Entrevista com Yang G, coprodutora e atriz principal do filme “Fallen”, Vencedor do Prémio Menção Honrosa.
Na apresentação do seu filme de estreia, “Fallen”, G Yang deslocou-se da Coreia do Sul, de onde é natural, até à cidade do Porto. Numa das sessões de apresentação de um outro filme, por coincidência também sul-coreano, sentei-me ao lado de G Yang e dos restantes membros do filme que viria a ser apresentado no dia seguinte. Foi proposta pelo Cinema Sétima Arte (C7A), uma entrevista a G Yang, que se predispôs a responder às perguntas que se seguirão. Agradecemos, então, a simpatia e o trabalho realizado pela atriz e coprodutora, assim como a todos os que contribuíram para facilitar esta “troca de ideias”, uma vez que a barreira linguística não facilita o percurso da comunicação, bem como a existência de uma distância (significativa) entre os dois países.
A entrevista não foi realizada pessoalmente, tendo sido enviadas as questões, que posteriormente foram respondidas por G Yang.
CINEMA SÉTIMA ARTE: Primeiramente, agradecemos esta oportunidade. Gostei particularmente do filme, do seu primeiro filme, “Fallen”. Achei bastante inovador e intenso. Tenho a informação de que foi o seu primeiro filme, correto?
G YANG: Sim. “Fallen” é o meu primeiro trabalho, tanto como coprodutora, como atriz principal.
C7A: Gostava, agora, após a estreia do filme, de saber quais são as principais influências e/ou o que considera importante na sua aprendizagem como atriz ou produtora.
G YANG: Não se colocando a questão de género, Brad Pitt, Charlize Theron e Jodie Foster sempre foram uma grande influência para mim. Considero que todos eles estão a quebrar as fronteiras de atores, diretores, produtores e acho que isso é necessário atualmente. Eu quero fazer um bom filme como atriz, produtora e realizadora.
Jungsub Lee, o realizador, não é somente um realizador de enorme prestigio no que toca ao cinema asiático e na realização de filmes, mas é também um grande nome na produção e escrita de filmes. Eu própria ainda estou a aprender sobre a sua filosofia e técnicas em relação ao cinema.
Além disso, também estou a desenvolver a minha ética de trabalho no que toca à produção de filmes, bem como a minha atitude como atriz, para poder perspetivar o que está para além do argumento. Nós (produtores, atores, etc) devemos sempre ter em mente que é necessário romper barreiras e fronteiras entre atores e equipa de produção e compartilhar a mesma filosofia de modo a fazer filmes sem pretensiosismos.
C7A: Acha que o reconhecimento recente feito ao realizador Bong Joon-ho irá potenciar novos caminhos, ou abrirá novas portas para jovens diretores e produtores sul-coreanos?
G YANG: Desde que Bong Joon-ho foi galardoado com o Óscar, este ano, acho que muitos espectadores estrangeiros passaram a interessar-se mais por filmes coreanos. Acho que é uma oportunidade para grandes filmes coreanos se expandirem pelo mundo. É uma ótima sensação, uma vez que toda a equipa de “Fallen” terá agora maiores chances na sua exibição por outros países.
C7A: Bong Joon-ho disse uma frase que considero muito interessante: “Assim que se supera a primeira barreira de legendas, serão apresentados muitos novos filmes maravilhosos”. Acha que a língua é ainda esta barreira que impede espectadores de chegarem até outros filmes?
G YANG: Não acho que a língua é uma barreira. No cinema mudo, Charlie Chaplin impressionou o espectador sem qualquer linguagem ou som. Portanto, acho que o idioma não é o problema. Acho que o discurso de Boon Joon-ho enfatiza a “atitude certa” ao poder sentir, e permitir que sintamos, uma cultura diversificada. O povo coreano superou essa “barreira” ao absorver o filme e a cultura dos cineastas de todo o mundo diariamente com otimismo.
C7A: É a sua primeira vez no Fantasporto, e em Portugal, o que é que estar aqui representa para si, cultural e profissionalmente, e a nível pessoal?
