O produtor Harvey Weinstein foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas norte-americana, decisão que surge depois do Conselho de Governadores da Academia ter reunido de emergência este sábado, depois de este ter sido acusado de assédio e agressão sexual.
Esta é uma decisão sem precedentes e invulgar, mesmo não sendo a primeira vez que a Academia expulsa um membro. A Academia escreveu um comunicado à imprensa que decidiu “Expulsar imediatamente Harvey Weinstein. (…) Fazemo-lo para nos separarmos de alguém que não merece o respeito dos seus colegas mas também para enviar uma mensagem de que a era de ignorância intencional e cumplicidade vergonhosa em comportamentos sexuais predatórios e assédio no local de trabalho na nossa indústria chegou ao fim.”
O comportamento de Weinstein foi condenado por mais de dois terços dos membros da Academia (composta por mais de oito mil membros), o que demonstra que as regras desta instituição estão cada vez mais apertadas para comportamentos desta natureza. Mesmo assim, a Academia mantém como membros Bill Cosby e Roman Polanski, ambos envolvidos também em escândalos de assédio e violação sexual.
Harvey Weinstein, um dos produtores mais conhecidos e influentes de Hollywood, foi também despedido da sua própria empresa de cinema independente que fundou, The Weinstein Company. Weinstein vê deste modo a sua carreira desabar por completo, depois de décadas de glória como um dos mais importantes nomes do cinema independente que conquistou 341 nomeações aos Óscares, dos quais 81 foi premiado com a estatueta dourada. Harvey produziu colaborou com algumas das mais importantes produções cinematográficas, como por exemplo: “Pulp Fiction” (1994), “O Paciente Inglês” (1996), “O Bom Rebelde” (1997), “Malèna” (2000), “Chocolate” (2000), a trilogia de “O Senhor dos Anéis” (2001-2003), “Chicago” (2002), “O Aviador” (2004), “O Leitor” (2008), “O Discurso do Rei” (2010) e “Django Libertado” (2012). O produtor venceu o Óscar de Melhor Filme com “A Paixão de Shakespeare” (1998) e recebeu uma nomeação na mesma categoria com o filme “Gangs de Nova Iorque” (2002).
Ao fim de uma semana de escândalos, de declarações e reacções a condenar os crimes do produtor, por parte de grandes nomes do cinema como Leonardo DiCaprio, Colin Firth, Meryl Streep, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett, George Clooney, Kate Winslet, Brie Larson, Glenn Close e Judi Dench, foi a vez do realizador Quentin Tarantino. Este, amigo de longa data do produtor, quebrou o silêncio e comunicou o seguinte: “Durante a última semana tenho estado atordoado e de coração partido pelas revelações que vieram a público sobre o meu amigo de 25 anos Harvey Weinstein. Preciso de mais alguns dias para lidar com a minha dor, emoções, raiva e memórias e então falarei publicamente sobre isso”. Weinstein produziu todos os filmes de Tarantino.
A carreira de Harvey Weinstein foi abalada com a publicação de um artigo do jornal The New York Times, no dia 5 de outubro, uma investigação que revela várias acusações de assédio sexual contra Weinstein ao longo de décadas. São mais de 30 mulheres que denunciam o produtor e distribuidor norte-americano, das quais se destacam Asia Argento, Judith Godrèche Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie. O seu porta-voz comunicou que o produtor nega todas as acusações, apesar de admitir ter cometido erros.
É a queda de um dos grandes magnatas de Hollywood, que apesar da longa e bem-sucedida carreira na indústria cinematográfica, deve ser julgado pelos seus crimes.