“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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Memento (2000) – Poderosa Memória
“Memento” é um filme realizado e escrito pelo conhecido e aclamado Christopher Nolan, baseado no conto “Memento Mori” de seu irmão, Jonathan Nolan, e que foi nomeado em 2002 para os Óscares de melhor argumento original e melhor edição.
Este filme retracta a história de Leonard Shelby (Guy Pearce), um homem que sofre de amnésia anterrogada, um défice severo na capacidade de armazenar novas informações e que se traduz na perda da informação adquirida após o momento da amnésia. A sua “condição” é resultado de uma lesão no hipocampo que Leonard sofreu aquando de um ataque feito por dois homens na sua casa, no qual a sua mulher acaba por falecer.
Leonard torna-se obsessivo com a morte da mulher, pois esta é a sua última recordação e dedica-se dia após dia a encontrar o seu assassino, movido pela “sede” de vingança. Devido à incapacidade que tem em guardar memórias, Leonard tatua no próprio corpo os novos dados adquiridos na sua investigação. Utiliza também uma máquina fotográfica instantânea que lhe permite fotografar e realizar pequenas anotações nas fotografias para que mais tarde lhe sirvam de ponto base no que havia já sido feito. As fotografias são utilizadas, por exemplo, para se lembrar onde está hospedado ou dos nomes e números de telefone das pessoas que o vão ajudando no decorrer da sua investigação.
Existem duas personagens durante o filme que se encontram dispostas a ajudar Leonard, Teddy (Joe Pantoliano) que é um agente da polícia infiltrado e Natalie (Carrie-Anne Moss) que trabalha num bar e é namorada de um “famoso” e perigoso traficante de drogas. Ao longo do desenrolar da película percebemos que ambos se aproveitam, muitas vezes, do problema de Lenny, virando e revirando a sua vida.
Os eventos do filme são separados em duas narrativas, a que acontece a preto e branco, que apresenta uma ordem cronológica, e a colorida, que apresenta uma ordem reversa. No final, as duas narrativas convergem.
Um dos filmes mais criativos de sempre, foi um sucesso de bilheteira e é ainda hoje aclamado pela crítica, e pela comunidade científica quanto à sua interpretação da amnésia anterrogada. Além disso, não deixa de ser um fantástico thriller envolto em mistério e drama que nos prende ao ecrã quer pela necessidade de acompanhar as narrativas que se intercalam mas também para acompanhar a jornada de Leonard.
Leonard acredita ter construído o sistema perfeito que lhe permitirá lidar com a sua perturbação de memória e mesmo assim conseguir o seu objetivo de encontrar os culpados pela morte da esposa. Mas não será a memória um instrumento demasiado valioso para que se consiga substituir pela disciplina e a organização? E que efeito tem a memória na nossa identidade? Em “O Despertar da Mente” discutimos as consequências da perda das memórias que guardamos, em “Memento” refletimos sobre o efeito de memórias que não conseguimos guardar.