Durante uma semana, entre os dias 24 e 30 de Abril de 2025, o cinema europeu fará morada em terras brasileiras. Chega o 1.º Festival de Cinema Europeu Imovision, com projecções que atravessarão cidades como Niterói, São Paulo, Brasília e Salvador, levando consigo histórias que não conhecem fronteiras e olhares que desafiam o tempo.
Mais do que uma mostra, trata-se de um gesto de aproximação: entre continentes, entre públicos, entre modos de ver o mundo. Sessões especiais com debates, trocas e presenças – não apenas nas telas, mas também na carne e na palavra.
Estarão cá nomes que são rostos da nova geração de autores europeus: Tom Tykwer, da Alemanha (“A Luz”); os franceses Audrey Diwan (“Emmanuelle”), Frédéric Farrucci (“O Último Moicano”) e Morgan Simon (“Entre Nós, o Amor”); da Grécia, Alexandros Avranas e a actriz Eleni Roussinou, com o inquietante “Síndrome da Apatia”; e, da Suíça, Georges Gachot, que nos traz “Misty – A História de Erroll Garner”.
A presença da delegação europeia marcará também os dois momentos inaugurais do festival: o primeiro em Niterói, a 23 de Abril, e o segundo em São Paulo, a 25. Serão noites de encontro, onde se cruzam linguagens, culturas e sensibilidades.
Este festival é, no fundo, um convite: para escutar o que se filma noutros cantos do mundo, para reconhecer a humanidade que nos une e, sobretudo, para celebrar o cinema como lugar de descoberta e partilha.
O festival
O festival apresentará 14 longas-metragens inéditos vindos de geografias diversas — da Alemanha à Ucrânia, passando pela França, Grécia, Islândia, Itália, Noruega e Suíça. Obras que atravessaram os circuitos mais prestigiados do cinema mundial e que agora se revelam ao olhar do público brasileiro.
Entre os filmes que compõem a selecção oficial, “Dreams” impõe-se como uma das obras mais arrebatadoras desta edição. Vencedor do Urso de Ouro na Berlinale 2025, o mais recente trabalho do norueguês Dag Johan Haugerud mergulha com tato e intensidade na história de uma jovem de 17 anos que se apaixona pela sua professora. A partir deste gesto íntimo e inesperado, o realizador constrói um retrato enternecedor das relações entre três gerações de mulheres — neta, mãe e avó — confrontadas com o amor, o desejo e as fronteiras do entendimento.
Após “Sex” e “Love”, o longa encerra a trilogia que se passa em Oslo. As duas primeiras obras foram apresentadas, respectivamente, nos festivais de Berlim e Veneza, projectando Haugerud no circuito internacional.
Também em destaque, “Emmanuelle”, sob o olhar ousado da realizadora francesa Audrey Diwan, propõe uma releitura do icónico filme erótico de 1974, assinado pelo seu conterrâneo Just Jaeckin, reinventando a personagem-título à luz das inquietações contemporâneas em torno do corpo, do prazer e da liberdade feminina.
Seccção
Para além de “Dreams”, representante da Noruega, e “Emmanuelle”, da França, o Festival de Cinema Europeu Imovision oferece uma selecção que atravessa geografias, géneros e imaginários.
Entre os destaques, surge “A Luz”, novo trabalho do aclamado realizador alemão Tom Tykwer, que regressa ao grande ecrã com a sua linguagem visual singular. Após a estreia mundial na Berlinale 2025, o filme faz a sua segunda paragem em solo brasileiro. A Alemanha apresenta também “A Arte do Caos”, um thriller sombrio realizado por Thomas Arslan e seleccionado para a secção Panorama da Berlinale.
Da Grécia, chega “Síndrome da Apatia”, de Alexandros Avranas, um olhar cortante sobre os afectos e a indiferença, vencedor do Prémio Interfilm em Veneza.
Itália, por sua vez, traz-nos duas propostas contrastantes: “Ópera! – Canção para um Eclipse”, uma reimaginação do mito de Orfeu e Eurídice envolta em requinte visual, com figurinos da casa Dolce & Gabbana e um elenco onde brilham Rossy de Palma e Vincent Cassel; e “Em Qualquer Lugar, a Qualquer Hora”, de Milad Tangshir, um drama de cunho social que presta homenagem ao neorrealismo italiano, evocando o espírito de “Ladrões de Bicicletas” (1948), clássico de Vittorio De Sica.
A França surge com força renovada. Em “Monsieur Aznavour”, Tahar Rahim dá corpo ao lendário cantor num retrato biográfico assinado por Mehdi Idir e Grand Corps Malade. Já “Entre Nós, o Amor”, de Morgan Simon, oferece um retrato íntimo dos laços familiares, com Valeria Bruni-Tedeschi e Félix Lefebvre nos papéis principais. Também francês, “Brincando com Fogo”, das irmãs Delphine e Muriel Coulin, traz consigo a presença magnética de Vincent Lindon, que arrecadou o prémio de Melhor Actor em Veneza.
Da Suíça, “Misty – A História de Erroll Garner” presta homenagem à música e à memória, pelas mãos de Georges Gachot.
O cinema ucraniano marca presença com “Você É o Universo”, de Pavlo Ostrikov — uma fábula melancólica sobre o amor num tempo terminal. Já a Islândia intenta “Quando a Luz Arrebenta”, de Rúnar Rúnarsson, um delicado estudo sobre o luto, revelado em Cannes.
A encerrar a programação, “O Último Moicano”, do francês Frédéric Farrucci, enreda resistência e suspense, com Alexis Manenti a liderar o elenco desta narrativa tensa e actual.