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«Be Natural: The Untold Story Of Alice Guy-Blaché» – O resgate de uma pioneira

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A norte-americana Pamela B. Green merece muitos aplausos por sua estreia em longa-metragem com “Be Natural: The Untold Story Of Alice Guy-Blaché”, que ela produz, escreve, dirige e edita. Seu trabalho de investigação em França e nos Estados Unidos, que assume um lado aventureiro de detective, visa tirar do esquecimento a primeira realizadora da história do cinema: Alice Guy-Blaché.

Narrado por Jodie Foster, “Be Natural” apresenta-nos vida e obra de Alice Guy, com mais de mil títulos realizados até 1919, e fundadora do cinema como o conhecemos hoje, ao lado dos irmãos Auguste e Louis Lumière. Já ouviu falar nela? Pois, o filme mostra exactamente o motivo de Alice ter caído no anonimato e como, mais tarde, ela brigou para defender a autoria de suas obras numa indústria que passou a ser dominada por homens de negócios.

Autodidacta, Alice Guy era secretária do inventor e engenheiro León Gaumont quando, com total apoio dele, assinou seu primeiro filme em 1896, aos 23 anos. “A Fada do Repolho”, com duração de um minuto, é considerada a primeira narrativa ficcional do cinema.

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É abordada sua trajetória como chefe de produção do estúdio de cinema de Gaumont, com excertos de suas maravilhosas produções, que iam do cómico ao suspense, até quando ela se muda para os EUA com o marido, o cinegrafista Herbert Blaché, e funda os estúdios Solax, em 1910, em Fort Lee, Nova Jersey.

O título do filme de Green, “Be Natural”, não é à toa. Essa era justamente a frase escrita num cartaz enorme pendurado no set de filmagem em que a única ordem de Alice Guy aos seus actores era a de que agissem naturalmente em frente às câmaras. Nessa fase, ela fazia até três filmes por semana. Apenas 140 dos mais de mil títulos que ela escreveu, dirigiu ou produziu sobreviveram, a maioria em fragmentos recuperados pela Federação Internacional de Arquivos de Filmes.

A realizadora também foi pioneira ao trabalhar com cores, close-up, efeitos especiais e gravações de áudio sincronizadas na era do cinema mudo. Os temas de seus filmes cercavam família, maternidade, empoderamento feminino, imigração, violência, assuntos polémicos para espectadores que se assustavam apenas com a chegada de um comboio na estação. Numa época em que as mulheres nem votavam, Alice Guy se concentrou em trabalhar nas várias possibilidades que o cinema oferecia através de tentativa e erro, contratando profissionais, centenas de figurantes e incentivando nomes como Lois Weber e Dorothy Arzner.

Apesar de exagerar no uso de gráficos e de entrevistas feitas com toda a Hollywood, é emocionante acompanhar o processo de descoberta de Pamela B. Green. Artefactos raríssimos guardados em caixas, como uma medalha de honra, fotos e cartas que nunca seriam levadas a público são parte dos estudos fílmicos e merecem essa valorização agora mais que nunca. Casos como o de Alice Guy-Blaché mostram como a história precisa de ser revisada e destacam a relevância dos investigadores de cinema irem sempre aos arquivos para que mais histórias de mulheres sejam reveladas.

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