G YANG: Acho que o Fantasporto gosta de jóias escondidas, especialmente de filmes asiáticos, e transporta-os para os restantes países europeus e para as américas. A nossa experiência no Fantasporto foi humana, e acho que é aquilo que podemos considerar um verdadeiro festival para cineastas. Não havia discriminação social e todos nós estávamos unidos pelo amor ao cinema. Tivemos momentos agradáveis no Fantasporto, um deles prende-se ao facto de nos ter sido atribuído o Prémio Menção Honrosa pelo júri do Fantasporto.
C7A: Agora, falando do filme “Fallen”. Qual foi o objetivo de tornar a personagem Beak Jokyung, a personagem interpretada por si, numa personagem tão silenciosa?
G YANG: Há, de facto, uma “pista” no diálogo feito pela pessoa imaginária quando a personagem Baek Jokyung foi raptada: “Dentro da minha cabeça, outras pessoas pensam e falam sempre em meu nome”. Isto reflete o pensamento de algumas mulheres modernas, especialmente mulheres asiáticas, como esta personagem. Mulheres que estão presas a determinadas estruturas sociais, sem adquirirem autoconsciência. Para que as mulheres asiáticas sejam, portanto, socialmente bem-sucedidas, elas devem sempre “pensar e contar os seus pensamentos a outros”. Então, os diálogos entre Baek Jokyung e o seu alter ego são uma metáfora da superação de toda essa crise. Além disso, a fuga da personagem simboliza o facto dela não viver mais dentro do preconceito, ou ser estigmatizada novamente pela sociedade. Ela expressa a sua esperança através da telepatia sinalizada para o futuro, o futuro em que ela deseja viver em harmonia. Os sinais telepáticos de Baek Jokyung, o seu primeiro sorriso de esperança, e ao falar através das suas próprias palavras, foi fulcral na realização e atuação. “Fallen” é um filme que representa mulheres fortes e independentes que não vivem dentro de normas sociais.
C7A: Centrando-nos ainda na sua personagem, Baek Jokyung, que desafios encontrou ao entrar na pele de uma jovem raptada, na tentativa de fugir ao estigma imposto pela sociedade?
G YANG: Este filme foi construído minuciosamente sobre a perspetiva da mulher. Superando o estigma de uma mulher presa, era esse o tema do filme, e eu queria precisamente compartilhar essa metáfora com outras mulheres, especialmente mulheres asiáticas. Eu tive imensas conversas com o realizador e concluímos que não devíamos vitimizar a mulher, fazê-la esconder os seus verdadeiros sentimentos, nem permanecer em silêncio ou ser julgada pelo chamado sex appeal.
C7A: No que toca a filmes de suspense, qual é o componente, tecnicamente falando, que causa mais impacto ao espectador?
G YANG: Não achamos necessariamente que o fator técnico afete a atenção de um público. Eu acho que a tecnologia funciona mais como um dispositivo que ajuda na compreensão da história que transmitimos ao público. Há grandes filmes foram feitos em épocas em que não existia quaisquer avanços tecnológicos. Acho que a tecnologia existe para ajudar na conceção do filme, não para estar à frente do filme. Jungsub Lee pensou profundamente em cenas e deixas e nós focámo-nos apenas na criação de cenas mais apropriadas para determinado momento.
C7A: Depois de ver “Fallen”, fiquei realmente curiosa para saber se está envolvida em algum outro projeto para um futuro próximo.
G YANG: Atualmente estou a trabalhar como coprodutora e atriz principal de “AI Her”. Semelhante à série “Black Mirror” da Netflix, é uma série de ficção científica com uma história sombria de desejos humanos e tecnologia avançada.
“AI Her” será uma história poderosa sobre uma heroína feminina que luta contra a injustiça em tempos de avançada tecnologia de IA, num mundo de proibição. A 31 de março, o primeiro episódio será lançado no YouTube pela primeira vez. E nós agradecemos antecipadamente por todo o interesse e apoio.