“Asteroid City”, ou na verdade, “cosmic wilderness”, novo filme de Wes Anderson, é de facto uma selva cósmica que abraça o espectador oferecendo o traço cinematográfico característico do realizador, co-escrito por Roman Coppola, e com interpretações que naturalmente boas, num elenco de luxo que une várias gerações de atores e que, presumivelmente irá unir gerações de espectadores.
Quando se pensa e anseia por um filme do realizador de “O Grande Hotel Budapeste” (2014) ou “O Fantástico Senhor Raposo” (2009), aguarda-se também pelo toque individual, jogo de cores, simetria e cenários sui generis, em que para além de se poder ver um filme, desfruta-se também uma obra de arte, em tom pessoal, aconchegante.
“Asteroid City” não é diferente, aliás, é igualmente singular, quando comparado com outras películas do realizador e, da mesma maneira, convidativo a um momento agradável para o público.
Estamos perante a construção de uma peça, difícil de compreender e difícil também de explicar, o ator, Brian Cranston narra em conjunto com o espectador, a edificação do pensamento de um escritor que desenha o contexto a sua criação. O filme tem como cenário uma cidade, desértica e aparentemente hostil, cuja sua principal atração é a cratera de um asteroide.
Um grupo de jovens e os seus familiares encontram-se neste contexto para a apresentação de projetos de investigação concebido por estas crianças, quando são surpreendidos pela presença de uma figura alienígena.
A longa-metragem, envolta na intriga alienígena, revela-se agora como o clímax de “Asteroid City”, indo além do que o público já conhece. Entre mudanças de cenários, entre o pintor e a arte, o espetáculo e o realizador, procuram-se respostas para os significados que atribuímos à experiências da “nossa” vida.
Ao longo do desenrolar da história, envolvidos na urgência das ações das personagens e na sua existência, pouco nos é dito sobre cada um dos protagonistas, mas Wes Anderson confere- lhes uma complexidade extraordinária e igualmente improvável em cerca de duas horas. Num curto espaço de tempo, conseguimos conhecer e interpretar emocionalmente os intérpretes e as suas experiências.
O realizador confere à sua obra algo que vai para além da presença caricata de um alien. Resume-se, no meu ponto de vista, às conversas e à intimidade superficial de duas personagens, em diferentes fases das suas vidas, Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) e Midge Campbell (Scarlett Johansson), que apesar de envoltos no cómico quase ridículo inerente ao leque cinematográfico de Anderson, conferem, de uma forma quase que especial, o novo filme do realizador.
O que é que significa a vida? É uma questão apresentada várias vezes e de formas distintas do filme. Acredito que Wes Anderson respondeu a esta questão na forma peculiar a esta pergunta. É tudo e não será nada. A vida é a perda, viuvez e saudade de uma família que perdeu um membro. É a tristeza e solidão de uma atriz renomada. O amor jovem e desajeitado. A amizade ocasional e de circunstância. E é, também, nada, porque na verdade o que se passou não tem uma explicação metafísica e enigmática e às vezes, resume-se simplesmente ao inexplicável.
Creio ser esta a mensagem transmitida, num filme agradável, que não ilude fãs do trabalho de Anderson. Mantém a singularidade fotográfica, bonita e de certa forma desenhada na perspetiva metódica que já conhecemos, acompanhada pela também fabulosa banda sonora da autoria de Alexandre Desplat, e que em conjunto com Robert Yeoman (diretor de fotografia) criam um filme fundamental para fãs e para quem ainda não conhece ou será cético à tarefa de Wes Anderson.
Estou certa de que este filme aconchegou-me, oferecendo-me uma experiência visual calorosa, ao mesmo tempo que o próprio argumento passeia “superficialmente” na questão hegemónica da vida, o seu significado, sem dissecar de forma labiríntica o seu sentido.