A escolha deste título não quer ser polémica, mas se clicaste no link é porque chegaste aqui e vais querer saber se é ou não é.
A verdade é que 2022 não foi um ano propício a ótimos filmes, mas sim a filmes medianos que nos entreteram, que nos fizeram pensar; mas que pouco ou nada nos surpreenderam. Foi um bom ano para rever o que agora são clássicos e questionar a lista atualizada dos 100 melhores filmes de sempre para a publicação Sight and Sound.
O tempo que temos é limitado e muito sensível ao desperdício, por isso as escolhas devem ser certeiras, e para isso o realizador sul coreano Park Chan-wook tem estado cá para nos ajudar. Para quem viu “A criada” de 2017 ou “Oldboy” de 2003 – dois dos filmes mais sonantes do seu cinema -, certamente ficará satisfeito com o seu último filme, estreado em sala, em outubro, “Decision to Leave – Decisão de Partir”.
Voltando ao tempo. Neste seu novo filme, todo o tempo deixa de ter tempo. Conta-nos a história de um detetive que, ao tentar desvendar um crime, se apaixona pela sua principal suspeita. Uma história que, como sabemos, já foi contada várias vezes em cinema, mas que aqui ganha outros contornos.
É nesta forma de contar que, finalmente, nos surpreendemos e queremos perceber como se vai desenrolar. Por exemplo, ficamos a saber que, num interrogatório, devemos alimentar o suspeito com sushi, devidamente confecionado – ou não se passasse a ação na Coreia do Sul. Sabemos que este detetive vive em Busan e que aos fins de semana vive na casa da sua esposa, numa outra cidade. Este detetive, Jang Hae-joon interpretado por Park Hae-il, é chamado para investigar a morte de um homem que supostamente caiu de uma rocha. A principal suspeita da sua morte é a sua esposa Song Seo-rae, interpretada por Tang Wei, que parece importar-se pouco com a morte do marido, desculpando-se com o facto de ser chinesa e falar mal coreano, o que alimenta ainda mais a curiosidade do detetive, que parece ter tudo controlado. Jang Hae-joon começa a seguir Song Seo-era, a sua verdadeira obstinação, caminhando para uma obsessão com o caso e com a sua maior suspeita. Mas numa outra cidade, onde vai viver de vez com a sua mulher, mais tarde os dois voltam a reencontrar-se e numa outra trama para o detetive tentar resolver.
O resto da história será interpretado por cada um de nós, mas alerto que o nível cáustico que o realizador nos habituou ficou suspenso desta vez. A proximidade entre as personagens, o jogo de sentimentos explicado através do telemóvel de ambos mostra-nos que o que parecia ser um thriller é afinal, e apenas, no fim, um belo conto.