Estreou no inicio do mês de fevereiro e chega agora à FILMIN, em Portugal, a primeira longa metragem de ficção de Leonor Teles, a mais nova realizadora a receber um Urso de Ouro para curtas-metragens no Festival de Berlim, relativo à curta “Balada de um Batráquio”. Desta feita a realizadora apresenta-nos “Baan”, cujo título significa “casa” em tailandês, sendo esse espaço, mais afectivo do que físico, que serve de abrigo. Entre Lisboa e Bangkok, entre passado, presente e futuro, as linhas cruzam-se, as histórias cruzam-se.
Ao primeiro olhar destaca-se logo por uma série de elementos cinematográficos um elogio e referencia a alguns realizadores asiáticos. A transição de planos fraturados começa com referência a um filme, “Millennium Mambo” de Hou Hsiao-Hsien, especificamente a introdução do filme acima mencionado, onde o personagem principal caminha por uma passagem de túnel na calada da noite sob uma fileira de luzes fluorescentes. A coloração, grão e movimentos de câmera leva-nos para o imaginário de Wong kar Wai. As deambulações e o contraste dos cenários interiores e exteriores muito ao jeito de Lou Ye. Tudo isto junto e a fazer muito sentido como uma amálgama bem composta para nos contar uma história simples mas recheada de detalhes bem actuais e que merecem ser pensados e discutidos.
A sensação de nos sentirmos desajustados nas grandes cidades que nos parecem querer dali para fora, gentrificação, habitação especulada, emigração, xenofobia, racismo, um rol de problemas que nos assolam. Escritos como gritos, desabafos nas paredes Lisboa pelas duas protagonistas do filme, L (Carolina Miragaia) e K (Meghna Lall). Um argumento um pouco desajeitado, apressado às vezes onde fica à mostra um pouco da falta de experiência na escrita deste tipo de cinema. Falta alguma fluidez e uma prestação menos rígida, mais natural das duas actrizes.
“Baan” é ao mesmo tempo um filme romântico, um retrato geracional sobre a cada vez mais difícil transição para a vida adulta. Embrulhado numa cuidada e deliciosa banda sonora, presente nos momentos chave do filme. A “Casa” é também o sítio onde os outros nos habitam, seja na presença de uma relação, nas amizades próximas ou à distância, seja nas ausências, nas partidas, no ghosting. É também o sitio onde habitamos os outros.
