O realizador britânico, Tom Hooper, tem já alguma experiencia com o género histórico e biográfico, como se pode ver em alguns dos seus trabalhos, como as séries “Elizabeth I” (2005) e “John Adams” (2008 ) e o seu primeiro filme“Maldito United” (2009). Como seria de esperar, depois deter recebido boas críticas e um prémio ou outro pelos seus anteriores trabalhos, não seria difícil para Hooper realizar esta simples história, sobre dois homens de meia-idade que se tornam amigos. Esta é a premissa de “O Discurso do Rei”, uma improvável amizade entre um rei gago e o seu terapeuta. É o filme mais nomeado para a 83ª edição dos Óscares, com 12 nomeações no total (incluindo a de Melhor Filme, Melhor Realizador (Tom Hooper), Melhor Ator (Colin Firth), Melhor Ator Secundário (Geoffrey Rush) e Melhor Atriz Secundária (Helena Bonham Carter).
Bertie (ColinFirth), o Duque de York e segundo filho do rei Jorge V de Inglaterra (Michael Gambon) sofre de gaguez desde os cinco anos, algo que sempre abalou a sua auto-estima. Depois do embaraçoso discurso de encerramento da Exposição do Império Britânico em Wembley, em 1925, Bertie, a pedido de sua mulher, a futura rainha-mãe Isabel (Helena Bonham Carter), é obrigado a consultar Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta da fala pouco convencional. Em Janeiro de 1936, o rei Jorge V morre e é o seu irmão Eduardo quem ascende ao trono até, menos de um ano depois, abdicar por amor a uma americana divorciada em favor de Bertie. Hesitante perante o peso da responsabilidade e obcecado em ser monarca digno do reino, o novo rei apoia-se em Logue, que o ajuda a superar a gaguez.
Apesar de, aparentemente, ser uma história simples, David Seidler preocupou-se em criar uma narrativa com uma estrutura clássica, mas inteligente, com excelentes diálogos, cheios de drama e humor, que caracterizam e humanizam bastante, as personagens. Trata-se de uma história sobre um homem que não queria ser rei, mas que chega ao trono de forma anormal e que é obrigado a dirigir-se ao seu povo, numa altura em que Hitler subia ao poder e em que uma segunda guerra mundial se aproximava. A temática do filme não é nova no cinema, mas também nunca foi muito explorada e esta história verídica sobre o rei gago, que esteve oculta durante muito tempo, é agora revelada a todo o mundo, por Hooper. Todo o filme foca-se no processo da “cura” da gaguez do reiJorge VI, até que no final do filme, este lê o discurso, em frente a um microfone, em direto para todo o país, através da rádio, para o seu povo, convertendo-se num símbolo de resistência contra Hitler.
O género biográfico é normalmente menosprezado pelo público e apreciado pela crítica. Neste caso, tal não acontece, ambos aplaudiram e emocionaram-se com o filme. Talvez, porque o elenco é de primeira categoria e a equipa técnica é brilhante. O elenco foi muito bem escolhido, com Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter a criar um trio perfeito. Firth está soberbo como o rei gago, que com certeza merece vencer o Óscar de Melhor Ator, já que não o venceu o ano passado com o filme “A Single Man” (2009), onde desempenhou, também, um extraordinário papel. Geoffrey Rush, que é talvez a interpretação com maior relevo, está surpreendente no papel do doutor australiano, merecendo o Óscar de Melhor Ator Secundário, apesar da forte concorrência. Tal como Helena, no papel da rainha-mãe, merece o Óscar de Melhor Atriz Secundária. Os três atores, cheios de talento, possuem uma química que transformam o filme, numa experiencia verdadeiramente apaixonante e interessante.
A equipa técnica está fantástica, a começar com Tom Hooper, que dirigiu muito bem os atores e que concebeu uma interessante técnica de posicionamentos e movimentos de câmara, com Danny Cohen a dirigir a fotografia, belíssima, aAlexandre Desplat que criou a agradável banda sonora, indicada para o filme.
“O Discurso do Rei” é um filme que nos enche de confiança e com vontade de lutar. Cativante, realista e inspirador, que vai deixar qualquer espectador emocionado. Este filme deve ser visto não só pela simples história, mas pelas extraordinárias interpretações, pela realização e toda a equipa técnica.
Realização: Tom Hooper
Argumento: David Seidler
Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush
EUA/2011 – Drama
Sinopse: Após a morte de seu pai, o Rei George V, e da escandalosa abdicação do Rei Eduardo VIII, Bertie, que toda a sua vida sofreu de um debilitante problema de fala, é coroado Rei George VI de Inglaterra. Com o país à beira de uma guerra e a necessitar desesperadamente de um líder, a sua mulher, Elizabeth, futura Rainha-mãe, encaminha o marido para um excêntrico terapeuta da fala, Lionel Logue. Depois de um começo difícil, os dois homens iniciam uma terapia pouco ortodoxa e acabam por formar um vínculo inquebrável. Com a ajuda da sua família, do seu governo e de Winston Churchill, o Rei vai superar a gaguez e tornar-se numa inspiração para o povo.