As Escolhas de Sofia #9 (O Túmulo dos Pirilampos)

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As Escolhas de Sofia

A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que, de alguma forma, merecem protagonismo pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. 

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O Túmulo dos Pirilampos (1988) – A Guerra dos Esquecidos

Quem me conhece sabe que sou uma apaixonada por filmes de animação, portanto já tardava recomendar-vos um filme deste género. Contudo, não se deixem enganar, este é um dos filmes mais dramáticos e tocantes de sempre.

Realizado por Isao Takahata, que escreveu o argumento baseando-se no livro semi-autobiográfico de Akiyuki Nosaka, este filme foi a única opção que o autor aceitou para retratar a história que escreveu como um pedido de desculpa à sua falecida irmã.

Nosaka considerava que seria impossível criar um cenário suficientemente fiel ao pano de fundo da história num filme convencional, e que as crianças contemporâneas não seriam capazes de representar convenientemente os papéis das personagens. Assim, quando lhe foi apresentada a possibilidade de fazer um filme de animação, Nosaka não deixou escapar a oportunidade.

A animação japonesa é rica em simbolismos e em diferentes interpretações, dando espaço à compreensão dos diferentes pontos de vista das histórias que conta, incitando sempre à reflexão. Neste caso, o filme retrata a vida de dois irmãos, Seita (Tsutomu Tatsumi) e Setsuko (Ayano Shiraishi) no período da Segunda Guerra Mundial, no Japão. O seu pai é recrutado para a frente de batalha por fazer parte da marinha Japonesa e a sua mãe morre vítima de um bombardeamento, deixando ambos entregues a si próprios.

Inicialmente Seita e Setsuko são acolhidos por uma tia que gradualmente os vai desprezando por serem “mais duas bocas para alimentar”, o que faz com que os irmãos abandonem a casa e se refugiem num armazém abandonado. Sem mantimentos e apoio, numa cidade devastada pela guerra, Seita faz o que pode para proporcionar o mínimo de conforto à sua irmã, tentando a todo o custo preservar a inocência da mesma.

Ainda assim, Seita e Setsuko não deixam de ser um adolescente de catorze anos e uma menina de quatro, obrigados a amadurecer rapidamente, que tentam cuidar um do outro e serem felizes com as pequenas alegrias que a vida ainda lhes proporciona, mas que também cometem os erros imaturos próprios desta fase da vida.

As consequências nefastas da guerra são expostas do ponto de vista dos esquecidos, dos inocentes que tentam sobreviver no caos, mas que inevitavelmente sucumbem aos sentimentos de indiferença e ao menosprezo que se instala quando está em causa a sobrevivência. Assim, ao longo do filme, vemos as crianças serem negligenciadas pelos adultos com quem se cruzam, o que inevitavelmente os conduz a um final trágico.

Não é surpresa para quem aprecia animação japonesa a emotividade demonstrada pelas personagens: é uma representação real e mais expressiva do que muitas obras cinematográficas em imagem real. “O Túmulo dos Pirilampos” foi considerado um dos melhores e mais poderosos filmes envolvendo as consequências da guerra, proporcionando ao espectador uma experiência sem precedentes. É um retrato da força dos afetos, da potencialidade do ser humano em se adaptar e ultrapassar obstáculos, mas também da sua fragilidade. É marcante e emocionante. Um filme obrigatório.

O Túmulo dos Pirilampos (1988)_1

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