“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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Mary and Max (2009) – Animação para Crescidos
Adam Elliot é o responsável pela realização e argumento deste filme em claymation, o estilo de animação em stop motion (técnica de animação fotograma a fotograma) que utiliza objetos esculpidos em barro ou plasticina. O filme é narrado por Barry Humphries, e conta com a voz de Toni Collette, Philip Seymour Hoffman e Eric Bana.
Baseado em factos reais, conta a história de Mary (voz de Bethany Whitmore e Toni Collette) uma menina Australiana de 8 anos de idade que se torna amiga de Max (voz de Philip Seymour Hoffman), um Nova-Iorquino de 44.
Mary é uma menina reservada e sonhadora, que passa os seus dias a ver os seus desenhos animados preferidos – “Os Noblets”. Curiosa e intrigada com do mundo que a rodeia, Mary constrói os seus próprios brinquedos e conversava com o seu galo de estimação.. Com uma mãe negligente e violenta que sofre de alcoolismo, um pai ausente da sua vida, Mary é ainda vítima de bullying por ter uma mancha na testa e vive sonhando um dia poder ter amigos, como os desenhos animados na televisão.
Entretanto em Nova Iorque, Max, que também adora “Os Noblets”, sofre de obesidade e Asperger (a mesma perturbação de que falamos anteriormente no filme “Adam”), gosta de comer cachorros quentes de chocolate, tem dificuldade em perceber a linguagem não-verbal e em comunicar adequadamente com os outros. Partilha a sua casa com um peixe, um gato, caracóis com nomes de cientistas famosos e um periquito. Assim como Mary é um solitário que tem grande dificuldade em interagir com outros seres humanos, tendo sido também vítima de bullying em criança.
Um dia as suas vidas cruzam-se quando Mary resolve enviar uma carta a um desconhecido na América, à qual Max, após grande sofrimento pelo stress que esta novidade lhe trouxe, respondeu, iniciando a correspondência e partilha de pensamentos filosóficos entre ambos, que se prolonga por mais de 20 anos e se transforma numa forte amizade.
O filme aborda vários dramas pessoais como a depressão, o perdão, a violência, o alcoolismo, a agorafobia, a obesidade, mas sobretudo a crítica a uma sociedade autocentrada, misturando-as entre o humor e o drama.
Envolto em simbolismo, este filme com poucas falas, é especial pela sua simplicidade e inocência, pela forma como aborda a amizade verdadeira, para além da barreira da idade, da distância, e das diferenças. Os pequenos gestos de verdadeira preocupação e interesse partilhados pelas personagens são simplesmente uma delícia, adaptando-se ao longo do crescimento de Mary e do envelhecimento de Max, passando por altos e baixos nas suas vidas e na sua própria relação.
O mundo de Mary é castanho, a sua cor preferida, e o mundo de Max é preto e branco, como a sua maneira lógica de visualizar a realidade. Poucos além dos objetos que simbolizam a sua amizade são coloridos, enaltecendo a importância da sua relação no colorir das suas vidas, mas também da própria pelicula. A banda sonora é também muita riqueza, criando sensação de aperto na barriga nas situações de maior envolvência.
Este filme não estreou em Portugal mas quem gosta de animação e de histórias com profundidade não pode perder esta preciosidade, não há outro filme como “Mary and Max”.