Ao vermos o cartaz e o trailer do filme, assim como o que alguma imprensa escreveu sobre o filme antes de estrear, era que “Estrada de Palha” é um “western português”. Nós acreditamos, eu acreditei, até ao momento em que vi o filme. Era um filme que aguardava com algumas espectativas, mas que infelizmente não se confirmaram tanto como gostaria.
Segundo André Bazin, critico e teórico de cinema, o western é o “cinema americano por excelência” e segundo Clint Eastwood é a única forma de arte originalmente norte-americana, à exceção do Jazz. O western pertence à cultura americana e ao seu cinema. Na Europa, apenas a Itália conseguiu criar um estilo diferente e inovador, tendo ficado para a história o “Western Spaghetti”, nos anos 60, sendo Sergio Leone o principal precursor.
Fazer um western hoje em dia é sempre um risco, até porque, como é sabido, o género deixou de ter a importância que tinha há mais de 40 anos. Fazer-se um western na Europa, em Portugal, é um risco ainda maior. Mas é de elogiar e sobretudo respeitar o realizador e argumentista Rodrigo Areias por ter tentado criar algo diferente no panorama atual do cinema português. É esta diferença no género que dá algum destaque a “Estrada de Palha”. No entanto, este filme não chega bem a ser um western.
Rodrigo Areias não nos apresenta nada de novo, tenta sim copiar os elementos cinematográficos que compõe o género western. Vejamos quais os elementos que foram corretamente usados: a história, passada entre 1908 e 1910, é sobre Alberto que tenta vingar-se da morte do irmão; a paisagem e espaços abertos, que é fundamental em qualquer western, é muito bem escolhida (o filme foi filmado no Alentejo e na Finlandia); a fotografia e o som destacam-se pelo bom trabalho dos técnicos.
Mas faltaram muitos elementos, como mais ação e drama, que neste filme são quase inexistentes; a banda sonora, que foi sempre anunciada como um ponto forte do filme, é pouca. Um bom western tem que ter sempre uma boa banda sonora. Neste filme a pouca que existe é boa, criando mesmo o ambiente de western, mas nunca poderá ser considerada uma personagem do filme, pois ela simplesmente toca em cenas soltas, sem aparente justificação. Nem sequer existem temas para as personagens.
O filme tem ainda uma forte mensagem política bem explicita e atual nos dias de hoje, ao traduzir a obra “Desobediência Civil”, de Henry David Thoreau. Ao longo do filme surgem excertos dos seus textos, defendendo a desobediência civil individual como forma de oposição ao estado/governo/poder.
Por tudo isto “Estrada de Palha” nunca chega a ser um western, ficando sempre na margem do género. Tenta-se “copiar” cenas clássicas do género, como o duelo e a perseguição, mas sempre com recurso a diálogos fracos. É uma tentativa que tem altos e baixos. Com um ritmo sereno em todo o filme, Alberto vagueia pelo Alentejo. Quanto ao final do filme, é um desastre. O nosso protagonista foi ao longo dos 90 minutos, de forma tranquila, criando vários problemas, chegando ao fim sem os resolver. Apesar de tudo, elogia-se o filme pela tentativa de marcar a diferença e Areias é um realizador a ficar atento.
Realização: Rodrigo Areias
Argumento: Rodrigo Areias
Elenco: Adelaide Teixeira, Ângelo Torres, Inês Mariana Moitas, Nuno Melo, Vítor Correia
Portugal/2012 – Aventura
Sinopse: Esta é a história de um homem que após ter vivido longe do seu país durante mais de uma década, volta à sua aldeia para vingar a morte do irmão. Inspirado nos escritos de Henry David Thoreau, traduz «Desobediência Civil» para português. Num pais onde a corrupção e a extorsão são encaradas com normalidade, aqueles que materializam a representação do Estado prendem e matam impunemente. Alberto tenta combater a tirania do estado e salvar o que resta da sua familia. Mas este é um país onde nada muda…