“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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The Experiment (2010) – Poder Irreal
Voltando de novo as nossas atenções para filmes que não conseguiram estrear em Portugal falo-vos esta de semana de “The Experiment”, um filme de Paul Scheuring, conhecido pela realização da famosa série “Prison Break”.
Este é um filme baseado numa experiência verídica, que em tempos estudei na faculdade, e que, de uma forma sucinta, pressupunha que um número de estudantes universitários representassem o papel de polícias numa prisão construída de forma improvisada na cave da faculdade de Stanford, enquanto o restante grupo de voluntários, também estudantes universitários, representaria o papel de prisioneiros, com o propósito de explorar os efeitos psicológicos de serem colocados nestas posições. A experiência foi realizada em 1971 e conduzida pelo psicólogo Phillip Zimbardo, de forma extremamente real. Os prisioneiros foram retirados de suas casas por um carro patrulha, intimados de vários crimes, e condenados a várias penas. Aos guardas foram dadas roupas, objetos e instruções claras acerca do seu papel. Os resultados desta experiência foram chocantes e conduziram a graves danos psicológicos para os participantes.
Se nunca questionaram a influência do contexto na forma de agir das pessoas este é um filme que devem ver.
No filme um grupo 26 de homens inscreve-se para participar voluntariamente na experiência científica conduzida pelo Dr. Archaleta (Fisher Stevens), onde lhes é explicado que vão ser divididos em dois grupos e representar o papel de guardas e prisioneiros numa prisão abandonada. Todos devem cumprir determinadas regras para que no final da experiência sejam remunerados. O que parece uma simples tarefa depressa ganha contornos inimagináveis, oferendo dados importantes acerca de como se lida com regras, controlo e poder. É extraordinário, curioso e assustador verificar o modo como os sujeitos se apoderam de um papel e agem de forma tão surpreendentemente diferente do que se poderia esperar.
Na altura quando vi o documentário não quis acreditar, o que acontece com muitas das pessoas que viram o filme, cujos comentários evidenciam a incredulidade, principalmente no que diz respeito ao fator tempo. Esta visão permite-nos ainda estabelecer o paralelismo entre situações de outras realidades, onde a existência de hierarquias, mesmo que simbólicas, permite a afirmação de poder de uns sobre outros, e que pode facilmente conduzir a situações de abuso ou violência.
Este thriller dramático é um remake de um filme alemão de 2001 “A Experiência” (“Das Experiment”), realizado por Oliver Hirschbiegel que também realizou “A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich” e que se baseia no livro “Black Box” de Mario Giordano.
A versão de Hollywood conta com um elenco de luxo, incluindo atores como Forest Whitaker, Adrien Brody, Cam Gigandet, Clifton Collins Jr., entre outros, que funcionam como chamariz para o público, no entanto, diz quem viu que fica aquém da versão original no que diz respeito ao desenvolvimento das personagens e do enredo.
Desafio-vos portanto a verem o filme, se ultrapassarem a barreira linguística, a verem o original, e ainda a darem uma vista de olhos no documentário acerca da verdadeira Experiência da Prisão de Stanford.