O Cinema 7ª Arte entrevistou autor da curta-metragem “Survivalismo”, José Pedro Lopes, que terá a sua estreia mundial no Arouca Film Festival 2011, que decorrerá de 9 a 11 de Setembro, integrando a selecção oficial. Está já também confirmada a sua presença na Competição Oficial pela Melies d’Argent no Abertoir 2011 – Wales’ National Horror Festival. Uma história simples que explora questões complexas, bem filmada, promete um final forte.
A história é sobre um homem que acorda com um saco na cabeça e uma corda em torno do pescoço, ele encontra-se em cima de uma cadeira numa situação onde um movimento brusco o pode deixar enforcado. Abandonado numa cave, o que será ele capaz de fazer para sobreviver?
“Survivalismo” é um thriller psicológico que disseca os Os Cinco Estágios do Luto do Modelo de Kübler-Ross e aplica-os a um cenário de rapto e uma envolvente de mistério. Enquanto o protagonista tenta descobrir porque foi colocado numa armadilha mortal, ele vai passando pelos estágios que o levarão à salvação: da Negação à Aceitação, passando pela Cólera, a Negociação e a Depressão. O projecto “Survivalismo” surgiu como um cruzamento entre o cinema experimental e o thriller psicológico de sobrevivência que visava surpreender e jogar com as expectativas do público. No entanto, a narrativa e a situação “impossível” onde a acção começava evoluiu para uma dissecção de como lidamos com situações difícil e com a perda.
Nascido no Porto em 1982, José Pedro Lopes é jornalista, produtor de cinema e televisão. Na área da ficção o seu primeiro trabalho foi como produtor e argumentista da curta-metragem de terror “A Noiva” de Ana Almeida. Este pequeno ‘slasher’ de 2007 foi selecção de 35 festivais de cinema, tendo vencido o prémio para Melhor Curta-Metragem Estrangeira no Bleedfest Los Angeles e integrado recentemente a Viscera Film Tour.
Em 2010, produziu a comédia romântica ‘Temperar a Gosto’ de Susana Neves (Menção Honrosa no Festival Porto7) e estreou-se na realização com a curtíssima ‘O Risco’ que tem vindo a surpreender festivais pelo mundo fora no ciclo Bicycle Film Festival e é finalista do Farcume – Festival de Curtas-Metragens de Faro.
Em 2011 foi um dos fundadores da produtora Anexo 82, uma produtora que se tem vindo a especializar na cobertura de eventos de índole cultural e social, conciliando o trabalho com os projectos de ficção. A produtora foi responsável pela distribuição dos dois filmes anteriores e é a produtora de “Survivalismo” que estreia esta semana no Arouca Film Festival.
Fale-nos do processo de filmagem da curta, que câmara foi usada, as condições logísticas, etc.
“Survivalismo” foi rodada com uma equipa muito pequena e em cenários muito controlados – todo o projecto foi rodado em apenas 2 dias. A nossa aposta em termos de formato foi para uma Canon 7D porque só as câmaras DSLR permitem criar o ‘look’ irreal e saturado em que o protagonista se encontra inserido.
Existe algum motivo em especial pela abordagem deste tema (os 5 estágios do luto)? De onde surge esta ideia?
Diz-se que “escrever é reescrever”. Este é um bom exemplo. Originalmente os 5 Estágios do Modelo Kubbler-Ross não faziam parte da história: o que surgiu primeiro foi o final e o resto do filme foi-se escrevendo a si próprio. Uma base teórica como os 5 Estágio do Luto ajudaram a trazer ordem à narrativa. Se “O Risco” era o filme inesperado dos Bicycle Film Festivals, então “Survivalismo” foi escrito para ser a surpresa conscienciosa dos festivais do fantástico: é uma espécie de protesto pacífico contra o “terror de tortura” que tem vindo a dominar o género.
Foi difícil convencer o ator a participar numa curta onde passa o tempo todo de pé com uma corda ao pescoço e onde nunca mostra a cara?
Já havia trabalhado com o Ivo Bastos antes, e ele é um ator fantástico. Foi a primeira escolha porque é dos atores mais expressivos e carismáticos que conheço e isso “passa” através do saco. Creio que no final acabamos por sentir o que ele sente. Não foi nada difícil ele aceitar o papel, bem pelo contrário. Ele é ator de teatro e os atores de teatro são muito físicos e capazes de aguentar tudo: a desafio de “Survivalismo” foi para ele coisa fácil.
Qual foi o percurso da curta até agora e como tem sido a reacção do público?
Para já ainda ninguém fora dos colaboradores e alguns amigos viram o filme, por tal, ainda não tenho bem ideia. Pedi a algumas pessoas da área ‘feedback’ e tem sido geralmente positivo. É um filme-mistério com um final muito forte e creio que é isso que tem sobressaído. Parece-me que o tem visto como um filme algo atípico para uma curta-metragem.
Quais são os próximos objectivos a alcançar com a curta e em que festivais é que irá passar?
O filme vai estrear no Arouca Film Festival deste fim-de-semana (dias 9, 10 e 11 de setembro). Em Novembro, irá ser exibido no Abertoir Horror Film Festival, como parte da competição do Melies D’Argent. Em termos de objectivos é sempre difícil delinear. As curtas quase não tem mercado, portanto quando mais exibições melhor, e quanto mais longe chegarmos com o trabalho melhor. A ficção surge como uma forma de levar o nosso trabalho a sítios onde naturalmente não iríamos, e conhecermos pessoas com que possamos vir a trabalhar.
Agora mudando um pouco de assunto. Sabemos que escreveu para a Take Cinema Magazine e para a Magazine HD. Continua a colaborar com as duas revistas?
Sou colaborador do site c7nema.net desde os seus primórdios e da Take Cinema Magazine desde 2010. Continuo a colaborar com ambos os projectos. Paralelamente, vou escrevendo para outras fontes noticiosas.
Que planos tem para um projecto futuro? Pode revelar-nos alguma coisa?
Um dos planos que temos é adaptar o argumento “Videoclube” escrito pela Ana Almeida. É um filme bastante diferente dos outros que fizemos, é uma história “coming-of-age” passada nos final dos anos 90 e o seu argumento foi selecionado para integrar o European Short Pitch da Nisi Masa em 2011. Também temos planos de fazer uma longa-metragem já que é, infelizmente, o formato que leva o cinema ao grande público e, derradeiramente, à sustentabilidade. Temos esse projecto mas será algo que só virá quando todas as estrelas se alinharem para o tornar possível.