“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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Diário de um Escândalo (2006) – Aminimigas
Duas aclamadas vencedoras do Óscar da Academia dividem o protagonismo neste magnífico drama. Em “Diário de um Escândalo” (“Notes on a Scandal”) Judi Dench (a famosa M dos filmes de 007) é Barbara, uma mulher solitária, sem amigos, professora de história, que governa a sala de aula com punho de ferro. Quando conhece Sheba (Cate Blanchett, a belíssima Galadriel da triologia de Senhor dos Anéis), a nova e descontraída professora de arte, a sua vida muda drasticamente. Barbara e Sheba tornam-se amigas e confidentes, partilhando momentos de grande cumplicidade.
No entanto, Barbara fica obcecada com a sua relação com Sheba, revelando-se possessiva e controladora. Ao descobrir que Sheba está envolvida num relacionamento amoroso com um estudante menor de idade, aproveita para fazer com fique para sempre em dívida consigo guardando o seu segredo e exacerbando o sentimento de amizade entre as duas.
Há medida que o tempo vai passando e Barbara se torna mais exigente com Sheba, ameaçando a qualquer momento revelar o segredo ao seu marido (Bill Nighy) e ao resto do mundo, são as suas próprias cifras negras que se vão revelando.
É um filme britânico baseado no romance homónimo de Zoe Heller, com argumento Patrick Marber (argumentista de “Perto Demais”) e realização de Richard Eyre (também realizador de “Iris”), que depende essencialmente de uma história sólida e envolvente e de uma brilhante representação. Foi nomeado para quatro Óscares da Academia e três Globos de Ouro, pelas atuações destas duas grandes atrizes, pelo seu argumento e música, mas acabou por não vencer nenhum destes prémios.
É um bom retrato de como é difícil para o ser humano lidar com as espectativas que cria dos outros e de si próprio. Mostra como podemos agir de forma imprevisível, quando nos deixamos controlar pelas emoções negativas, como os ciúmes, a vingança, a inveja e o desejo desmedido, e a importância de que uma boa autoestima e autoconfiança podem ter nessas situações, sem descorar a noção das normas da vida em sociedade e da realidade.
Além disso, permite questionar o que é certo e errado, e compreender a facilidade com que alguém se pode tornar perigosamente obstinado sem recorrer a exemplos situações extremistas. Necessitou apenas de um retrato de uma realidade “next door”, de duas pessoas que procuram equilíbrio entre a solidão e a partilha, amor e aceitação. E afinal não é isto que todos procuramos?