Há desastres, ou antes, crimes cometidos contra a Cultura que levam a medidas excepcionais. As “imagens que ardem” (releia a nossa notícia aqui) são imagens que em nada nos fazem arder, antes destroem irremediavelmente qualquer possibilidade de memória, de futuro, e de arte. Foi o que aconteceu a 29 de julho deste ano, no incêndio que destruiu a Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Medidas excepcionais são precisamente as que surgem na Programação anunciada pela Cinemateca Portuguesa, que, antes da sua habitual apresentação dos ciclos de cinema, destaca duas sessões especiais de setembro, motivadas pelo estado paroxístico da atual crise vivida pelos nossos colegas da Cinemateca Brasileira, conforme podemos ler na brochura relativa ao próximo mês.
Já antes, a três de Agosto, a Cinemateca emitia um Comunicado de Imprensa em Solidariedade com a Cinemateca do outro lado do Atlântico e anunciava a promessa agora cumprida, ao afirmar que [o] nosso primeiro ato público de solidariedade para com a Cinemateca Brasileira ocorrerá nos primeiros dias do próximo mês de setembro. Outros se seguirão regularmente, numa vigília dedicada àquela instituição e ao cinema brasileiro, até que os nossos colegas de São Paulo possam retomar o lugar e a ação que lhes compete.
As sessões são lançadas segundo o mote: [t]odas serão de homenagem ao Cinema Brasileiro, à instituição Cinemateca Brasileira e à sua história, e à atual equipa que a representa. E é pensando nesse todo que fazemos questão de voltar a exibir um título emblemático de um realizador maior, em torno de cuja memória nos reuniremos aqui, neste dia (…).
Segunda-feira [6] 18:30 | Sala M. Félix Ribeiro
O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO / ANTONIO DAS MORTES
de Glauber Rocha
com Maurício do Valle, Odete Lara, Lorival Pariz, Antonio Piranga
Segunda-feira [20] 21:30 | Esplanada
PROGRAMA A ANUNCIAR
Subscrevemos as palavras da nossa Cinemateca, na medida em que todo o arquivo cinematográfico é um património que é também mundial (não há fronteiras nacionais em nenhum acervo de nenhuma cinemateca, e o grande Cinema Brasileiro não pode deixar de ser visto como património da humanidade) impõe-nos a todos que levantemos a voz e tornemos ainda mais claro que esta não é uma questão local, e que o tempo está a esgotar-se para evitar uma catástrofe ainda maior.