As Escolhas de Sofia #12 (Donnie Darko)

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As Escolhas de Sofia

“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”

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Donnie Darko (2001) – Para Ver Mais do que Uma Vez

Neste filme com realização e argumentação de Richard Kelly, Jake Gyllenhaal interpreta Donnie Darko, um adolescente com esquizofrenia paranoide que recebe informações de um coelho gigante acerca do fim do mundo.

A esquizofrenia é sem dúvida uma das perturbações mais fascinantes e complexas do espectro da saúde mental. É uma psicose crónica que afeta invariavelmente a personalidade do sujeito impelindo-o para um caos imaginário. Os indivíduos com esta patologia apresentam problemas nas relações sociais, disfunções a nível cognitivo e emocional, onde estão incluídas a perceção, o pensamento indutivo, linguagem e comunicação, comportamento, afeto, fluência e produção de pensamento e discurso, vontade, impulsos e atenção. No entanto, poucos pacientes evidenciam manifestações em todas estas variantes, por isso se distinguem diferentes categorias de diagnóstico. O tipo paranoide é o mais comum e o menos severo, caracterizando-se pela presença de ideias delirantes ou alucinações, e menos regressão das faculdades mentais, da resposta emocional e do comportamento que os outros pacientes esquizofrénicos. Os pacientes encontram-se predispostos ao comportamento suicida, e a combinação de ideias delirantes e de grandeza com a fúria pode levá-los a atos de violência.

O filme decorre no final dos anos 80, Donnie vive com os seus pais Eddie (Holmes Osborne) e Rose (Mary McDonnell) e as suas duas irmãs Samantha (Daveigh Chase) e Elizabeth (Maggie Gyllenhaal, que é na realidade irmã de Jake Gyllenhaal). Uma noite Donnie é acordado por Frank, (James Duval) o coelho gigante, que o encaminha para fora de casa, profetizando fim o mundo dentro de pouco tempo, o que faz com que milagrosamente Donnie sobreviva a um acidente, quando o motor de um avião cai sobre a sua cama. Sobe o comando de Frank, Donnie, que vivencia o conturbado período da adolescência, reivindicando as suas ideologias, começa a cometer atos de vandalismo contra entidades opressoras, até que o conceito da viagem no tempo modifica a sua perceção da vida e das pessoas que o rodeiam.

O filme conta ainda com a participação de Drew Barrymore, Patrick Swayze, Jena Malone, Seth Rogen e Beth Grant. Um fantástico leque de atores, uma história claramente interessante e uma banda sonora brilhante, tornaram-no num filme de culto pela crítica e pelo público, por ser tão incomum e possibilitar tantas e diferentes interpretações.

Por um lado, podemos acreditar que o filme decorre na mente de Donnie, que se encontra dividido entre as suas alucinações e o sentido da vida e da morte.

Por outro, podemos considerar a visão do filme pelo conceito das viagens no tempo, e nesse caso, que este decorre numa realidade alternativa. Este conceito é explicado pela teoria descrita no livro “A Filosofia da Viagem no Tempo” escrito pela personagem Roberta Sparrow (Patience Cleveland), que explica que o tempo, geralmente estável, poderá ocasionalmente ser corrompido por razões desconhecidas, e quando isso acontece, um Universo Tangente é criado – uma realidade paralela alternativa ao universo em que vivemos – e que apenas uma pessoa tem o poder de manipular para que tudo possa voltar ao normal.

Podemos ainda considerar uma junção de ambas explicações ou nenhuma delas e focarmo-nos nos simbolismos que encontramos ao longo do filme relacionando, por exemplo, a religião com o enredo.

Além disso o filme encerra uma potente crítica aos clichés da sociedade americana da época, muito bem acondicionada principalmente entre as guerras dos liberais e dos conservadores. É um filme rebelde e de difícil classificação, repleto de simbolismos que converge teorias, autores e ideias, muito complexo e que requer mais do que uma visualização para que possamos considerar todas as possibilidades.

Kelly deixa ainda muitas informações caricatas e novos dados no website do filme e nos comentários do DVD, onde existe uma versão alargada do filme, com cerca de 20 minutos adicionais, que impulsionaram novas ideias de discussão para os fãs, desta forma tornando Donnie Darko um filme que viaja, ele próprio, através do tempo.

"Donnie Darko" (2001)

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