“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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América Proibida (1998) – Poderoso
A semana foi marcada pelas várias notícias em torno da atitude do jogador do Barcelona, Daniel Alves, alvo de insultos racistas, nomeadamente por lhe ter sido atirada uma banana durante um jogo, que naturalmente descascou e deu uma valente dentada, demonstrando uma postura superior relativamente ao ato deplorável dos adeptos. Esta atitude impulsionou a campanha, “Somos Todos Macacos” lançada por Neymar, que incendiou as redes sociais. Mais tarde veio a questionar-se a espontaneidade do jogador, e o interesse das marcas que se aliaram à campanha. Contudo, polémicas à parte, nunca é demais refletir sobre a discriminação, o racismo e os seus efeitos, e aqui para nós, principalmente quando acompanhados por um filme envolvente e poderoso como é o caso de América Proibida.
Do realizador Tony Kaye, com argumento de David McKenna e a participação de Edward Norton, nomeado para um Óscar da Academia pelo seu papel, Edward Furlong, Elliott Gould e Beverly D’Angelo, este é um filme chocante mas indispensável para aqueles que querem uma experiência cinematográfica relevante do ponto de vista do pensamento crítico.
A própria divisão cultural do mundo despoleta em cada indivíduo uma necessidade de defender as suas crenças. Ao idolatrar a sua cultura acaba, muitas vezes, por descriminar as outras, daí que o preconceito se torne socialmente aceite por vários grupos. América Proibida fala-nos do movimento neo-nazi nos Estados Unidos da América, com recurso à relação entre dois irmãos Derek e Danny que seguem a ideologia deste grupo, numa América multicultural onde a violência racial, o preconceito e a discriminação se destacam.
Derek Vinyard (Edward Norton) é um jovem racista e preconceituoso que vive abalado pela perda precoce do seu pai, um bombeiro que foi baleado enquanto tentava apagar um incendio num “bairro negro”. O seu sentimento de repulsa pelas “minorias” aliado ao dom da palavra, que conquista multidões, graças aos discursos de incentivo ao ódio, tornam-no no líder de um perigoso grupo de skinheads, que o idolatram e o vêm como um exemplo a seguir.
Aquando do assassinato de dois indivíduos negros que tentavam assaltar-lhe o carro (protagonizando uma das cenas mais chocantes de todo o filme, e eu diria do cinema) Derek é preso e condenado a três anos na cadeia.
Agora, de volta a casa, Derek é ansiosamente aguardado pela sua família e amigo, mas sobretudo pelo seu irmão mais novo, Danny (Edward Furlong), a quem lhe o Professor Sweeney (Avery Brooks) terá proposto fizesse um trabalho escolar baseando-se na vida do irmão. Contudo, a estadia na prisão fez com que Derek se tornasse um homem diferente, que agora terá que lutar por salvar o seu irmão da violência que sempre incitou nele.
O que Derek compreende após uma dura passagem pela prisão é que os seres humanos partilham particularidades com os seus antecedentes, que lhes permitem ter uma identidade, como é o caso das características fenotípicas como a cor do cabelo, dos olhos ou da pele. Contudo, apesar da diversidade, partilham todos a mesma herança genética, daí que pensamentos negativos e discriminatórios percam o seu fundamento, conduzindo invariavelmente à conclusão de que raça existe apenas uma, a raça humana.