Na sua 51ª edição, Gramado escolheu um caminho inovador ao conceder o Troféu Oscarito a duas mulheres de importância inestimável na história do audiovisual brasileiro: as atrizes Laura Cardoso e Léa Garcia.
Esta será a primeira vez que essa honraria será concedida a duas pessoas. “É impossível olhar para a história do audiovisual brasileiro e não pensar nessas duas mulheres. Poder honrar essas lendas da nossa cultura com o nosso prémio mais antigo, em uma única edição do Festival, é mais do que um orgulho para nós”, afirma Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, a autarquia municipal responsável pelos eventos da cidade.
Laura Cardoso é uma das atrizes mais premiadas do Brasil e a que mais atuou em telenovelas, acumulando mais de oitenta trabalhos na televisão. Ela recebeu diversos prémios, incluindo três Grande Otelo, quatro Prêmios APCA, dois Troféus Imprensa e dois Prémios Shell. Em 2002, foi laureada com o Troféu Mário Lago pelo conjunto da obra e, em 2006, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural.
Com 95 anos de idade e mais de sete décadas dedicadas ao ofício, Cardoso foi pioneira na televisão brasileira, estreando em 1952 na extinta TV Tupi. Ao longo dos anos, participou de inúmeras produções, como Fera Radical, Rainha da Sucata e Mulheres de Areia. Nesta última, contracenou com Glória Pires, que foi homenageada com o Troféu Oscarito durante o 41º Festival de Gramado. A atriz afirma que “Laura Cardoso é um exemplo para todos os artistas brasileiros por seu legado. Eu a amo, admiro e respeito”.
Seus trabalhos mais recentes no cinema foram no curta “Jadzia” e no longa “De Perto Ela não é Normal”, ambos de 2020. Engana-se quem pensa que sua idade avançada a faça pensar em se aposentar. “Eu não gosto de pensar em parar, quero continuar trabalhando enquanto Deus permitir. Adoro trabalhar. Adoro fazer cinema. É verdadeiramente a sétima arte, eu gostaria de ter feito mais”, diz.
Sobre receber o Troféu Oscarito, Laura comenta que está emocionada com essa honraria. “Isso representa o reconhecimento do público, é um prêmio importante em minha carreira. Gramado é uma cidade linda e, no Brasil, é o ponto de encontro do cinema. Minha vontade é levar toda a minha família. Se tudo der certo, eles com certeza irão”, diz.
Léa Garcia tem uma história antiga com Gramado, conquistando quatro Kikitos com os filmes “Filhas do Vento”, “Hoje tem Ragu” e “Acalanto”. Com 90 anos completos, a veterana possui mais de 100 produções em seu currículo, incluindo cinema, teatro e televisão. Com uma trajetória célebre nas artes, ela foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1957 por sua atuação no filme “Orfeu Negro”, que em 1960 ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro, representando a França.
Atuando em produções para televisão, cinema e teatro, Léa construiu uma carreira com papéis marcantes em produções como Selva de Pedra, Escrava Isaura, Xica da Silva e O Clone. Ela foi fundamental na quebra das barreiras dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras. Assim, tornou-se uma referência para jovens atores e é admirada pela qualidade de suas atuações.
“Quando eu estava começando no mundo das artes, ela já brilhava nas telonas. Léa Garcia é uma inspiração. Doce, gentil, talentosa, uma estrela, uma pérola. Precisamos homenageá-la todos os dias”, afirma a atriz Zezé Motta, que também recebeu o Troféu Oscarito em 2007.
Mesmo com suas noventa décadas de vida, Léa continua ativa nas artes cênicas. Em 2022, por exemplo, ela atuou nos filmes “Barba, Cabelo e Bigode”, “Pacificado” e “O Pai da Rita”, trabalhando novamente com o renomado realizador Joel Zito Araújo neste último.
Laura Cardoso e Léa Garcia se juntam a Alice Braga, que será homenageada com o Kikito de Cristal.