“Booksmart: Inteligentes e Rebeldes”, que chega aos cinemas portugueses nesta quinta-feira (15 de agosto), é a primeira longa-metragem de Olivia Wilde como realizadora. Ativista, a atriz de filmes como “Tron: O Legado” e da série “Dr. House” é filha de jornalistas e já produziu documentários sobre temas como a guerra na Síria. Certamente é uma das vozes mais comprometidas com o feminismo em Hollywood nos dias de hoje.
Sua longa de estreia é uma comédia diferente de outras às quais a maioria do público está acostumado. “Booksmart” acompanha Molly (Beanie Feldstein, “Lady Bird”) e Amy (Kaitlyn Dever, “Beautiful boy”), duas amigas de infância que têm complexo de superioridade.
Molly vai para a Universidade de Yale, enquanto Amy passará o verão “em Botsuana, a ajudar mulheres a fazerem seus próprios tampões” antes de ir a Columbia. Elas têm identidades falsas, mas é para usar na biblioteca, e “Malala” é a palavra-segura (“safe word”) delas. As inteligentes e inseparáveis Molly e Amy estão tranquilas quanto à decisão de renunciar às festas para estudarem, até que, às vésperas da formatura, descobrem que “os colegas irresponsáveis” de sua classe também passaram nas universidades da Ivy League (excepto um deles, que conseguiu um emprego muito bom na Google).
Na noite anterior à formatura, Molly decide recuperar o tempo perdido, rebela-se e almeja ir a uma festa organizada pelo garoto popular do ensino médio, Nick (Mason Gooding). Já Amy não se anima, mas muda de ideia quando sabe que Ryan (Victoria Ruesga), a garota “tomboy” por quem ela é a fim, estará lá (sim, temos uma protagonista lésbica!). Uma cena brinca com a ignorância de Amy sobre como as lésbicas realmente fazem sexo, e sua vontade de descobrir. O único problema é que as duas amigas evitaram essa malta fixe nos últimos quatro anos e não têm a menor ideia de onde o evento de Nick irá acontecer. Um pouco como na famosa comédia “Superbad: É hoje” (2007) – estrelada por Michael Cera e Jonah Hill -, as amigas passam por várias situações inusitadas até chegarem finalmente na festa tão desejada.
Finalmente também uma comédia que eu, nascida quase nos anos 1990, queria ter visto na minha adolescência. Claro que “Booksmart” não é o primeiro filme a retratar essa imprudência adolescente da perspetiva feminina. Temos como exemplos: “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), “Meninas malvadas” (2004), e “A Mentira” (2010). Porém, ao se opor às tradicionais comédias sobre adolescentes com hormónios à flor da pele, como a franquia sexista “American Pie”, “Booksmart” entrega aquilo que os millennials (“geração Y”) queriam. Se chegou um bocado tarde aos cinemas, chegou. Afinal, pelo que eu saiba, já estamos na “geração Z”. Normalmente definidos como impacientes, os jovens da Z já são mais fãs de séries como “Euphoria” (HBO) e “Sex Education” (Netflix). Mas antes tarde do que nunca, não é?
O roteiro de “Booksmart” já circulava há anos por Hollywood sem aceitação. Olivia Wilde disse em entrevistas que pegou essa história em mãos por conta de Jessica Elbaum, que dirige a Gloria Sanchez Productions, e a filmou em 26 dias. Deve ter sido uma tarefa agradável para a realizadora já que Kaitlyn Dever e Beanie Feldstein são muito carismáticas e, às vezes, acabam por lembrar a dupla Abbi e Ilana, da série “Broad City”. Outros acertos são a banda sonora, que obviamente já encontra-se no Spotify, e o figurino criado por April Napier, que também fez “Lady Bird”.
Mas o factor mais importante é que muitas histórias, principalmente sobre mulheres jovens, falam sobre como elas tentam parecer/ser como as outras, para conseguir algum tipo de aceitação, ou buscam a realização através de um homem. “Booksmart” não só passa no Teste de Bechdel* como eleva os padrões da típica comédia juvenil mainstream. Em vez de reforçar os mesmos valores ultrapassados que os realizadores homens têm vindo a vender nos cinemas há anos, o filme questiona esses rótulos e encoraja os jovens a acreditarem em si mesmos, independentemente de estarem a frequentar uma escola da Ivy League ou não.
Para o fim deste ano, Olivia Wilde e a co-roteirista de “Booksmart”, Katie Silberman, deverão lançar outra comédia pela Universal Pictures. Que venham mais!
*Teste de Bechdel: conjunto de directrizes que averigua e incentiva a igualdade de género no cinema ao analisar numa história se há conversas entre pelo menos duas mulheres sobre assuntos que não homens, por exemplo.
Realização: Olivia Wilde
Argumento: Emily Halpern, Sarah Haskins
Elenco: Kaitlyn Dever, Beanie Feldstein, Jessica Williams
EUA/2019 – Comédia
Sinopse: Na véspera da sua cerimónia de graduação, duas grandes amigas e alunas brilhantes chegam à conclusão de que deviam ter estudado menos e brincado mais. Decidem então encaixar quatro anos de diversão perdida numa só noite.