Skip to content

Berlim 2019: Do mainstream auteur ao cinema de choque

La Paranza dei Bambini Piranhas 1 La Paranza dei Bambini Piranhas 2

Foram escolhidos na quinta-feira os últimos filmes do programa mais aguardado da próxima edição do Festival de Cinema de Berlim. Sem muitas surpresas, a secção competitiva do festival segue com a sua mistura habitual de nomes que vão do completamente desconhecido ao mainstream do circuito art-house europeu. Dos 23 filmes selecionados para competição, seis passam fora de concurso. É o caso dos aguardados “Vice”, o documentário de Adam McKay que segue os passos do ex vice-presidente americano Dick Cheney na sua trajetória para se tornar num dos mais poderosos políticos dos Estados Unidos, sob a então tutela de George W. Bush. “Marighella”, a estreia do ator Wagner Moura (protagonista de “Tropa de Elite”, Urso de Ouro em 2008) na realização é outro filme a compartilhar semelhanças com o atual cenário político. Neste caso, o do Brasil. O filme conta a história de Carlos Marighella, conhecido opositor da ditadura militar no Brasil, que aconteceu entre os anos de 1964 a 1985. Wagner Moura é abertamente contrário ao governo do novo presidente Jair Bolsonaro e já se espera que protestos façam parte da estreia do filme no festival.

Completam os outros títulos fora de concurso “L’adieu à La Nuit”, de André Téchiné, o aguardado “Amazing Grace”, documentário sobre Aretha Franklin, “The Operative”, do israelita Yuval Adler, e a francesa Agnès Varda com o seu meta-documentário “Varda par Agnès”. Por via de regra, a distinção “fora de concurso” é atribuída aos filmes que já tiveram sua estreia mundial em seus países de origem.

Outros 17 filmes concorrem ao prémio máximo do festival e incluem outros nomes muito aguardados, como é o caso de “One Second”, o último de Zhang Yimou; “Elisa & Marcela”, da espanhola Isabel Coixet; Fatih Akin outro darling do festival, Urso de Ouro em 2004 por “Head On – A Esposa Turca”, concorre com “The Golden Glove”, que conta a história real do assassino em série Fritz Honka, responsável pelo assassinato de quatro prostitutas em Hamburgo nos anos 1970.

banners maio 2025 2 3
Publicidade

O gosto pela polémica

A imprensa alemã já se apressou em acusar o festival deste ano de não ter “nomes quentes” na sua programação, afirmando que o seu diretor Dieter Kosslick perdeu a oportunidade de deixar o festival em grande estilo. Kosslick despede-se de Berlim, depois de 20 anos à frente do festival. O diretor viu-se envolvido em alguma controvérsia nos últimos anos, especialmente na edição do ano passado onde foi muito criticado pela longa lista de estreantes e desconhecidos no programa da competição e filmes de pouco impacto. Mas o festival sempre soube administrar bem as controvérsias a seu favor. Veja-se o controverso “Touch Me Not”, que teve na sua projeção para imprensa metade dos presentes a abandonar a sala a meio do filme. O filme de estreia da romena Aldine Pintilie acabou por levar a melhor e saiu vencedor do Urso de Ouro da edição de 2018.

Synonyms 4

Para a edição deste ano, alguns filmes anunciados já começam a criar um certo burburinho. E o “Synonyms”, do israelita Nadav Lapid, parece ser um destes. É a história de um jovem israelita que se muda para Paris na esperança de se libertar do trauma infernal da sua vida em Israel. O cartaz do filme, assim como o dos últimos filmes de Gaspar Noé, promove-se através do auto flagelo com vários adjetivos inflamados a cobrir a cara do protagonista. O realizador Nadav é o autor de “The Kindergarten Teacher”, uma elogiada produção israelita de 2014 que deu origem ao belíssimo e bem-sucedido remake americano com Maggie Gyllenhaal, produzido pela Netflix.

Outro filme que promete dar que falar é o último de François Ozon, “By The Grace of God”. O filme acompanha um homem de 40 anos a viver em Lyon com sua família quando descobre que o padre que o abusou sexualmente na infância continua em atividade e trabalhando com crianças. Ele junta-se a duas outras vítimas do padre e corre atrás da justiça tardia. História que faz lembrar “Sleepers” (1996), de Barry Levinson, só que no caso do americano, a sede de vingança era o combustível do filme. Mas Ozon não está interessado numa história de retaliação e disse que seu filme, talvez o mais político da sua filmografia, quer é fazer justiça às vítimas. O realizador inspirou-se na história real de Bernard Preynat, um padre acusado de abusar sexualmente meninos escuteiros entre 1986 e 1991 na França. Quem já viu o filme, afirma que é um dos trabalhos mais radicais e ousados do realizador francês. Kosslick comentou recentemente que a inclusão do filme no festival é uma afirmação do quão relevante o cinema pode ser, especialmente porque o inquérito do caso julgado começou a 7 de janeiro, sob intensa cobertura mediática. Segundo o diretor do festival, o filme estreará logo nos primeiros dias do festival.

Seleção Oficial
L’adieu à la nuit (Farewell to the Night), de André Téchiné (França) – Fora de concurso
Amazing Grace, de Alan Elliott (EUA) – Fora de concurso
Der Boden unter den Füßen (The Ground beneath My Feet), de Marie Kreutzer (Áustria)
Di jiu tian chang (So Long, My Son), de Wang Xiaoshuai (China)
Elisa y Marcela, de Isabel Coixet (Espanha)
Der Goldene Handschuh (The Golden Glove), de Fatih Akin (Alemanha)
Gospod postoi, imeto i’ e Petrunija (God Exists, Her Name is Petrunya), de Teona Strugar Mitevska (Macedónia)
Grâce à Dieu (By the Grace of God), de François Ozon (França)
Ich war zuhause, aber (I Was at Home, But), de Angela Schanelec (Alemanha)
The Kindness of Strangers, de Lone Scherfig (Dinamarca) – Filme de abertura
Kız Kardeşler (A Tale of Three Sisters), de Emin Alper (Turquia)
Marighella, de Wagner Moura (Brasil) – Fora de concurso
Mr. Jones, de Agnieszka Holland (Polónia)
Öndög, de Wang Quan’an (Mongólia)
The Operative, de Yuval Adler (Alemanha / Israel) – Fora de concurso
La paranza dei bambini (Piranhas), de Claudio Giovannesi (Itália)
Répertoire des villes disparues (Ghost Town Anthology), de Denis Côté (Canadá)
Synonymes, de Nadav Lapid (Israel / França)
Systemsprenger (System Crasher), de Nora Fingscheidt (Alemanha)
Ut og stjæle hester (Out Stealing Horses), de Hans Petter Moland (Noruega)
Varda par Agnès, de Agnès Varda (França) – Fora de concurso
Vice, de Adam McKay (EUA) – Fora de concurso
Yi miao zhong (One Second), de Zhang Yimou (China)