As espectativas em relação a “Elena” eram muito altas, até porque estamos a falar de um dos maiores realizadores russos da actualidade. Andrey Zvyagintsev é comparado a Andrey Tarkovskiy desde a sua primeira longa-metragem, “O Regresso” (2003). Foi com esta brilhante, diria mais, obra-prima da atualidade, que transformou Zvyagintsev num dos mais importantes cineastas russos de sempre. Assim, esperava-se que “Elena” mantivesse o nível do seu primeiro filme. Mas esta sua terceira longa-metragem, apesar de ser boa, distancia-se bastante do estilo e da qualidade da primeira.
Elena e Vladimir são um casal idoso que mantém um casamento estável. Ele é um homem frio e distante, que nunca conseguiu manter um bom relacionamento com Katerina, a filha de um casamento anterior. Ela, uma mulher simples, está sempre preocupada com o futuro de Sergey, o seu único filho, que vive com graves dificuldades financeiras e mal consegue sustentar a mulher e os seus dois filhos. Um dia, depois de Vladimir sofrer um ataque cardíaco, resolve escrever o seu testamento, deixando grande parte da herança para a sua filha, com quem acaba por fazer as pazes. Elena ve-se desesperada em ajudar o seu filho.
Neste novo drama, Elena é o retrato de uma mulher confrontada com a sobrevivência da sua descendência. Apesar de Elena e Vladimir terem personalidades diferentes, há uma coisa que os une e os afasta ao mesmo tempo, os filhos. Tanto a filha de Vladimir como o filho de Elena são os chamados parazitas da sociedade, que vivem às custas dos outros. Ambos não mostram esforço em procurar emprego e serem independentes. Tanto Elena como Vladimir não querem admitir os problemas do filho de cada um, andando constantemente a criticar o filho do outro. Katerina praticamente não fala com o pai e vive de forma irresponsável, aproveitando os prazeres da vida, sexo, álcool e drogas. Sergey passa o dia em casa a ver televisão, pouco preocupado em arranjar soluções para financiar os estudos do seu filho mais velho.
“Elena” não podia ser mais atual e político. Faz uma forte e direta critica à sociedade atual que vive pensando que o dinheiro é solução para tudo. A culpa é apontado aos “adultos”, aos “pais”, que deveriam ser o exemplo. Vladimir é rico e vive bem, pelo que pode resolver facilmente os seus problemas com dinheiro. Já Elena é pobre e encontra agora, com a morte do seu marido, uma oportunidade de poder finalmente ajudar o seu filho e netos financeiramente. Elena, inocentemente, pensa que com o dinheiro que arranjou vai ajudar o seu filho e neto, mas no final percebe-se que não é tão simples como parece. No final do filme pode-se colocar algumas questões, como por exemplo: “poderemos culpar Elena?”, “o que Elena fez está errado?”.
Apesar de “Elena” se distanciar bastante de “O Regresso”, há um elemento que é comparável entre as personagens Elena e os irmãos (Andrey e Ivan). Nos dois casos, Elena e os miúdos chegam ao final do filme com um sentimento de culpabilidade. Ambos sentem que de certa forma, voluntária ou involuntariamente, as suas ações não foram as mais correctas, provocando a morte de outra personagem, em ambos os filmes.
Zvyagintsev explora assim estes temas de forma simples e linear, com um bom elenco. “Elena”, que chegou a ser selecionado para o Festival de Cannes de 2011, arrecadando o Prémio Especial do Júri, é um drama moderno forte e interessante. Andrey Zvyagintsev continua a ser um dos melhores realizadores russos da atualidade.
Realização: Andrey Zvyagintsev
Argumento: Andrey Zvyagintsev
Elenco: Nadezhda Markina, Andrey Smirnov, Aleksey Rozin, Elena Lyadova
Rússia/2011 – Drama
Sinopse: Elena e Vladimir conheceram-se tardiamente na vida mas, apesar dos passados bem distintos, formam um casal sólido. Enquanto Vladimir é abastado e frio. Elena provém de um meio modesto e é uma esposa dócil. O filho de Elena está desempregado e, incapaz de sustentar a sua própria família, pede-lhe constantemente dinheiro. A filha de Vladimir, uma jovem despreocupada, tem uma relação distante com o pai. Um dia Vladimir sofre um ataque cardíaco e fica internado no hospital, onde se apercebe de que tem pouco tempo de vida. Um breve mas terno encontro com a filha leva-o a tomar uma importante decisão: ela será a única herdeira da sua fortuna. De volta a casa, anuncia a decisão a Elena, destruindo as suas esperanças de ajudar o filho. A dona-de-casa tímida e submissa trata de conceber um plano para conseguir proporcionar ao filho e aos netos uma oportunidade na vida.