O Desobedoc – Mostra de Cinema Insubmisso regressa pela terceira vez ao Cinema Trindade, no Porto, entre os dias 28 de abril e 1 de maio, com Salvador Allende, Amílcar Cabral e as “Três Marias”, entre outros protagonistas, a ocuparem a sala de cinema de “bairro” mais icónica do Porto.
O programa da nona edição do Desobedoc conta com 17 filmes, entre curtas e longas, e propõe abordar temas tão atuais como o direito ao cuidado, os direitos das mulheres, o direito à habitação e o direito à autodeterminação, focando no povo Saharaui, última colónia de África. Assinala também “os 50 anos do golpe no Chile, da morte de Amílcar Cabral e ainda do processo das Novas Cartas Portuguesas e das Três Marias” e celebra “os 50 anos do 25 de abril com filmes, conversas, exposições.”, segundo a organização.
A mostra de cinema insubmisso arranca no dia 28 de abril, “tendo como pano de fundo as questões feministas”, com filmes como “Les tres portugaises” (1974), da atriz e realizadora feminista Delphine Seyrig, ou “Debout, les femmes” (2021), de Gilles Perret e François Ruffin, sobre as condições do trabalho de limpeza, doméstico e de cuidado durante a pandemia, em França.
No ano em que se assinalam os 50 anos do golpe no Chile (11 de setembro de 1973), o Desobedoc presta homenagem a um dos maiores símbolos de resistência e liberdade do Chile, com o filme “Salvador Allende” (2004), de Patrício Guzman. Com comentários de Luís Fazenda, o documentário debruça-se na figura carismática para fazer “uma reflexão sobre um ideal político e a tentativa de reconstruir a sua memória, já que a casa de Allende foi saqueada e não sobrou quase nenhum registro da sua vida pessoal.”.
Sobre o colonialismo, destaque para o documentário “Ocupação S.A.” (2020), de Laura Dauden e Sebastian Ruiz Cabrera, sobre a última Colónia de África, o Sahara Ocidental, que contará com “a presença do representante da Frente Polisário em Portugal, Omar Mih, numa conversa com José Manuel Pureza”; “Les Mains Invisibles” (2022), do português Hugo dos Santos, “sobre os desertores que fugiam de Portugal, da ditadura e da Guerra Colonial nos anos 70.”; ou o filme sobre a independência em Angola, “Independência” (2015), de Fradique. Destaque também para as duas curtas-metragens sobre a morte do revolucionário guineense Amílcar Cabral: “O regresso de Amílcar Cabral” (1976) e “Mined Soil” (2014).
A habitação é outro dos grandes temas que domina o Desobedoc 2023, com curtas sobre a cidade do Porto, do Bairro do Herculano ao Bairro da Bouça e às traseiras da cidade. Dos arquivos da RTP será exibido “Mulheres da Ribeira Parte I e II”, um episódio do programa “Nome Mulher”, Antónia Sousa e Maria Antónia Palla, sobre “as condições de habitabilidade, trabalho, relacionamento, maternidade, métodos contraceptivos e direitos das mulheres antes e depois do 25 de abril”.
“Nas Margens”, uma estreia em Portugal, realizado por Juan Diego Botto e protagonizado por Penélope Cruz, o filme espanhol conta “o impacto que a crise da habitação tem na vida das pessoas”. A sessão contará com a presença de ativistas de Barcelona e da co-guionista Olga Rodriguez para uma conversa sobre o filme.
O clássico desta edição é o italiano “Mãos sobre a cidade” (1963), escrito e realizado por Francesco Rosi, protagonizado por Rod Steiger, uma magnífica obra do cinema italiano sobre a especulação imobiliária e a corrupção política em Nápoles. O filme, comentado por Francisco Louçã, fará o encerramento do Desobedoc 2023.
Do documentário ao cinema de animação e cinema português, o programa inclui ainda filmes como: “Não é uma ilha, é um bairro” (2021), de Inês Santos Moura, “Pessoas da Cidade” (2023), de Mariana Caló e Francisco Queimadela, “Ângulo Morto” (2010), de Regina Guimarães, “Eu Sou” (2022), de Bruno Moreira e Filipe Gaspar, “Mulheres de armas” (2012), de Kamy Lara, “Conversas no Cabeleireiro” (2010), de Margarida Gil; e ainda o programa do Desobedoquinho (numa homenagem a Jorge Constante Pereira).
O Desobedoc é uma iniciativa organizada pela Cultra com o apoio da transform!, Rosa Lux – Oficina de Madrid e Bloco de Esquerda.
Como sempre a entrada é livre e o espírito insubmisso.
Ver programa completo aqui.