Sete anos depois do premiado “Ninguém Sabe” (2004), o conceituado realizador japonês, Hirokazu Koreeda, regressa ao tema infância com o belo e delicado “O Meu Maior Desejo”. Um tema que Koreeda aprecia retratar com o seu visual e estilo simplista e natural.
Hirokazu Koreeda, que também escreveu o argumento, conta-nos a história de dois irmãos, que vivem separados depois do divórico dos pais (o mais velho vive com a mãe e os avós e o mais novo com o pai), que sonham em voltar a juntar a família novamente. Para que tal aconteça, Koichi, o mais velho, cria um plano que implica reencontrar-se com Ryu, o mais novo, no ponto em que dois TGV’s se cruzam ao mesmo tempo, e peçam um desejo para que este se torne realidade.
Este é o mote de partida para uma viagem que irá juntar um grupo de sete crianças à procura dos seus sonhos e dos seus mundos. Como qualquer criança, quase todos os seus sonhos são idílicos e que não se concretizam apenas por pedirem muito. Uns pedem para correr mais depressa, outras querem ser atrizes, outros querem desenhar melhor ou que o seu cão ressuscite; e outros querem que voltar a ter uma família reunida e unida. Nenhuma criança sabe a que mundo pertence, mas no final daquela viagem passam a sabê-lo. É essa a grande lição que cada um tira no final e perda da inocência, ao compreenderem que há coisas que não se devem pedir, porque são simplesmente impossíveis.
O maior desejo de Koichi era que o vulcão, que liberta constantemente cinzas em Kagoshima, fize-se “bum!” (explodisse), podendo assim fugir para junto do seu irmão mais novo, estando os quatro juntos em família. Mas Koici não se lembra que tal acontecimento poderia levar à morte milhões de pessoas. Este é o limite da fantasia e da realidade, que Koichi atinge no final da viagem.
O realizador capta de forma simples e bela as hostilidades entre o velho mundo e o novo mundo da sociedade japonesa contemporanea. Enquanto que no velho mundo se valorizavam os valores de uma família unida, no novo mundo o divórico é algo bastante frequente e aceite pela sociedade; assim como no velho mundo se valoriza a tradição de certos costumes e receitas de bolos antigos, no novo mundo essas receitas são melhoradas ou adaptadas aos tempos atuais.
Peca em alguns momentos pela banda sonora, que é simples e banal para este tipo de filmes, tornando as cenas mais infantis do que o esperado.
“O Meu Maior Desejo” não é apenas mais um filme que atribui a culpa aos adultos, é também um filme sensível que prova que seja qual for a idade que tivermos, seremos sempre crianças e teremos sempre sonhos. Pois todos tem um sonho, onde os mais novos desejam ver cumprido e onde os mais velhos desejam que se tivesse cumprido.
Esta estreia acaba por ser uma boa surpresa para o panorama de estreias do mês de agosto e provavelmente para o restante ano de 2012. Um belo e delicado filme sobre o fim da infância.
Realização: Hirokazu Koreeda
Argumento: Hirokazu Koreeda
Elenco: Koki Maeda, Oshiro Maeda, Ryôga Hayashi, Cara Uchida, Kanna Hashimoto, Rento Isobe, Hoshinosuke Yoshinaga
Japão/2011 – Drama
Sinopse: Koichi tem doze anos e uma curiosidade imensa acerca do mundo. Vive com a mãe e os avós maternos em Kagoshima. O seu irmão mais novo vive em Hakata, onde o pai de ambos é guitarrista numa banda de rock. Koichi é naturalmente alegre mas intimamente sofre com o divórcio dos pais. O que ele deseja mais do que tudo é a reunião da família. Ao saber de uma linha férrea que vai ligar Kagoshima e Hakata, Koichi começa a acreditar num milagre que irá acontecer no preciso momento em que dois primeiros comboios que circulam em sentidos contrários se cruzarem.