«City of Ghosts» – Resistir contras os totalitarismos, de câmera em punho (Porto/Post/Doc 2017)

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A 4º edição do Porto/Post/Doc, na sua categoria de Competição Internacional, contou com o filme “City of Ghosts”, de Matthew Heineman.  Este documentário baseia-se na história de um grupo de habitantes de Raqqa (Síria), cuja forma de resistência ao Estado Islâmico é feita através da divulgação das imagens da barbárie perpetrada na terra onde vivem. O filme é um exercício de desconstrução muito apurado. O realizador mostra como todo o conflito tem uma génese, que deve ser o ponto de partida para pensar (melhor) sobre aquilo que está (realmente) a acontecer.  Raqqa é o epicentro do conflito, é a cidade onde acontecem as decapitações em praça pública, daqueles que façam algum tipo de oposição a um regime que lhes foi imposto. A organização “Raqqa is Being Slaughtered Silently” é criada por aqueles que vivem o conflito de perto, e isso faz com que a camara de filmar se torne a sua principal arma, aliada aos meios de comunicação atuais. Heineman divulga a divulgação, mostra o mostrar e, com isso, cria em nós uma percepção nova da realidade, ao dizer-nos o quão importante se torna, hoje, o cinema, assim como toda a forma de comunicação de que hoje dispomos.

O realizador conta uma história real, de pessoas reais, com emoções reais. Antes de existirem bons e maus, existem pessoas concretas; umas, que possuídas por qualquer ideologia arcaica, agridem e oprimem e outras que, curiosamente, ainda com a crença de que o martírio e o sacrifício são algo positivo, lutam e resistem. Os preconceitos são questionados; as visões generalizadas e fáceis são postas em causa e caem por terra, quando o realizador nos mostra como há habitantes sírios, tão humanos como todos os outros, que perderam familiares e amigos durante a sua luta com o Estado Islâmico.

Esta brilhante percepção que o realizador nos dá, faz pensar na questão da imigração, ao mostrar a realidade alemã, onde, ao mesmo tempo que acolhe no seu território os membros desta organização de resistência, também vê crescer os radicalismos de direita, que se opõem à entrada de imigrantes. Talvez este filme seja uma tentativa de criar uma pedagogia, com um didatismo claro, na forma como nos conta a história, para nos fazer aprender algo novo: o quão injusto é categorizar qualquer ser humano com uma abstração castradora. Este documentário reduz-se a uma premissa que é urgente divulgar: “qualquer forma de totalitarismo é errada”.

Realização: Matthew Heineman
Argumento: Matthew Heineman
Elenco: Hamoud, Hussam, Mohamad 
EUA – 2016
Documentário
Sinopse
: Raqqa, Síria. Numa cidade ocupada pelo autodenominado Estado Islâmico, a vida está virada do avesso. É ainda possível manter uma sobrevivência mínima? Nesta cidade de fantasmas, qualquer imprudência contra a ideologia deste grupo radical é fatal: assassínios e decapitação em praça pública. É neste contexto que um grupo de cidadãos, transformados em jornalistas, começam a relatar o dia-a-dia da cidade, mostrando, aos média ocidentais, como o terror invadiu as suas vidas. Na guerra das imagens, os jornalistas-cidadãos praticam uma jogada decisiva. Matthew Heineman, cujo Cartel Land foi exibido no Porto/Post/Doc 2016, utiliza aqui um método próximo de um jornalismo de investigação, mostrando, num ritmo bastante veloz, a forma como a guerra contemporânea é também praticada nas imagens que o mundo vê.

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