O documentário “Fahrenheit 9/11” começa voltando à eleição presidencial de 2000 entre George W. Bush e o vice-presidente Al Gore. Esta introdução é meramente uma armação e restabelece uma crença de que a eleição foi falsa. Para Michael Moore, o realizador, é fato que Al Gore foi o verdadeiro vencedor desta eleição e, portanto, ele acredita que o atual mandato de Bush começou em termos errôneos.
A segunda parte da introdução tenta estabelecer que o presidente Bush agiu de forma completamente irresponsável antes dos ataques de 11 de setembro. Ao som da música “Vacation”, do grupo The Go-Go’s, Moore afirma que o presidente Bush passou 42% de seu tempo de férias em agosto de 2001. Então, em 10 de setembro, ele foi dormir pacificamente na Flórida.
Moore lida com os eventos de 11 de setembro com bastante respeito. Entendendo que o mundo já viu as imagens dos ataques ao World Trade Center repetidamente, ele se abstém de nos mostrar essas imagens novamente. Em vez disso, olhamos para uma tela preta pura enquanto ouvimos os sons dos ataques. Ouvimos o primeiro avião bater, e depois ouvimos o segundo avião bater enquanto as pessoas gritam e choram de horror. Como já conhecemos o horror, reproduzimos os eventos em nossa mente e emoções. Depois da tela preta, vemos apenas os rostos das pessoas olhando para os prédios, seguidos por outras imagens poéticas, em câmera lenta, de poeira e papel flutuando após os desabamentos. A mais sublime foi uma foto de duas pessoas sentadas em frente a um parque rezando.
Ao longo do documentário, Moore apresenta o argumento de que o presidente Bush tinha planos (como presidente) de atacar o Iraque antes de assumir o cargo. Moore nega qualquer motivo sincero na guerra ao terror, alegando que Bush está interessado apenas em ganhar dinheiro.
Nessa perspectiva, são apresentadas evidências mostrando relações comerciais entre a família Bush e a família Bin Laden, em meio a alegações de que Bush está mais interessado em garantir seus investimentos financeiros do que na segurança e benefício do povo americano. Moore afirma que Bush recebe mais de um bilhão de dólares dos sauditas, em comparação com os US$ 400.000 por ser presidente, e conclui que seus verdadeiros interesses estão no exterior.
Por conseguinte, outra crítica envolvendo a família Bin Laden é que os parentes de Osama, que moravam nos Estados Unidos durante os ataques de 11 de setembro, foram os únicos autorizados a voar. Nesse sentido, perguntas são levantadas sobre por que eles não foram questionados antes de partirem, como seria o procedimento normal. Além disso, foi afirmado que a Arábia Saudita tem 860 bilhões de dólares investidos nos Estados Unidos, o que representa cerca de seis a sete por cento da economia. Aqui, novamente, é construído o argumento de que o presidente Bush estava interessado apenas no dinheiro.
Muitos outros fatos e ideias são apresentados ao longo deste documentário. Moore apresenta as informações em um ritmo bastante rápido e não permite que o público tenha tempo para pensar sobre elas. Ele usa fatos, mas também os exagera, e depende muito de conjecturas. Se você já concorda com as ideias dele, isso será claramente divertido e afirmativo. Se você ainda não conhece os detalhes, não espere uma apresentação objetiva de seu giro sobre eles.
Nisso, entre outros tópicos discutidos estão as mentiras e distorções usadas para justificar a guerra contra o ditador iraquiano Saddam Hussein, a situação de uma mãe americana cujo filho morre nos combates, os pensamentos de soldados americanos estacionados no Iraque e a sangrenta, destruição calamitosa causada pelo bombardeio liderado pelos americanos daquele país.
Inevitavelmente – e com razão – Michael Moore também aponta sua câmera para corporações gananciosas e para a mídia americana inepta, covarde e desonesta. O primeiro grupo é denunciado por sua ânsia de lucrar com os estragos da Guerra do Iraque, enquanto o segundo é espancado por sua covardia – por exemplo, enterrando histórias consideradas muito controversas – e por sua dócil aquiescência à agenda política da Casa Branca.
Os ataques de Moore são particularmente eficazes quando ele faz bom uso de seu humor ácido. Além de George Bush como alvo principal, ele ridiculariza o sistema político americano, o sistema eleitoral americano, a mídia americana, grandes corporações (especialmente a Halliburton ligada ao petróleo), vários aliados dos EUA na invasão do Iraque e a cantora pop americana Britney Spears.
Em última análise, o documentário de Moore é uma crítica feroz às decisões de política externa tomadas pelo governo presidencial de George W. Bush, principalmente sua resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, e sua decisão de invadir o Iraque em 2003. Ademais, o documentário faz muitas perguntas difíceis sobre nossa sociedade pós-11/09. Para tanto, cobre a busca por Bin Laden, a guerra no Afeganistão, as violações dos direitos civis e o extremamente controverso Patriot Act. Independentemente das críticas pessoais de Moore, Fahrenheit 11 de setembro não deve ser esquecido.
* Texto elaborado para disciplina Organização do Espaço Mundial, do curso de Geografia, do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente (IGDEMA), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) – disciplina ministrada pelo Prof. Dr. Domingos Sávio Corrêa.