Há quem diga que a Pixar é melhor a criar curtas-metragens do que longas. É verdade que no campo das curtas a Pixar sente-se como um peixe na água, dando sempre vida a histórias muito pequenas e simples que nos encantam. Histórias essas que num espaço de duração tão curto conseguem conter mais simbolismos e mensagens do que num filme de noventa minutos. Mas também é verdade que grande parte das longas-metragens da Pixar são verdadeiras obras-primas, provando que o estúdio também se sente confortável em histórias maiores. A nova curta-metragem da Pixar, que estreou juntamente com “Brave – Indomável”, chama-se “La Luna” e é a prova de que nas curtas o estúdio mantem-se imbatível, com mais uma deslumbrante e criativa história.
Quanto à longa, “Brave – Indomável”, faz-se história na Pixar ao ter pela primeira vez como protagonista uma mulher, na verdade, uma princesa. A história passa-se em terras escocesas com Merida, a filha do Rei Fergus e da Rainha Elinor, a preferir usar um arco e flecha do que a fazer coisas de princesa, como a sua mãe desejaria. Merida resolve mudar a mãe com um feitiço, dado por uma bruxa dos bosques. Mas tal ato leva a consequências trágicas e devastadoras para ambas e para o reino do seu pai.
A Pixar cria a personagem Merida, uma espécie de maria-rapaz e princesa guerreira que de novo não tem nada. Podemos pensar em princesas da Disney como Mulan ou Pocahontas, que se assemelham bastante a Merida, nas atitudes e espírito de independência e libertador. Um castelo, uma princesa, magia e alguma fantasia tornam “Brave” no primeiro conto de fadas do estúdio. O estúdio torna a optar por uma estrutura narrativa linear e um pouco infantil, com pouco humor. A história foca-se em temas familiares, na relação mãe e filha, que nunca foi muito feliz. Peca um pouco pelo truque que o estúdio optou para dar a volta à história, em fazer com que a mãe se transforme num urso, obrigando Merida e a mãe a passarem mais tempo juntas, aprendendo a respeitar-se uma à outra. Podemos aqui recordar o filme da Disney, “Kenai e Koda” (2003).
O ponto forte e surpreendente deste filme é sem dúvida a tenoclogia que o estúdio usa para criar os deslumbrantes cenários, em ambientes escoceses, medievais e sombrios da floresta. Mas o que nos prende o olhar é mesmo o cabelo de Merida, que parece mais real que a pessoa sentada ao nosso lado. O cabelo ruivo é algo que se identifica em qualquer plano do filme, em parte porque o filme usa muitos tons verdes e castanhos (género de filme de época), ao contrário do que é hábito ver nos restantes filmes da Pixar, que usa normalmente muitas cores vibrantes e saturadas. Já a banda sonora pouco se destaca, ao contrário do que se passa noutros filmes do estúdio. É verdade que usa a sonoridade escocesa e céltica que nos faz viver um pouco esse espírito, mas são poucos esses momentos.
A partir do momento em que o estúdio nos dá filmes como “Toy Story”, “Ratatui”, “Wall-E” ou “Up – Altamente!”, é de colocar sempre a fasquia elevada em cada novo filme que produza. Por isso acho que “Brave – Indomável”, apesar de não desiludir e de ser uma grande melhoria em relação a “Carros 2”, não foi o suficiente. Esperava-se mais da mais recente produção da Pixar.
Realização: Brenda Chapman
Argumento: Brenda Chapman, Irene Mecchi
Elenco: Kelly Macdonald, Emma Thompson, Kevin McKidd, Billy Connolly, Robbie Coltrane, Julie Walters, Craig Ferguson
EUA/2012 – Animação
Sinopse: Merida é uma habilidosa arqueira e a impetuosa filha do Rei Fergus e da Rainha Elinor. Determinada a trilhar o seu próprio destino, Merida desafia um costume ancestral, sagrado para os poderosos senhores da terra: o intenso Lord MacGuffin, o arrogante Lord Macintosh e o irritante Lord Dingwall. As ações de Merida lançam inadvertidamente o caos e a fúria no reino, e quando ela recorre a uma velha e excêntrica Bruxa a ajuda vem em forma de maldição. O perigo iminente força Merida a descobrir o significado da verdadeira coragem para que possa desfazer a terrível maldição antes que seja tarde demais.