No penúltimo dia do certame, e último dia competitivo, estreou-se o filme francês “Sils Maria”, de Olivier Assayas, e o russo “Leviathan”, de Andrey Zvyagintsev.
O primeiro, Olivier Assayas, marca a sua quarta presença em Cannes, agora com um drama sobre uma famosa atriz (Juliette Binoche) que fica perturbada com o facto de uma jovem estrela de Hollywood interpretar o papel que a fez famosa há vinte anos. “Foi muito divertido, troçávamos das questões que conhecemos. Sei como isso funciona, por isso não tive que fazer pesquisas durante três meses! E interpretar a assistente, foi realmente divertido para Kirsten. A Kirsten sabe isso melhor do que eu porque ela está a par do que se passa no mundo dos paparazzis, etc.” disse Juliette Binoche, sobre a vantagem de ser uma atriz que interpreta uma atriz. A crítica gostou. Segundo o The Guardian, “é quase brilhante o suficiente para nos convencer. Assayas sabe o que está a fazer, estamos em mãos profissionais.”.
O aclamado cineasta russo de “O Regresso” (2003) (venceu o Leão de Ouro em Veneza) e de “Elena” (2012) (venceu o prémio especial do Júri Un Certain Regard), regressa este ano à selecção oficial com “Leviathan”, um retrato de um herói trágico que sofre com as suas angústias. A ação acontece numa aldeia no interior remoto do norte da Rússia e o conflito é protagonizado por um autarca, que pretende aprovar um projeto imobiliário num local com ótima vista, e o proprietário, que recusa vender a sua casa. Andrey Zvyagintsev filma esta metáfora apocalíptica para evocar as angústias de um homem na necessidade e incerteza, invadido pelo seus medos e aterrorizado pelo futuro. Andrey Zvyagintsev sobre o tema original do filme: “Uma amiga minha tinha-me contado a história dum homem que habitava no Colorado e que se tinha revoltado contra o poder duma empresa. Esse homem destruiu prédios antes de se suicidar. Essa história podia ter acontecido em qualquer parte do mundo. Nós transpusemos essa história para a Rússia, havia um precedente, a história da antiguidade. A do pobre Job, na Bíblia. É de lá que vem o Leviatã.”. Esta comédia negra sobre a rússia contemporanea, é considerada uma forte candidata à Palma de Ouro. Segundo o The Guardian, “O recente filme de Andrei Zvyagintsev é um forte concorrente para a Palme de Ouro – uma mistura de Hobbes, Chekhov e da Bíblia, e cheio de imagens extraordinárias e magnífica simetria”. A crítica ficou conquistada e chama-lhe de “a nova obra prima russa”.
Como é habitual, um dia antes de conhecermos os vencedores da selecção oficial (que serão anunciados amanhã na cerimónia de encerramento), é revelada a palmares da secção Un Certain Regard. O júri composto por Peter Becker, Maria Bonnevie, Géraldine Pailhas e Moussa Touré atribuiu o prémio Un Certain Regard a “Fehér Isten”, do realizador húngaro Kornél Mundruczó, um conto sobre as espécies superiores e as raças em desgraça. Outros prémios foram ainda revelados. A Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI) elegeu “Winter Sleep” de Nuri Bilge Ceylan, como o Melhor Filme da mostra competitiva. Na secção Un Certain Regard, o prémio foi para o argentino “Jauja” de Lisandro Alonso, enquanto que na Quinzena dos Realizadores o prémio foi atribuído a “Les Combattants“ de Thomas Cailley.
Secção Un Certain Regard
Prémio Un Certain Regard
Fehér Isten, de Kornél Mundruczó
Prémio do Júri
Turist, de Ruben Östlund
Prémio Especial Un Certain Regard
The Salt of the Earth, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado
Prémio de Conjunto
Party Girl, de Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis
Prémio do Melhor Ator
David Gulpilil, por Charlie’s Country