«Corações de Pedra» – O amor frio e violento no interior da Islândia

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Notável filme sobre o coming of age LGBT, o bullying e a turbulenta fase da adolescência, fugindo aos estereótipos destas temáticas. Notável é também o facto de esta ser a primeira longa-metragem do islandês Guðmundur Arnar Guðmundsson. “Corações de Pedra”, vencedor do prémio Queer no Festival de Cinema de Veneza, é uma sublime obra da cinematografia islandesa, que retrata o amor na adolescência, de forma ternurenta e crua, no interior da Islândia. Consegue ir para além dos estereótipos do cinema queer ou temáticas LGBT, explorando muito o período da juventude.

Numa aldeia piscatória remota, dois adolescentes, Thor e Christian, vivem um verão turbulento: enquanto um tenta conquistar o coração de uma rapariga, o outro descobre novos sentimentos em relação ao melhor amigo. Quando o verão termina e a inclemente natureza islandesa volta a mostrar-se, é tempo de deixar o recreio e enfrentar a idade adulta.

Thor vive com a sua mãe solteira e com duas irmãs rebeldes e também elas a viver a complexa fase da adolescência. Christian é filho único, muito reservado, vive com os pais que mal comunica, sendo que o pai é bastante austero. O filme retrata a amizade destes dois amigos inseparáveis que chegam a perguntar-se se será algo mais do que pura amizade. Ambos começam a explorar os seus corpos e a sua sexualidade. Apesar de Thor tentar apaixonar-se por uma rapariga da aldeia, nunca sabemos se tem sonhos eróticos com o seu amigo. Já Christian apercebe-se de que não consegue deixar de pensar no seu amigo, até mesmo nos seus sonhos eróticos. É certo que um deles ama mais do que o outro, mas é certo também que os dois se amam como amigos inseparáveis. A cena em que Thor corre risco de vida e Christian o salva de cair de uma falésia é exemplo desse amor. Vemos através dos seus olhares.

No início do filme quatro rapazes pescam alguns peixes e apanham um peixe pedra. Um dos rapazes acha-o repelente e nojento pelo que o mata ao pontapé. O peixe pedra tem a particularidade de ser um dos peixes mais venenosos do mundo, costumando ser confundido com uma pedra. Pode surgir daqui uma simbologia para os corações de pedra dos habitantes desta aldeia islandesa. Os corações são como pedras e venéreos, transmitindo o veneno, o ódio e a violência para outros. Uma aldeia tão isolada e remota, capaz de criar corações de pedra. Thor e Christian são afetados pelo meio que os rodeia, sofrendo bullying, ausência de pais presentes e atentos aos seus problemas e presos a uma vida num meio muito pequeno e isolado. Se o preconceito e palavras como ‘paneleiro’ são comuns em cidades, em meios mais pequenos é ainda mais fácil de os encontrar, pois são poucos os que fogem à dita ‘normalidade’ da sociedade. A homossexualidade é aqui tratada de forma delicada e honesta, mesmo que por vezes o realizador nos apresente lugares comuns sobre esta temática, como o preconceito, a dúvida e o medo.

Este filme toca-nos com um elenco jovem notável, que interpretam personagens reais, sobre a amizade, o preconceito e o amor frio e violento no interior da Islândia, sempre com uma fotografia encantadora da paisagem natural islandesa. São muitos os filmes sobre o coming of age, mas poucos tem a força e a frieza de “Corações de Pedra”.

3RealizaçãoGuðmundur Arnar Guðmundsson
ArgumentoGuðmundur Arnar Guðmundsson
ElencoBaldur EinarssonBlær HinrikssonDiljá Valsdóttir
Islândia/2016 – Drama
Sinopse
: Uma aldeia piscatória remota. Dois adolescentes, Thor e Christian, vivem um Verão turbulento: enquanto um tenta conquistar o coração de uma rapariga, o outro descobre novos sentimentos em relação ao melhor amigo. Quando o Verão termina e a inclemente natureza islandesa volta a mostrar-se, é tempo de deixar o recreio e enfrentar a idade adulta.

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