“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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Lars e o Verdadeiro Amor (2007) – Bizarro Amor Incondicional
Nomeado para um Óscar da Academia em 2008 para a categoria de Melhor Argumento Original, de Nancy Oliver, também responsável pelo argumento e produção de alguns episódios das séries “Sangue Fresco” e “Sete Palmos de Terra”, este filme realizado por Craig Gillespie conta com a participação de Ryan Gosling no principal papel, e Emily Mortimer, Paul Schneider e Patrícia Clarkson no restante elenco. É considerado uma comédia dramática, o que pode parecer paradoxal, mas que se compreende à medida que o filme se desenvolve.
Lars (Ryan Gosling) é um homem reservado, tímido e introvertido que vive na garagem do seu irmão – Gus (Paul Schneider), evitando qualquer contacto social até com este e a sua esposa – Karin (Emily Mortimer). Um dia um colega de trabalho mostra-lhe as bonecas de tamanho real que podem ser personalizadas, habitualmente para fins sexuais. Semanas depois, Lars apresenta Bianca à família, a sua nova namorada que é uma dessas bonecas. Mas este filme nada tem relacionado com sexo, Lars menciona que ele e Bianca se conheceram pela internet e mantém uma relação amorosa, tão real como qualquer outra.
Inicialmente instala-se a perplexidade, e o pensamento de que Lars estaria louco, mas rapidamente, por considerarem que este era um avanço na interação social de Lars, todos os habitantes da sua pequena cidade alinham na história, acolhendo Bianca na comunidade.
Pode parecer bizarra esta sinopse, mas na realidade existe muito para além da ideia base. É uma história metafórica que deixa as explicações a cargo do espetador, apostando nas suas capacidades emocionais. Fala-nos de solidão e otimismo, amor, compreensão e compaixão. Onde a aceitação e o respeito pelas diferenças são evidenciados. Além disso, existe um equilíbrio inteligente entre o humor e o drama, que prende o espectador ao ecrã e ao desenrolar do enredo, sem nunca cair no ridículo.
Na verdade existem comunidades de pessoas que se relacionam com estas bonecas, tendo verdadeiras relações emocionais (e físicas), em parte, à semelhança das crianças com os seus ursinhos de peluche. São companheiras, não criticam e aceitam incondicionalmente quem com elas se relaciona. Bianca, mesmo sendo uma boneca de plástico, inerte e sem vida, representa um papel especial neste filme, sendo aquela que conecta o mundo de Lars ao mundo dos outros e que lhe permite ultrapassar a sua ansiedade social.
Existem ainda algumas semelhanças com o mais recente e famoso filme “Her – Uma História de Amor” o vencedor do Óscar da Académica para melhor Argumento este ano. Neste caso, o filme podia a qualquer momento correr mal, mas o bom gosto do argumento, a maravilhosa interpretação dos atores, em especial de Gosling, não permite que tal aconteça. O papel de Lars, que desempenha notavelmente e domina por completo a pelicula, valeu-lhe uma nomeação ao Globo de Ouro. Lars tornou uma personagem acarinhada, inclusive pelo próprio ator que confessou ter-se relacionado mais com esta personagem do que com outras que tem representado ao longo da carreira. Gosling acredita, e eu sobrescrevo, que existe um pouco de Lars em cada um de nós, que procuramos apenas ser amados e aceites, sem imposições e condições.