A Leopardo Filmes recupera para as salas de cinema portuguesas duas singulares obras do cineasta italiano Francesco Rosi, em cópia digital restaurada em 4K: “Salvatore Giuliano” (1962) e “As Mãos Sobre a Cidade” (1963). Os filmes terão estreia nacional a 26 de outubro.
“Poucos cineastas, de entre os mais envolvidos a nível sociopolítico, desenvolveram a sua obra em tão estreito compromisso com a verdade e assumiram a missão de questionar os poderes que ditam as injustiças do status quo, da maneira que Francesco Rosi o fez. Defendia eloquentemente a ideia do ‘cinema como testemunha’ (cinema come testimonianza), afirmando a sua função principal ‘de reportar e testemunhar a realidade e como medium de contar histórias através dos quais os filhos possam compreender melhor os pais e aprender a julgar estas narrativas no contexto da História’.”
“Salvatore Giuliano” (1962), a terceira longa-metragem assinada por Rosi, é um filme que estabelece a reputação do realizador e garante o seu lugar na história do cinema. Considerada uma obra inovadora do cinema político, o filme expõe as relações entre a Máfia, o poder político local e o povo.
“A obra tem o título do seu sujeito – um notório bandido e líder de um grupo guerrilheiro que, na década de 50, tentou libertar a Sicília do domínio italiano – mas, apesar disso, foge da forma tradicional do biopic de maneira fundamental. Com a personagem titular retratada, na maior parte do filme, in absentia – a sua mais memorável aparição é como cadáver –, o foco do filme cai sobre as forças sociopolíticas, de ambos os lados da lei, que permitiram a sua sangrenta proeminência na história da Itália do pós-guerra.”
“As Mãos Sobre a Cidade” (1963), escrito e realizado por Francesco Rosi, protagonizado pelo ator Rod Steiger, é uma magnífica obra do cinema italiano sobre a especulação imobiliária e a corrupção política em Nápoles. Apesar de ser uma realidade dos anos 1960, em Itália, a crise da habitação retratada permanece muito atual e pertinente para a realidade portuguesa.
“Depois da queda de um edifício residencial que faz vítimas, um poderoso magnata imobiliário e vereador é alvo de investigação por tráfico de influências, num negócio massivo de construção com que havia enriquecido. Rosi foca-se agora nas poderosas forças corruptas que estrangulam a sua Nápoles natal (que filma com especial esmero), durante o período da “reconstrução” que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Sem deixar de apostar em qualidades fortes de entretenimento capazes de seduzir o grande público – Rod Steiger, nesta altura já um peso pesado de Hollywood, encarna a personagem principal –, o cineasta desenvolve uma análise fílmica, quase clínica e plenamente informativa, de um inquérito criminal capaz de abalar a política partenopeia.”
Francesco Rosi (1922-2015) assinou várias obras de conteúdo social e político, destacando-se filme como “Fúria de ambições” (1958), “Os Traficantes” (1959) e “Cadáveres Incómodos” (1976).