crítica quanto do público.
Elenco
Na franquia, os irmãos foram interpretados por William Moseley, Skandar Keynes, Georgie Henley e Anna Popplewell.
Além disso, Ben Barnes deu vida ao Príncipe Caspian X e Will Poulter ao personagem Eustáquio Mísero.
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Entre os veteranos, destacaram-se as interpretações de Tilda Swinton como a poderosa Feiticeira Branca, James McAvoy como o amável fauno Tumnus, Jim Broadbent como o professor Kirke, Peter Dinklage como o enérgico anão Trumpkin, Sergio Castellitto como o sádico Rei Miraz, Pierfrancesco Favino como o parvo Lorde Glozelle e Warwick Davis como o dúbio anão Nikabrik.
Tilda Swinton como a poderosa Feiticeira Branca
Sergio Castellitto como o sádico Rei Miraz
James McAvoy como o amável fauno Tumnus
Jim Broadbent como o professor Kirke
Peter Dinklage como o enérgico anão Trumpkin
Também merece destaque o trabalho de voz de Simon Pegg como o ratinho Ripchip, Ray Winstone e Dawn French como Sr. e Sra. Castor, Rupert Everett como Sr. Raposa, Ken Stott como Caça-trufas, e Liam Neeson emprestando sua voz ao majestoso leão Aslam.
Liam Neeson emprestando sua voz ao majestoso leão Aslam
A posição de Lewis em relação às adaptações live-action das suas obras
Ao longo de sua vida, o renomado escritor e professor universitário C. S. Lewis expressou uma forte objeção à ideia de adaptar suas obras literárias para o cinema. Em uma carta enviada em 1959 ao produtor da BBC, Lance Sieveking, durante a colaboração de ambos em uma produção de rádio do épico de fantasia, Lewis deixou clara sua descrença em relação à transposição das narrativas para a visibilidade real, especialmente quando se tratava de animais antropomórficos.
Ele acreditava que, quando retirados do contexto literário, tais personagens corriam o risco de se tornarem caricatos ou até mesmo aterrorizantes. No entanto, Lewis admitiu estar mais receptivo à ideia de uma adaptação animada, deixando claro que sua relutância decorria da convicção de que o mundo imaginário por ele criado dificilmente seria reproduzido de forma autêntica na sétima arte.
Uma das maiores preocupações do escritor estava focada em Aslan, personagem central e uma representação divina na história. Ele temia que, se tratado inadequadamente, o poderoso leão pudesse perder sua grandiosidade e se tornar motivo de riso para o público. Diante dessa insegurança, Lewis estabeleceu condições rigorosas para qualquer tentativa de adaptação. Exigia amostras visuais dos personagens e um roteiro completo, reservando o direito de veto caso não estivesse satisfeito com a abordagem proposta.
A importância de Douglas Gresham
A posição de C. S. Lewis sofreu uma mudança significativa quando Douglas Gresham, seu filho adotivo e então detentor dos direitos dos livros, assumiu uma postura diferente em relação às adaptações cinematográficas. A reviravolta ocorreu após Gresham testemunhar uma demonstração das impressionantes capacidades da computação gráfica contemporânea nos estúdios da Disney.
A apresentação feita pela empresa de Walt Disney revelou o incrível potencial da tecnologia para recriar com fidelidade o mundo imaginário concebido por seu pai. Com base nessas novas perspectivas, Gresham decidiu autorizar a realização das adaptações, dando luz verde para que os projetos cinematográficos avançassem. Não apenas isso, ele é o produtor executivo de todos filmes já adaptados no século XXI.