“Asteroid City” – Mais um quadro deslumbrante, que nos abraça na forma confortável que Wes Anderson já nos habituou

Asteroid City (2023), de Wes Anderson Asteroid City (2023), de Wes Anderson

“Asteroid City”, ou na verdade, “cosmic wilderness”, novo filme de Wes Anderson, é de facto uma selva cósmica que abraça o espectador oferecendo o traço cinematográfico característico do realizador, co-escrito por Roman Coppola, e com interpretações que naturalmente boas, num elenco de luxo que une várias gerações de atores e que, presumivelmente irá unir gerações de espectadores.

Quando se pensa e anseia por um filme do realizador de “O Grande Hotel Budapeste” (2014) ou “O Fantástico Senhor Raposo” (2009), aguarda-se também pelo toque individual, jogo de cores, simetria e cenários sui generis, em que para além de se poder ver um filme, desfruta-se também uma obra de arte, em tom pessoal, aconchegante.

“Asteroid City” não é diferente, aliás, é igualmente singular, quando comparado com outras películas do realizador e, da mesma maneira, convidativo a um momento agradável para o público.

Estamos perante a construção de uma peça, difícil de compreender e difícil também de explicar, o ator, Brian Cranston narra em conjunto com o espectador, a edificação do pensamento de um escritor que desenha o contexto a sua criação. O filme tem como cenário uma cidade, desértica e aparentemente hostil, cuja sua principal atração é a cratera de um asteroide.

Um grupo de jovens e os seus familiares encontram-se neste contexto para a apresentação de projetos de investigação concebido por estas crianças, quando são surpreendidos pela presença de uma figura alienígena.

A longa-metragem, envolta na intriga alienígena, revela-se agora como o clímax de “Asteroid City”, indo além do que o público já conhece. Entre mudanças de cenários, entre o pintor e a arte, o espetáculo e o realizador, procuram-se respostas para os significados que atribuímos à experiências da “nossa” vida.

Ao longo do desenrolar da história, envolvidos na urgência das ações das personagens e na sua existência, pouco nos é dito sobre cada um dos protagonistas, mas Wes Anderson confere- lhes uma complexidade extraordinária e igualmente improvável em cerca de duas horas. Num curto espaço de tempo, conseguimos conhecer e interpretar emocionalmente os intérpretes e as suas experiências.

O realizador confere à sua obra algo que vai para além da presença caricata de um alien. Resume-se, no meu ponto de vista, às conversas e à intimidade superficial de duas personagens, em diferentes fases das suas vidas, Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) e Midge Campbell (Scarlett Johansson), que apesar de envoltos no cómico quase ridículo inerente ao leque cinematográfico de Anderson, conferem, de uma forma quase que especial, o novo filme do realizador.

O que é que significa a vida? É uma questão apresentada várias vezes e de formas distintas do filme. Acredito que Wes Anderson respondeu a esta questão na forma peculiar a esta pergunta. É tudo e não será nada. A vida é a perda, viuvez e saudade de uma família que perdeu um membro. É a tristeza e solidão de uma atriz renomada. O amor jovem e desajeitado. A amizade ocasional e de circunstância. E é, também, nada, porque na verdade o que se passou não tem uma explicação metafísica e enigmática e às vezes, resume-se simplesmente ao inexplicável.

Creio ser esta a mensagem transmitida, num filme agradável, que não ilude fãs do trabalho de Anderson. Mantém a singularidade fotográfica, bonita e de certa forma desenhada na perspetiva metódica que já conhecemos, acompanhada pela também fabulosa banda sonora da autoria de Alexandre Desplat, e que em conjunto com Robert Yeoman (diretor de fotografia) criam um filme fundamental para fãs e para quem ainda não conhece ou será cético à tarefa de Wes Anderson.

Estou certa de que este filme aconchegou-me, oferecendo-me uma experiência visual calorosa, ao mesmo tempo que o próprio argumento passeia “superficialmente” na questão hegemónica da vida, o seu significado, sem dissecar de forma labiríntica o seu sentido.

Asteroid City (2023), de Wes Anderson
“Asteroid City” – Mais um quadro deslumbrante, que nos abraça na forma confortável que Wes Anderson já nos habituou
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