A agenda Elas no Cinema em Lisboa publica todas as sextas-feiras no Cinema Sétima Arte sugestões de filmes realizados por mulheres de diferentes partes do mundo.
A ideia dessa iniciativa, inspirada pelo desafio #52FilmsbyWomen, é promover o trabalho de realizadoras de vários países ao longo do ano todo.
* 
BÓSNIA E HERZEGOVINA
“Quo Vadis, Aida?”
[2020]
Realização: Jasmila Žbanić
Em 1995, mais de 8 mil bósnios muçulmanos foram assassinados em Srebrenica, no leste da Bósnia e Herzegovina. Cerca de 30 mil mulheres foram forçadas a deixar suas casas. Esta é a história que a realizadora Jasmila Žbanić conta neste filme de 2020, ao colocar como protagonista Aida, uma mulher bósnia que trabalha como intérprete na ONU (Organização das Nações Unidas). Quando o exército sérvio toma a cidade de Srebrenica, a família de Aida se encontra entre os milhares de cidadãos que buscam abrigo no acampamento da ONU. A cena em que ela sobe no telhado para tentar achar a família no meio da multidão é sufocante. Como intérprete das negociações entre a organização internacional e os sérvios, Aida tem acesso a informações cruciais que precisa tentar digerir -enquanto bósnia- ao mesmo tempo em que tenta traduzir -enquanto profissional. Ela começa, então, a ver que a ONU está a falhar enormemente na tentativa de proteger os civis. A atriz Jasna Đuričić está incrível no papel de Aida e venceu diversos prémios pela interpretação. O filme foi exibido na Cinemateca, na semana passada, durante o 12º Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, que homenageou Jasmila Žbanić. Ao lembrarmos dessa tragédia na Europa, também precisamos nos posicionar perante o genocídio na Palestina. Até agora, cerca de 67 mil palestinianos foram mortos pelo exército israelense, em 2 anos de ataques, enfrentando a fome e o deslocamento forçado.
*
CHILE
“O Pacto de Adriana”
[El Pacto de Adriana, 2017]
Realização: Lissette Orozco
Disponível na Filmin
Há um episódio de 2024 do podcast Rádio Novelo Apresenta chamado “A Casa do Vovô”. Nele, a Luara conta que só soube quem verdadeiramente era o avô depois que ele morreu. O avô dela era o Delegado Raul Ferreira “Pudim”, um dos torturadores mais sanguinários do DOPS, departamento do governo brasileiro que torturou presos durante a ditadura militar no Brasil. É um episódio polêmico porque realmente é difícil sentir alguma empatia por alguém que tenha parentesco com um torturador (ou qualquer tipo de criminoso). Em 2017, a realizadora chilena Lissette Orozco lançou esse documentário, em que tenta descobrir quem verdadeiramente é a sua tia tão querida, Adriana Rivas “Chany”. Porém, diferentemente da Luara, Lissette pode fazer perguntas diretamente para a sua tia, que não só está viva como fugiu para a Austrália para escapar da prisão, depois de ser processada pela Justiça chilena. Lissette começa a investigar o que havia por trás de toda aquela vida glamourosa que vivia Chany, uma pessoa vinda da classe média no Chile. A tia, que arranjou um emprego como secretária das Forças Armadas por falar inglês, passou a frequentar eventos importantes com embaixadores, usava roupas chiques e era colaboradora da DINA, os serviços secretos políticos que sequestraram, torturaram e mataram durante a ditadura de Pinochet. A realizadora está disposta a compreender os fatos, mas a sua tia não admitirá a história do qual ela fez parte.
*
PORTUGAL
“No Canto Rosa”
[2022]
Realização: Cláudia Rita Oliveira
Disponível na Filmin
A violência doméstica é uma das formas mais prevalentes de crime em Portugal. Segundo dados da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima), só em 2024, foram apoiadas 11.993 vítimas, um número que representa um crescimento de 29,3% face a 2021 (9.275 vítimas). A APAV é a instituição que a Francisca, personagem principal deste documentário, procura quando um ex-companheiro a ameaça de morte. Francisca também é a mãe da realizadora e relata em frente à câmara de sua filha toda a violência e o trauma vividos dentro dessa relação abusiva. Por motivos jurídicos, a realizadora não pode revelar tudo o que gostaria, como ela mesma diz, mas só de ouvirmos os áudios do abusador temos a noção do perigo pelo qual Francisca passa. O outro trauma vivido por Francisca é o atendimento que recebe das autoridades que deveriam ajudá-la. Dizem a Francisca que ela deveria se esconder, fugir, não voltar para casa, como se essas fossem opções razoáveis. Este é um filme muito relevante para que mudanças sejam feitas o quanto antes na nossa sociedade.
*
Veja as nossas recomendações:
#1 – Palestina, Chile, Argentina
#2 – Afeganistão, África do Sul, Albânia
#3 – Canadá, Grécia, Peru
#4 – Alemanha, Angola, Arábia Saudita
#5 – México, Nova Zelândia, Irão
#6 – Áustria, Bangladesh, Bélgica
#7 – Inglaterra, Itália, Estados Unidos
#8 – Brasil, Bulgária, Colômbia
#9 – França, Venezuela, Geórgia
#10 – Arménia, Bósnia e Herzegovina, Costa Rica
#11 – Filipinas, República Dominicana, Tunísia
#12 – Finlândia, Hungria, Índia
#13 – Turquia, Kosovo, Singapura
#14 – Croácia, Dinamarca, Espanha
#15 – Senegal, Vietname, China
#16 – Hong Kong, Japão, Líbano
#17 – Portugal
#18 – Paraguai, Nicarágua, Cuba
#19 – Austrália, Marrocos, Porto Rico
#20 – Estónia, Lituânia, Mongólia
#21 – Líbano, Chile, Argentina
#22 – Brasil, Iémen, Tailândia
#23 – Palestina, França, Japão
#24 – Estados Unidos, Luxemburgo, Noruega
#25 – Guiné-Bissau, México, Paraguai
#26 – Macedónia do Norte, Países Baixos, Polónia
#27 – Roménia, Guatemala, Brasil
#28 – Chéquia, Malásia, São Tomé e Príncipe
#29 – Martinica, Suécia, Coreia do Sul
#30 – Irlanda, Rússia, Síria
#31 – Espanha, Quirguistão, Canadá
#32 – Geórgia, Jordânia, Zâmbia
#33 – Argélia, União Soviética, Arménia
#34 – Itália, Senegal, Suíça
#35 – Suécia, Reino Unido, França
#36 – Irão, Lituânia, Tunísia
#37 – Peru, Líbano, Argentina
#38 – Argélia, Costa Rica, Dinamarca
#39 – Portugal, Peru, Bélgica
#40 – Brasil, França, México
#41 – Finlândia, França, Reino Unido
#42 – Estados Unidos, Portugal, Alemanha
#43 – Brasil, Canadá, Estados Unidos
#44 – Chéquia, França, Suécia
#45 – Benim, Turquia, Brasil
