Segunda e última parte do “Especial Nanook (90º Aniversário)”, que o Cinema 7ª Arte criou em comemoração nos 90 anos do filme, “Nanook, O Esquimó” (1922), de Robert Flaherty.
Curiosamente, em 2001, estreia-se “Atanarjuat – Fast Runner”, o primeiro filme verdadeiramente Inuíte do mundo, pelas mãos de Zacharias Kunuk, canadiano de étnia Inuíte, que até hoje já realizou mais dois filmes inspirados na mesma cultura. “Fast runner”, contudo, continua a ser o seu filme mais célebre, arrecadando vários prémios internacionais, incluindo a câmera de ouro, em Cannes.
Naturalmente, teceram-se comparações entre “Fast Runner” e “Nanuk, O Esquimó”, onde o primeiro é considerado o derradeiro exemplar da cultura Inuíte, visto que o seu realizador detem o Ethos mais adequado em relação à cultura Inuíte de que Flaherty, mas não necessariamente o Pathos. No entanto, as pessoas que acreditam que para fazer algo de imparcial, ou mais verdadeiro sobre um qualquer tema, é necessário deter uma certa credibilidade geneológica, não podiam estar, evidentemente, mais erradas. É um facto que Flaherty encenou muitas das suas cenas, eu diria mesmo que o todo o filme foi pensado, e que a sua narrativa estavam maioritariamente predeterminada (Nanuk não pretendia ser um documentário à la “O Grande Silêncio” de Philip gröning), mas também é um facto indelével que “Fast Runner” é um filme puramente de ficção e, portanto, não é, também ele, evidentemente imparcial, apesar de o filme assumir, em parte, uma estética documental com longos planos de câmara à mão. O que os torna verdadeiramente filmes exemplares, é a vontade de ambos os cineastas de perpetuarem a cultura única dos Inuíte nesses mesmos filmes.
E Nanuk, apesar de toda a sua encenação é um documentário real, e Nanuk e a sua família são reais, tais como são reais todos os seus costumes e rotinas. Daí considerar uma tremenda injustiça que a determinação e vontade de Flaherty sejam postas em causa, ao compararem dois filmes diferentes. Embora “Fast Runner” seja um filme realizado por um membro oficial da cultura Inuíte, não lhe confere, por isso, um maior estatuto de que um filme realizado por alguém que viveu e adorou essa mesma cultura vista de fora.