“Cinzas e Diamantes” (1958) é o desfecho da Trilogia da Guerra de Andrzej Wajda depois de “Geração”, de 1955, e “Kanal”, de 1957. Situado no crepúsculo da II Grande Guerra, testemunha-se um dia intenso na vida de Maciek, interpretado por Zbigniew Cybulski, um jovem precipitado com uma aparência indomável e que cumpre as suas missões sangrentas com a eficiência de um assassino contratado.
Este último filme da trilogia dá uma continuidade temática a “Kanal”, apesar de não existir uma ligação a nível de enredo. É uma continuação da História que Wajda quis contar, uma alegoria da insatisfação do povo polaco com o iminente domínio soviético sobre o seu país nos dias finais do conflito. Porém, o povo enfrenta a censura comunista sem medo.
É também uma obra política, mas não no sentido literal da palavra. É revestida por uma política humanista. Para o cineasta, o indivíduo vem antes do coletivo. O indivíduo que passa pelas tribulações da guerra é mais importante do que os eventos que formam a Guerra. O realizador mostra como uma paixão inesperada consegue alterar, num espaço de 24 horas, a mente de um único homem o suficiente para iniciar uma revolução. O resto são cinzas, os escombros da guerra.
A obra mostra-nos Zbigniew Cybulski, a quem apelidaram de “James Dean polaco”, também ele falecido num acidente igualmente violento, em plena juventude, atropelado por um comboio durante uma rodagem, no papel do jovem rebelde Maciek. Wajda revela Maciek como um homem impulsivo: na emboscada de abertura, mata a pessoa errada. Hospeda-se depois no mesmo hotel que Szczuka, o alvo, a fim de cumprir a missão. Durante uma ida ao bar, conhece Krystyna (Ewa Krzyzewska) e apaixona-se. De repente, o homem que sempre cumpriu ordens sem as questionar nutre um desejo pessoal, que se demonstra superior à vontade dos seus superiores.
Nos aspetos técnicos, a luz é exagerada, evocando o expressionismo alemão e o film noir. Nas sequências do raiar do dia (reminiscentes das sequências finais de “Kanal”), a luz banha o cenário com uma força bruta quando vemos a bela Krystyna no horizonte.
“Cinzas e Diamantes” é um discurso contra o absurdo da guerra, de desilusões e recomeços, do presente e do futuro, de cinzas e diamantes. Quando os estragos estão feitos, só resta caminhar sob a implacável passagem do tempo.
Realização: Andrzej Wajda
Argumento: Jerzy Andrzejewski (romance e argumento), Andrzej Wajda
Elenco: Zbigniew Cybulski, Ewa Krzyzewska, Waclaw Zastrzezynski
Polónia/1958 – Drama
Sinopse: “Cinzas e Diamantes”, o terceiro filme da trilogia de Wajda sobre a II Guerra Mundial, baseada nas experiências de Jerzy Stefan Stawinski, acompanha Maciek Chelmicki, um jovem membro da Armia Krajowa, a resistência polaca, que tem a missão de matar Szczuka, o líder comunista da região. Numa noite de diversão, encontra Krystyna, uma empregada de bar e pensa em desistir de sua vida de combatente.