Ao redor do mundo, os cinemas têm enfrentado dificuldades nos últimos anos e a pandemia foi um verdadeiro golpe mortal para o setor que já estava em uma posição precária.
Nesse sentido, em janeiro de 2020, o Deadline publicou um artigo sobre como 2019 foi um dos piores anos para compra de ingressos desde 1995. Embora os cinemas tenham tentado compensar essas quedas aumentando os preços dos ingressos e das concessões, não foi o suficiente para manter o negócio a flutuar.
Recentemente, as ações da AMC Entertainment subiram 21% em meio a rumores de que a Amazon está interessada em comprar a rede de cinemas. Jeff Bezos enviou seus conselheiros de investimento e principais chefes de entretenimento para explorar planos de aquisição da AMC, segundo fontes familiarizadas com as discussões. As especulações surgiram após a publicação de um novo relatório no The Intersect, editado e apurado pelo jornalista Joe Bel Bruno.
Contudo, de acordo com Hermina Paull, do site The Deep Dive, os rumores sobre a possível aquisição da AMC pela Amazon não são novos. Na verdade, em 2020, a Forbes dos EUA publicou um artigo especulando que a empresa de Jeff Bezos se tornaria a maior rede de cinemas do mundo. No entanto, a previsão do artigo não se concretizou, possivelmente devido ao Decreto Supremo, que em 1948 proibiu os estúdios de cinema de adquirir salas de cinema de acordo com as leis antitruste.
Apesar disso, em 2019, durante uma revisão de rotina de decretos, o Departamento de Justiça decidiu encerrar o Caso Paramount, aplicando um período de caducidade de dois anos ao decreto, pois era “improvável que os réus restantes possam restabelecer seu cartel”. Esse período de rescisão de dois anos começou em 7 de agosto de 2020 e agora não é mais aplicável, o que abre caminho para a Amazon potencialmente adquirir a AMC, se assim o desejar.
No tocante ao relatório recente, após análise, o jornalista Jack Denton, da Barrons, relatou que, segundo várias fontes anônimas citadas no documento de Bel Bruno, a aquisição da AMC traria uma possível salvação para a empresa, que está endividada após a pandemia de Covid-19, além de fornecer à Amazon uma nova plataforma física para comercializar seus produtos Prime, serviços de vendas cruzadas e coletar dados.
Entretanto, na opinião do jornalista, a Amazon não deve adquirir a AMC, especialmente por causa dos investidores movidos por memes que colocaram suas ações entre as mais voláteis do mercado. A questão não se relaciona diretamente com a reputação das ações, mas sim com a falta de sinergia com os negócios da Amazon, já que o grupo não possui um histórico estelar com locais físicos.
Ilustrando melhor, em números, a AMC, atualmente, opera cerca de 600 cinemas em todo o mundo, mas a empresa tem enfrentado dificuldades desde que se tornou um dos chamados “estoques de memes” nos últimos anos. Há um ano, as ações da AMC estavam sendo negociadas em torno de US$ 34 por ação, mas hoje foram negociadas por US$ 4,50. Embora tenha subido para uma alta de US$ 5,39 antes de cair para quase US$ 5.
Como levantado por Denton, a AMC tem uma enorme dívida e valoração inflacionada, o que torna improvável que a aquisição seja concluída. Nesse quadro, Alicia Reese, a analista da importante empresa de investimentos Wedbush, afirmou em uma nota na terça-feira (28) que o ponto principal é que a Amazon não tem interesse em ganhar dinheiro no espaço de exibição teatral. Segundo ela, se a ideia é adquirir um cinema físico para competir por prémios em Hollywood com a produção Prime, a escolha mais acertada seria a Cineworld (CINE), que entrou com pedido de proteção contra falência no ano passado.
Reese ainda acrescentou que a “taxa atual” antes da pandemia era de US$ 250.000 por tela, mas com a falência da Cineworld, a Amazon pode conseguir telas por US$ 200.000 e os credores podem aceitar essa oferta. Dessa forma, os consultores de investimentos de Jeff Bezos não precisariam sugerir que a Amazon comprasse a AMC por US$ 8 bilhões.
No mais, enquanto não há uma declaração firme da Amazon sobre a aquisição da AMC, é prematuro planejar qualquer coisa no futuro.
Enfim, de qualquer forma, é claro que os cinemas precisam se reinventar para se manterem relevantes em uma era pós-pandêmica, em que o streaming e as configurações aprimoradas de home theater mantêm muitas pessoas em suas casas. É importante que os cinemas prosperem nos próximos anos, seja de propriedade independente ou de uma grande rede. Afinal, não queremos que os cinemas morram.