“Estamos no Ar” (à deriva)

"Estamos no Ar" (2024), de Diogo Costa Amarante "Estamos no Ar" (2024), de Diogo Costa Amarante
"Estamos no Ar" (2024), de Diogo Costa Amarante

“Estamos no Ar” é a primeira longa metragem de Diogo Costa Amarante, depois de um lote de várias curtas-metragens premiadas e selecionadas em festivais. Destaque maior para  o Urso de Ouro para curta-metragem no festival de Berlim com “Cidade Pequena” em 2017.

Esta estreia traz-nos uma boa experiência pelo olho da fotografia e da iluminação do filme. Bem trabalhado e pensado em pormenor em cada uma das cenas. No meio do encanto dos cenários, luzes e fotografia a história vai-se degradando, o filme torna-se aborrecido e atenção foge-nos para os detalhes técnicos. No entanto os vários ritmos e dimensões que se tentam cruzar no filme deixam-no um bocado além do seu potencial.

Tem alguns momentos bons – como as tentativas frustradas de Fátima de seduzir o vizinho, e a encenação pouco erótica e extremamente forçada de Vítor, mas também peca por alguns simbolismos clichés que pouco acrescentam à história e que a tornam demasiado densa, enfadonha, como por exemplo um rato de cozinha sujo (representando a descida de Fátima ao desespero e à alienação). O título do filme faz referência a um programa de entrevistas na televisão, que é apresentado ao longo do filme. Os três membros da família fazem parte do conjunto de espectadores, mas nunca se envolvem ativamente no programa.

banner janeiro 2025 1 1
Publicidade

São histórias de amor, de amores diferentes, visões diferentes – um certo toque de Almodóvar mesclado com uma construção fílmica Lynchiana. Inteiramente filmado no Porto tem o mérito de não recorrer aos clichés imagéticos da cidade. Usa a cidade como seria uma outra qualquer cidade mas com detalhes de personalidade.

No final a sensação que fica é a de “então ok é isto..” e passadas umas horas ou dias depois pouca coisa é memorável. Fica o sabor amargo de um cinema português que continua, ainda em muitos casos, a escrever cinema para dentro de si próprio, para satisfazer egos.

"Estamos no Ar" (2024), de Diogo Costa Amarante
“Estamos no Ar” (à deriva)
Classificação dos Leitores1 Vote
2.5
Skip to content